Freud, ao estabelecer a comparação entre os
processos do luto e da melancolia, toma a perda como elemento central. A
diferença entre os dois processos seria o destino dessa perda. No luto, ela é
verbalizada e o enlutado sabe perfeitamente o que perdeu. O trabalho do luto
visa elaborar essa perda. Na melancolia temos, segundo Freud, a certeza de uma
perda, só que o melancólico não sabe o que perdeu. Ao mesmo tempo em que a
perda é evidente, ela é inteiramente desconhecida. Freud avança a hipótese de
que o melancólico não perdeu um objeto, mas perdeu-se no objeto.
O paciente depressivo se refere a uma perda de si
mesmo. Em seu discurso ele diz que já foi alegre, espontâneo, entusiasmado ou
orgulhoso de si mesmo, mas isso foi perdido em algum momento de sua vida.
Nesses relatos feitos durante a análise é possível remeter esta perda de si à
questão da identidade e dos ideais. Trata-se da perda de uma imagem de si mesmo
que é trazida ao falar deste passado, um passado em que ainda não havia cabelos
brancos, os dentes estavam intactos e o sujeito não tinha vergonha de si ou
medo de ser comparado com uma pessoa mais jovem e mais capaz.
A narrativa remete a uma imagem irremediavelmente
perdida e o paciente muitas vezes se pergunta para onde foi a sua vida, a sua
vitalidade e sua alegria de viver, numa perda que é impossível de ser
resgatada. Estes elementos teóricos exemplificam situações muito comuns
que foram escolhidas em função dos problemas encontrados no atendimento destes
sujeitos. O trabalho da Psicanálise é ajudar o paciente a fazer o resgate de
sua auto-estima e permitir que ele possa entender a circunstância em que vive,
passando a contemplar novos horizontes a partir de uma visão mais ampla de si
mesmo.
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