II - OS VALORES DA CRIAÇÃO
Parte II de IV
Castilho s. Sanhudo
O
ser humano é o único ser com capacidade de criar coisas e situações novas. Este
aspecto só é possível porque o homem mantém relações com o mundo. Valores de
criação, portanto, são “frutos da capacidade humana”. A capacidade criativa faz
com que o homem seja insubstituível no mundo.
Frank
chega a dizer que o que torna uma pessoa feliz não é uma determinada profissão,
mas, o modo de exercê-la.
O que interessa não é o que se faz, mas como se faz,
porque uma profissão em si não faz com que uma pessoa seja insubstituível, mas
o que faz uma pessoa ser única no mundo é a forma como ela se dedica a
determinada coisa. (GOMES, 1988, p. 54).
O
homem sente a necessidade de transformar o mundo que vê. Ele pode conseguir
dando um pouco de si para os outros e tentando fazer algo com cada um que se
conscientize de que, também pode fazer algo. O homem não só é responsável por si,
mas deve sentir o mesmo pelo outro, este caminho da criação é caracterizado
pela doação.
Os
valores de criação se manifestam em três vias, o do trabalho, do amor e do
sofrimento.
a)
O Sentido do Trabalho
A
valorização que ocupa em primeiro plano para Viktor Frankl em seus valores de
criação é a do trabalho, chamando de “caráter de algo único” do individuo, na
relação do homem com seu trabalho profissional campo este criadores de valores
(grifo do autor).
Enquanto os valores criadores ou a sua realização
ocupa o primeiro plano da missão da vida, a esfera da sua consumação concreta
costuma coincidir com o trabalho profissional. Em particular o trabalho pode
representar o campo em que o ‘caráter de algo único’ do individuo se relaciona
com a comunidade, recebendo assim o seu sentido e o seu valor. Contudo este
sentido e valor é inerente em cada caso, à realização (realização com que
contribui para a comunidade) e não à profissão concreta como tal. (FRANKL, 1989,
p. 160).
Frankl
ainda salienta que não é a especialização no trabalho que o homem atinge a sua
plenitude e nem o faz feliz, sendo ele o homem o responsável em dar sentido à
profissão que pratica.
Não é, por
conseguinte, um determinado tipo de profissão o que oferece ao homem a
possibilidade de atingir a plenitude. Neste sentido, pode se dizer que nenhuma
profissão faz do homem feliz. E se há muitos principalmente entre os
neuróticos, que afirmam que se teriam realizado plenamente, caso tivessem
escolhido outra profissão, o que se encerra nesta afirmação é uma deturpação do
sentido do trabalho profissional ou a atitude de quem se engana a si mesmo.
Nos casos em que
a profissão concreta não traz consigo nenhuma sensação de plena satisfação, a
culpa é do homem que a exerce, não da profissão. A profissão, em si, não é
ainda suficiente para tornar o homem insubstituível; o que a profissão faz é
simplesmente dar-lhe a oportunidade para vir a sê-lo. (FRANKL, 1989, p. 160)
b)
O Sentido do Amor
O
amor é uma palavra que há muito tempo vem sendo abordada. Frankl colhe um pouco
destas abordagens para dizer quão importante é o amor na busca do sentido da
vida.
Frankl define o amor:
O amor é afinal, a vivência em
que, pouco a pouco, se vive a vida de outro ser humano em todo o seu caráter de
algo único e irrepetível. (Frankl, 1989.p. 171).
O
caminho do amor é um caminho que todo o homem tem que conquistar mediante um
agir, porque só assim realizará seu “caráter de algo único” e irrepetível. Esse
caminho do amor é abordado por Frankl especialmente na comunidade de um Eu e de
um Tu.
O amor é a única
maneira de captar outro ser humano no íntimo da sua personalidade. Ninguém
consegue ter consciência plena essência última do outro ser humano sem amá-lo ,
por amor a pessoa se torna capaz de ver os traços característicos e as feições
essenciais do seu amado; mais ainda não está, mas deveria ser realizado. Além
disso, através do amor a pessoa que ama capacita a pessoa amada a realizar
estas potencialidades. Conscientizando-a do que ela pode ser e do que deveria
ser, aquele que ama faz com que estas potencialidades venham a se realizar. (FRANKL,
2002, p. 100).
No
amor, o amado é essencialmente captado como um ser irrepetível no seu “ser-ai”
e único no seu “ser-assim” concebido como Tu e, enquanto tal, acolhido num Eu.
O amado torna-se insubstituível, realiza-se no Eu o que há de irrepetível e único
do Tu, no valor da pessoa amada.
O
amor abre o espírito ao mundo, na sua plenitude de valores e, ao amar um Tu
experimenta um enriquecimento interior que transcende esse Tu, o horizonte
torna-se mais vasto, ajudando na visão dos valores.
...o homem – por força da qualidade
autotranscendente da realidade humana – basicamente procura expandir-se para
fora de si, seja em direção a um sentido a realizar, seja em direção a um outro
ser humano a quem busca para um encontro de amor. O encontro de amor impede
definitivamente que se veja ou se use o outro ser humano como um simples meio
para fim [...], (FRANKL,1989, p. 74).
c) Sentido do Sofrimento
Neste
terceiro item dos valores de criação, o sentido do sofrimento, é quando não
devemos esquecer que podemos encontrar o sentido da vida quando nos
confrontamos com as nossas adversidades humanas ou mesmo em uma fatalidade.
Não
devemos esquecer nunca que também podemos encontrar sentido na vida quando nos
confrontamos com uma situação sem esperança. Quando enfrentamos uma fatalidade
que não pode ser mudada. Porque o que importa, então é dar testemunho do
potencial especificamente humano no que ele tem de mais elevado, e que consiste
em transformar uma tragédia pessoal num triunfo, em converter nosso sofrimento
numa conquista humana. Quando já não somos capazes de mudar uma situação –
podemos pensar numa doença incurável, como um câncer que não pode mais operar –
somos desafiados a mudar a nós próprios. (FRANKL. 2002, p. 101).
Frankl
nos deixa claro que não é somente pelo sofrimento que encontramos o sentido da vida,
mas no sofrimento em que de algum modo é necessário e inevitável.
É preciso deixar perfeitamente claro, no entanto,
que o sofrimento não é de modo algum necessário para encontrar o sentido.
Insisto apenas que o sentido é possível mesmo a despeito do sofrimento – desde que,
naturalmente, o sofrimento seja inevitável. Se ele fosse evitável, no entanto,
a coisa significativa a fazer seria eliminar a sua causa, fosse ela
psicológica, biológica ou política. Sofrer desnecessariamente é ser masoquista
e não heróico. (FRANKL, 2002, p. 101,102).