INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

terça-feira, 30 de agosto de 2016

A construção do limite na educação infantil

SPOB-POLO\RS
BREVE - CURSO LIVRE DE PSICANÁLISE INFANTIL

A crise na educação das crianças é uma problemática enfrentada pela família e pela escola na
contemporaneidade. A lógica comportamentalista que muito orientou no trabalho com os limites a partir de punições e reforços, já há tempo revela sinais de fracasso.
A questão dos limites na Educação Infantil é uma problemática enfrentada pela família e pela escola na contemporaneidade. A lógica comportamentalista, que muito orientou no trabalho com os limites a partir de punições e reforços, já há tempo revela sinais de desgaste. A construção de limites, pensada  não como um produto, mas como uma constante produção puramente dialógica é um fenômeno sócio-histórico, produzido por sujeitos que se afetam por seu contexto. Pensar o trabalho de construção de limites na Educação Infantil é possibilitar à criança o exercício da autonomia para se expressar, e de sensibilidade e respeito ao outro para acolher diferentes opiniões e sentimentos. Pensa-se em uma construção de limites que permita o desenvolvimento da alteridade na convivência  coletiva, com acolhimento das diferentes singularidades.
Entre as disposições que a criança precisa possuir a fim de conseguir se apropriar dos valores da sua cultura  - e muito precocemente neste caso – está a noção de limites bem como uma noção relacionada, que é a de disciplina.
Como se pode manter a disciplina em uma classe na qual as crianças são livres para se locomover à vontade?, pergunta  Maria Montessori (1972), a grande pedagoga italiana, ao comentar suas idéias, revolucionárias para a época, acerca de boa pedagogia infantil, e explica que obviamente tem um conceito diferente de disciplina que pretende ser ativa, pois não crê numa disciplina na qual a criança “é obrigada a ficar tão quieta quanto um mudo e tão imóvel quanto um paralítico.” (p.49). Para a autora, o indivíduo está disciplinado quando se torna senhor de si mesmo e, quando, em conseqüência consegue controlar-se sempre que deve seguir uma regra na vida.
Uma professora ou um professor, assim, precisaria possuir uma técnica especial para ser capaz de guiar a criança por esse caminho de disciplina que deverá trilhar toda a vida à medida que se aperfeiçoa constantemente nela.  A liberdade da criança deveria ter como limite os interesses do grupo a que pertence.
 A criança deveria ser impedida de fazer algo que ofenda, magoe outra pessoa, que seja indelicado ou inadequado.  Tudo o mais, qualquer ação que seja útil de qualquer modo, pode e deve ser expressa.
Essa concepção de disciplina ou limites, no entanto, baseada em um paradigma estímulo resposta, tende a cair em descrédito atualmente, pois as pesquisas têm mostrado a necessidade de levar a criança a compreender a relação entre os limites e os princípios morais.
A crise na educação das crianças é uma problemática enfrentada pela família e pela escola na contemporaneidade. A lógica comportamentalista que muito orientou no trabalho com os limites a partir de punições e reforços, já há tempo revela sinais de fracasso. Seja o fracasso de adolescentes/jovens/adultos bem-sucedidos (na lógica de produção), mas que enfrentam sérias dificuldades interpessoais no que se refere aos limites, seja seu fracasso familiar e também profissional.
Se concebermos a Educação Infantil como o espaço de alfabetização interpessoal, sabemos que é esse espaço fecundo para lançar as bases da cidadania. Assim, permitir à criança responsabilizar-se pela construção de formas de convivência com seus colegas é concebê-la como sujeito que pensa, que se afeta pelo outro e que é capaz de discutir decisões, desenvolvendo o sentido ético de escolher o melhor para todos quando decide o que é melhor para si.   
"Somos as primeiras gerações de pais decididos a não repetir com os filhos os erros de nossos progenitores. E com o esforço de  abolir os abusos do passado somos os pais mais dedicados e compreensivos, mas por outro lado, os mais bobos e inseguros que já houve na história. O grave é que estamos lidando com crianças mais"espertas", ousadas, agressivas e poderosas do que nunca.
 Parece que, em nossa tentativa de sermos os pais que queríamos ter, passamos de um extremo ao outro. Assim, somos a última geração de filhos que obedeceram a seus pais e a primeira geração de pais que obedecem a seus filhos.
 Os últimos que tivemos medo dos pais e os primeiros que tememos os filhos. Os últimos que cresceram sob o mando dos pais e os primeiros que vivem sob o jugo dos filhos. E o que é pior, os últimos que respeitamos nossos pais e os primeiros que aceitamos que nossos filhos nos faltem com o respeito.
E, além disso, os patrocinem no que necessitarem para tal fim.
Quer dizer: os papéis se inverteram, e agora são os pais quem tem que agradar a seus filhos para ganhá-los e não o inverso, como no passado.Isto explica o esforço que fazem hoje tantos pais e mães para ser os melhores amigos e "tudo dar" a seus filhos.
Dizem que os extremos se atraem. Se o autoritarismo do passado encheu os filhos de medo de seus pais, a debilidade do presente os preenche de medo e menosprezo ao nos ver tão débeis e perdidos como eles.
 Os filhos precisam perceber que, durante a infância, estamos à frente de suas vidas, como líderes capazes de sujeitá-los quando não os podemos conter e de guiá-los enquanto não sabem para onde vão.
Se o autoritarismo suplanta, o permissível sufoca. Apenas uma atitude firme, respeitosa, lhes permitirá confiar em nossa idoneidade para governar suas vidas enquanto forem menores, porque vamos à frente  liderando-os e não atrás, os carregando e rendidos à sua vontade.
 É assim que evitaremos que as novas gerações se afoguem no  descontrole e tédio no qual está afundando uma sociedade que parece ir à deriva, sem parâmetros nem destino.

Os limites abrigam o indivíduo. Com amor ilimitado e profundo “respeito."