INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O HOMEM E OS SEUS VALORES


II - OS VALORES DA CRIAÇÃO
Parte II de IV
Castilho s. Sanhudo
O ser humano é o único ser com capacidade de criar coisas e situações novas. Este aspecto só é possível porque o homem mantém relações com o mundo. Valores de criação, portanto, são “frutos da capacidade humana”. A capacidade criativa faz com que o homem seja insubstituível no mundo.
Frank chega a dizer que o que torna uma pessoa feliz não é uma determinada profissão, mas, o modo de exercê-la.
O que interessa não é o que se faz, mas como se faz, porque uma profissão em si não faz com que uma pessoa seja insubstituível, mas o que faz uma pessoa ser única no mundo é a forma como ela se dedica a determinada coisa. (GOMES, 1988, p. 54).
O homem sente a necessidade de transformar o mundo que vê. Ele pode conseguir dando um pouco de si para os outros e tentando fazer algo com cada um que se conscientize de que, também pode fazer algo. O homem não só é responsável por si, mas deve sentir o mesmo pelo outro, este caminho da criação é caracterizado pela doação.
Os valores de criação se manifestam em três vias, o do trabalho, do amor e do sofrimento.

a) O Sentido do Trabalho
 A valorização que ocupa em primeiro plano para Viktor Frankl em seus valores de criação é a do trabalho, chamando de “caráter de algo único” do individuo, na relação do homem com seu trabalho profissional campo este criadores de valores (grifo do autor).
Enquanto os valores criadores ou a sua realização ocupa o primeiro plano da missão da vida, a esfera da sua consumação concreta costuma coincidir com o trabalho profissional. Em particular o trabalho pode representar o campo em que o ‘caráter de algo único’ do individuo se relaciona com a comunidade, recebendo assim o seu sentido e o seu valor. Contudo este sentido e valor é inerente em cada caso, à realização (realização com que contribui para a comunidade) e não à profissão concreta como tal. (FRANKL, 1989, p. 160).
Frankl ainda salienta que não é a especialização no trabalho que o homem atinge a sua plenitude e nem o faz feliz, sendo ele o homem o responsável em dar sentido à profissão que pratica.
Não é, por conseguinte, um determinado tipo de profissão o que oferece ao homem a possibilidade de atingir a plenitude. Neste sentido, pode se dizer que nenhuma profissão faz do homem feliz. E se há muitos principalmente entre os neuróticos, que afirmam que se teriam realizado plenamente, caso tivessem escolhido outra profissão, o que se encerra nesta afirmação é uma deturpação do sentido do trabalho profissional ou a atitude de quem se engana a si mesmo.
Nos casos em que a profissão concreta não traz consigo nenhuma sensação de plena satisfação, a culpa é do homem que a exerce, não da profissão. A profissão, em si, não é ainda suficiente para tornar o homem insubstituível; o que a profissão faz é simplesmente dar-lhe a oportunidade para vir a sê-lo. (FRANKL, 1989, p. 160)

b) O Sentido do Amor
O amor é uma palavra que há muito tempo vem sendo abordada. Frankl colhe um pouco destas abordagens para dizer quão importante é o amor na busca do sentido da vida.
Frankl define o amor:
O amor é afinal, a vivência em que, pouco a pouco, se vive a vida de outro ser humano em todo o seu caráter de algo único e irrepetível. (Frankl, 1989.p. 171).
O caminho do amor é um caminho que todo o homem tem que conquistar mediante um agir, porque só assim realizará seu “caráter de algo único” e irrepetível. Esse caminho do amor é abordado por Frankl especialmente na comunidade de um Eu e de um Tu.
O amor é a única maneira de captar outro ser humano no íntimo da sua personalidade. Ninguém consegue ter consciência plena essência última do outro ser humano sem amá-lo , por amor a pessoa se torna capaz de ver os traços característicos e as feições essenciais do seu amado; mais ainda não está, mas deveria ser realizado. Além disso, através do amor a pessoa que ama capacita a pessoa amada a realizar estas potencialidades. Conscientizando-a do que ela pode ser e do que deveria ser, aquele que ama faz com que estas potencialidades venham a se realizar. (FRANKL, 2002, p. 100).
No amor, o amado é essencialmente captado como um ser irrepetível no seu “ser-ai” e único no seu “ser-assim” concebido como Tu e, enquanto tal, acolhido num Eu. O amado torna-se insubstituível, realiza-se no Eu o que há de irrepetível e único do Tu, no valor da pessoa amada.
O amor abre o espírito ao mundo, na sua plenitude de valores e, ao amar um Tu experimenta um enriquecimento interior que transcende esse Tu, o horizonte torna-se mais vasto, ajudando na visão dos valores.
...o homem – por força da qualidade autotranscendente da realidade humana – basicamente procura expandir-se para fora de si, seja em direção a um sentido a realizar, seja em direção a um outro ser humano a quem busca para um encontro de amor. O encontro de amor impede definitivamente que se veja ou se use o outro ser humano como um simples meio para fim [...], (FRANKL,1989, p. 74).

c) Sentido do Sofrimento
Neste terceiro item dos valores de criação, o sentido do sofrimento, é quando não devemos esquecer que podemos encontrar o sentido da vida quando nos confrontamos com as nossas adversidades humanas ou mesmo em uma fatalidade.
 Não devemos esquecer nunca que também podemos encontrar sentido na vida quando nos confrontamos com uma situação sem esperança. Quando enfrentamos uma fatalidade que não pode ser mudada. Porque o que importa, então é dar testemunho do potencial especificamente humano no que ele tem de mais elevado, e que consiste em transformar uma tragédia pessoal num triunfo, em converter nosso sofrimento numa conquista humana. Quando já não somos capazes de mudar uma situação – podemos pensar numa doença incurável, como um câncer que não pode mais operar – somos desafiados a mudar a nós próprios. (FRANKL. 2002, p. 101).
Frankl nos deixa claro que não é somente pelo sofrimento que encontramos o sentido da vida, mas no sofrimento em que de algum modo é necessário e inevitável.
É preciso deixar perfeitamente claro, no entanto, que o sofrimento não é de modo algum necessário para encontrar o sentido. Insisto apenas que o sentido é possível mesmo a despeito do sofrimento – desde que, naturalmente, o sofrimento seja inevitável. Se ele fosse evitável, no entanto, a coisa significativa a fazer seria eliminar a sua causa, fosse ela psicológica, biológica ou política. Sofrer desnecessariamente é ser masoquista e não heróico. (FRANKL, 2002, p. 101,102).


terça-feira, 27 de agosto de 2013

O HOMEM E OS SEUS VALORES


Castilho S. Sanhudo
Parte I de IV
É preciso repensar o ser humano como alguém com valores próprios, nos direitos e deveres inalienáveis e sagrados, com um destino de perfeição a cumprir e com tarefas a realizar.
A vida humana pode ser orientada por uma escala de valores que cabe a cada um aceita-la ou não.
“Os valores não podem confundir com os sentidos, eles ajudam a compreender o melhor significado correto de uma situação particular.” (XAUSA, 1988, p. 160).
É na consciência que está a capacidade de intuir o valor e captar o significado de cada situação concreta. Somente o homem é capaz de valorizar objetivos e atitudes, pois apenas ele em toda a natureza tem a consciência de seus atos.
O homem não se limita a existir, mas ao contrário sempre decide qual será sua existência e o que será no minuto seguinte.
Ora, o que permite compreender o valioso da vida, independentemente da estreiteza das suas circunstancias, é precisamente a apreensão de toda a riqueza do reino dos valores. A este propósito, importa frisar que nem todos os valores se cifram numa realização mediante um ato criador. Ao lado daqueles que poderíamos denominar valores ‘criadores’, há outros que se realizam na experiência vital, e que denominaremos ‘vivências’. São os que se realizam, por exemplo, ao colher o mundo, na entrega à beleza da natureza ou da arte, não licito desdenhar a plenitude de sentido que também pode conferir à vida humana. (FRANKL, 1989, p. 81-82).
Os valores adquirem ou perdem a força de acordo com o nível cultural das pessoas, com a capacidade que têm de apreciá-los.
Para Frankl, fenomenologicamente, o homem pode descobrir o sentido da vida através de três caminhos fundamentais:
Quando experimenta que é capaz de dar algo ao mundo, realiza valores de criação.
Quando descobre que além de dar pode receber algo, vive valor de experiência.
Quando é forçado pelas circunstâncias a limitações de ordem biológica, psicológica ou sociológica e está impossibilitado de realizar os valores acima, resta-lhe assumir uma atitude às situações, neste caso os valores de atitude. (XAUSA, 1988, p. 161).

Segundo Viktor Frankl, os valores podem ser classificados obedecendo a três grupos:
Parte II - OS VALORES DA CRIAÇÃO
Parte III - VALORES DE VIVÊNCIA
Psrte IV - OS VALORES DE ATITUDE

Dependência Química


Dependência é uma doença crônica, com busca e consumo compulsivo de drogas.


A Dependência Química é um conjunto de fenômenos que envolvem o comportamento, a cognição e a fisiologia corporal conseqüente ao consumo repetido de uma substância psicoativa, associado ao forte desejo de usar esta substância, juntamente com dificuldade em controlar sua utilização persistente apesar das suas conseqüências danosas. Na dependência geralmente há prioridade ao uso da droga em detrimento de outras atividades e obrigações sócio-ocupacionais.
A tolerância é o primeiro critério relacionado à dependência. Tolerância é a necessidade de crescentes quantidades da substância para se atingir o efeito desejado ou, quando não se aumenta a dose, é entendida também como um efeito acentuadamente diminuído com o uso continuado da mesma quantidade da substância. O grau em que a tolerância se desenvolve varia imensamente entre as substâncias.
Existe um padrão de uso repetido da substância que geralmente resulta em tolerância, abstinência e comportamento compulsivo de consumo da droga. Um diagnóstico de Dependência de Substância pode ser aplicado a qualquer classe de substâncias. Os sintomas de dependência são similares entre as várias substâncias, variando na quantidade e gravidade de tais sintomas entre uma e outra droga. Os sintomas psíquicos e sociais decorrentes da dependência do fumo, por exemplo, são absolutamente menores do que aqueles da dependência ao álcool.
Chama-se "fissura" o forte impulso subjetivo ou compulsão incontrolável para usar a substância. Embora não seja especificamente relacionada como um critério, a “fissura” tende a ser experimentada pela maioria dos indivíduos com Dependência de Substância (se não por todos). A dependência é definida como um agrupamento de três ou mais dos sintomas relacionados adiante, ocorrendo a qualquer momento, no mesmo período de 12 meses.
Os indivíduos com uso pesado de opióides e estimulantes podem desenvolver níveis gravíssimos de tolerância, por exemplo, como se necessitasse dez vezes mais quantidade depois de algum tempo. Freqüentemente essas dosagens da tolerância seriam letais para uma pessoa não-usuária. Muitos fumantes consomem mais de 20 cigarros por dia, uma quantidade que teria produzido sintomas de toxicidade para uma pessoa que está começando a fumar.
Os indivíduos com uso pesado de maconha em geral não têm consciência de que desenvolveram tolerância, embora esta tenha sido largamente demonstrada em estudos com animais e em alguns indivíduos. A tolerância pode ser difícil de determinar com base apenas na estória oferecida pela pessoa, porém, os testes laboratoriais acabam mostrando altos níveis sangüíneos daquela substância, juntamente com poucas evidências de intoxicação, o que sugere fortemente uma provável tolerância.
O dependente pode até expressar um desejo persistente de reduzir ou regular o uso da substância, mas reluta sempre em decidir deixar de vez a substância. E com freqüência já deve ter havido muitas tentativas frustradas de diminuir ou interromper o uso. A questão essencial, de fato, está no fracasso do dependente se abster de usar a substância, apesar das evidências do mal que ela vem causando.
Em geral o dependente dedica muito tempo obtendo a substância, usando-a ou recuperando-se de seus efeitos. Em alguns casos de Dependência de Substância, virtualmente todas as atividades da pessoa giram em torno da substância.
As atividades sociais, ocupacionais ou recreativas podem ser seriamente prejudicadas, abandonadas ou reduzidas em virtude da dependência ou uso bastante abusivo da substância, e o dependente pode afastar-se de atividades familiares a fim de usar a droga em segredo ou para passar mais tempo com amigos usuários da substância.
As primeiras experiências com drogas ocorrem, freqüentemente, na adolescência. Vários trabalhos, incluindo a Organização Mundial de Saúde (OMS) têm evidenciado a precocidade da faixa etária do início do uso de drogas, geralmente dentro da adolescência, entre 10 e 19 anos.
Fisiologicamente, na adolescência as regras costumam ser questionadas e contestadas e, juntando-se o fato desta ser uma época de experimentações, surge um risco maior para o uso de drogas ilícitas, álcool e fumo. Todavia, felizmente, nem todas as pessoas que experimentam drogas se tornam dependentes, porém, quando ocorre, a dependência química é uma doença complexa, de tratamento longo e nem sempre eficaz.

Quando se pesquisam as causas para a dependência química é acaba-se sempre concluindo ser esta multideterminada, ou seja, multifatorial. Existem alguns fatores fortemente associados ao uso abusivo de drogas e dependência química, como por exemplo, os fatores genéticos, psicológicos, familiares e sociais. Em geral parece que esses fatores não costumam agir isoladamente e sim em conjunto.