INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

sexta-feira, 28 de junho de 2013

O papel da “mãe devotada” na teoria de Winnicott

O papel da “mãe devotada” na teoria de Winnicott

Curso Livre de Capacitação em Psicanalise- SPOB-POLO/RS
 TEORIA PSICANALÍTICA DONALD WOODS WINNICOTT
 Org. Castilho S. Sanhudo
            Winnicott foi um dos pioneiros a hierarquizar o papel da mãe no funcionamento mental da criança em seu desenvolvimento. O autor considerou que a mãe tem participação ativa e importante na construção do espaço mental do bebê, onde este não é apresentado como um objeto da natureza, mas como uma pessoa que necessita dos cuidados e atenção de outra pessoa para existir, ou seja, “um humano cuidando de outro humano”.
             A mãe participa de uma verdadeira unidade com seu filho, onde esta, como objeto externo é muito mais do que um modulador das projeções da criança, promovendo e favorecendo para que o processo de formação da mente do bebê seja bem feito. Diz o autor que a mãe ao tratar seu bebê, “ao lhe dar amor, fornece-lhe uma espécie de ‘energia vital’ que o faz progredir e amadurecer” (Bleichmar & Bleichmar, 1992).
            Winnicott propõe uma “mãe suficientemente boa” por acreditar que quando esta possibilita ao seu bebê a ilusão de que o mundo é criado por ele, assim lhe concede a experiência da onipotência primária, que para o autor é a base do “fazer criativo”. Para Winnicott, a percepção criativa da realidade se constitui numa experiência do “self”, pois este é o “núcleo singular” de cada indivíduo, para o autor.
            Este autor afirma que a vida psíquica do bebê inicia quando o ego passa a se desenvolver, ou seja, quando ainda em estado fusionado com a “mãe devotada”, está absolutamente dependente de seus cuidados na provisão física e emocional que ela lhe proporciona, como ao atender suas necessidades básicas. Assim, a vida do bebê nesse período não pode ser desvinculada do cuidado materno. É um período em que o ego ainda está desintegrado, não se dá conta inconscientemente dessa dependência.
            O ego do bebê está amparado pelo ego materno e vai se desenvolvendo, passando de fraco a cada vez mais fortalecido na medida em que a mãe passa a sustentar física e emocionalmente, satisfazendo sua dependência que ainda é absoluta nessa fase de desenvolvimento. O “holding” que a mãe promove, ou seja, o apoio das necessidades egóicas proporcionados pela mãe se constitui num processo de adaptação desta com seu bebê, e dele com ela, sendo mais importante do que a satisfação ou a frustração das necessidades instintuais do recém-nascido.
             Os impulsos do id, satisfeitos ou frustrados, poderão se tornar experiências para o indivíduo. A mãe devotada pode frustrar seu bebê, pois é em condições de adaptação às necessidades do ego que os impulsos do id serão satisfeitos ou frustrados. A “mãe suficientemente boa” cuida de seu bebê a partir das suas necessidades. Assim ela espera que o bebê dê sinais de suas necessidades e de sua prontidão para receber a gratificação instintual, e assim obter a sua satisfação.
              Quando o cuidado materno se mostra confiável, segundo Valler Celeri, o bebê se mantém ao que Winnicott propõe, na “continuidade da linha da vida” experimentando uma “continuidade de ser”, isto porque os processos de desenvolvimento de seu ego não sofreram perturbações excessivas físicas ou emocionais. Essa é a “base do ego”, podendo ocorrer certo grau de falha, no entanto se os desacertos forem percebidos e corrigidos pela mãe, o bebê terá sensação de segurança como também de ter sido amado.     
            O que está em questão na teoria winnicottiana não é a vida erótica do sujeito, mas a conquista de um lugar para viver, ou seja, a base do self no corpo, segundo Gurfinkel (1999). O desenvolvimento sadio do bebê é que possibilitará a localização do self no corpo, pois este é uma experiência que vai se construindo com o desenvolvimento a partir da dependência absoluta, uma experiência que ai sendo vivenciada ela não existe desde sempre.
            Enquanto Freud escuta as queixas das paralisias de suas pacientes histéricas, Winnicott recebe uma mãe que traz uma criança que não quer comer ou que sofre de somatizações, e Melanie Klein introduz as relações interpessoais em sua produção brilhante e revolucionária. O papel da mãe é cada vez mais considerado. Assim a posição de uma “postura edípica” passa para uma “posição bi-pessoal”, do “falo ao seio”, do “triangulo à relação com a mãe”, ao estudar o primeiro vínculo emocional com a mãe, em termos de experiências sensoriais, afetivas e de constituição do psiquismo.
             Winnicott propõe a noção de um “ser humano” que já traz em si as potencialidades do viver, por acreditar no “potencial criativo humano”. O que constitui a natureza humana e está em jogo nesta, é o seu acontecimento como ser humano, ou seja, a sua continuidade de “ser” como pessoa. O autor recusa a objetificação do ser humano, recusando o naturalismo e o determinismo, por considerar o ser humano não é um mero fato, um efeito de causas, uma coisa em conexão causal com outras coisas da natureza.    
             O inicio dos problemas psicológicos do ser humano, segundo este autor,  está no “vínculo” entre o recém-nascido e a mãe, já que a base da estabilidade mental está na dependência das experiências iniciais do bebê e sua mãe, e principalmente de seu estado emocional.   Para Winnicott há três espaços psíquicos na estruturação do ser humano: o interno, o esterno e o transicional. O espaço transicional se constitui numa zona intermediária que vai do narcisismo primário até o ajuizamento da realidade, pois ele acredita que no início há objetos que não são internos, como também não são externos, só depois virá a delimitação entre ambos. A mãe ao nomear o filho unifica-o, sendo sua tarefa a de juntar os pedacinhos do bebê, permitindo assim que a criança se sinta dentro dela. O autor não considera os fatores internos tão determinantes quanto os externos, porém o “ambiente mãe” é um elemento fundamental e as “falhas ambientais” (da mãe) constituem a etiologia principal dos quadros psicopatológicos.
            O funcionamento da mãe é o de “ego auxiliar” da criança na sustentação que deve ser exercida por aquela, de forma bem sucedida para que a criança possa viver essa sustentação como uma “continuidade existencial”.  Quando esta sustentação falha, o bebê viverá uma “experiência subjetiva” de ameaça a qual se constitui num obstáculo para o seu desenvolvimento normal.  A esta sustentação o autor chama de “holding”, e quando ela não for adequada, provoca uma alteração no desenvolvimento da criança pela incapacidade materna de interpretar as necessidades de seu bebê.


quarta-feira, 26 de junho de 2013

Totem e Tabu

Totem e Tabu – Comentários

Em Totem e Tabu Freud compara os ritos de povos primitivos com a neurose, relacionando o significado original do totemismo com o processo pelo qual passa o desejo inconsciente.
O totem (divinização de escultura representando plantas, animais ou antepassado) pode ser definido como instituição primitiva que deixou indícios nas religiões ritos e costumes dos povos civilizados contemporâneos e o tabu (o mais antigo dos códigos não escritos da humanidade) compreende prescrições rigorosas cuja violação traz sérias conseqüências e castigos para os membros de um grupo. Ao que tudo indica, o totem define uma consagüinidade na qual se inscreve uma lei para deter o indivíduo ante o incesto. Por isso Freud considera a renúncia como a base para o tabu.
Evidências encontradas na linguagem e nos costumes apontam para a realidade histórica do matrimonio em grupo em tempos remotos, o que torna compreensível o rigor na proibição de relações sexuais com indivíduos pertencentes ao mesmo totem.
Tanto quanto os povos selvagens, o castigo prescrito pelo tabu relativos a contato com objetos interditados são formas de tornar o objeto impossível. Para Freud é a expressão de desejos inconscientes e dos temores em relação a estes desejos. (desejo de tocar e ao mesmo tempo horror e proibição).

Esta atitude ambivalente, Freud a encontra também no sujeito neurótico: como temem porque desejam tudo o que entra em contato com o proibido fica tão proibido quanto. A proibição recai sobre todos os novos fins eleitos pelo desejo, refletindo desta forma o processo pelo qual passa o desejo inconsciente. É este o paradoxo do cerimonial sem fim dos obsessivos: pretendem interditar o desejo inconsciente mas aproximam-se cada vez mais dele.
Merece especial consideração neste texto o exame feito sobre o tabu que recai sobre as pessoas mortas: as pessoas que tocaram os mortos devem ficar isoladas, o nome do morto não deve ser pronunciado. Isto indica que admitem uma coincidência entre objetos e palavra o que coincide com as descobertas de Freud que insiste na importância dos nomes no pensamento inconsciente.
Na vertente psicanalítica, as auto-reprovações no luto falam de um desejo inconsciente de morte. A ambivalência é uma característica da neurose obsessiva e o tabu nasce no terreno da ambivalência afetiva. É neste ponto que os neuróticos obsessivos se comportam como os selvagens.

As fases do deslocamento neste processo: 1 - desejo de morte 2 - recalque por proibição 3 - a proibição fica enlaçada a um determinado ato que como consequência de deslocamento se substitue ao ato primitivo orientado contra a pessoa amada. Desenvolvimento ulterior: o desejo de morte é transformado em temor de que a pessoa morra.
Os pontos em comum são a extensão do tabu do morto a tudo que entrou em contato e o excesso de cuidados. A excessiva proteção dos reis por exemplo, revela uma hostilidade dissimulada.
Na elaboração conclusiva, Freud aproxima a figura do pai como o alvo deste desejo de morte. A atitude do selvagem seria uma derivação da atitude infantil em relação ao pai. Através do mito da horda primitiva Freud revela que este desejo é fundante do inconsciente no homem.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Atos falhos - Equivocos

Atos falhos

O que são equívocos? Ás vezes pequenos, banais, trocar uma palavra por outra em um discurso, esquecer o nome de alguém. Prontamente são corrigidos e compreende-se em geral, que foram erros apenas. Na teoria psicanalítica, entretanto, as parapraxias (atos falhos) tem um significado psíquico pleno e revelam muito mais do que se possa supor superficialmente.
Segundo Freud, a palavra que irrompe em lugar da que havia sido escolhida pela consciência é, na verdade, uma expressão do Inconsciente e, portanto, mais verdadeira em relação à subjetividade e à intimidade do indivíduo.
A palavra avalizada pela consciência está em sintonia com o que se espera socialmente, com padrões de educação, moral e convivência. Ela é lógica, precisa, adequada, enquanto a palavra preciptada é surpreendente e pode ser ofensiva, burlona, estranha... Às vezes poderá ser absurda à primeira vista, mas a interpretação de pronto revela a claridade de seu sentido para quem a proclamou: o Inconsciente, este outro eu, afetado pelos desejos.
No esquecimento de um termo ou um nome também está presente a força do embate entre Consciente e Inconsciente, indicando o que se pode ou não pensar nos domínios da consciência.
Segundo Freud, relações entre algumas palavras, sentimentos e momentos muitas vezes de características aparentemente desconexas resultam em esquecimento e ao compreender o motivo do lapso, lá está o pensamento oculto, o desejo inconsciente que motivou tal atitude.

Lacan e o Narcisismo




O narcisismo corresponde ao investimento do eu pela Libido - neste caso a Libido narcísica. Lacan acredita que este investimento psíquico se faz sobre a imago do próprio corpo, na teoria denominada “O Estagio do Espelho”. Por volta dos seis meses de idade o bebê reage jubilosamente diante da percepção de sua própria imagem no espelho. Para Lacan o bebê tem uma representação fantasmática do corpo, na qual este ainda seria fragmentado. A imagem no espelho permite ao infante conceber a integridade corpórea que não compreende. Nessa experiência o sujeito acredita ser o que o espelho reflete e acaba se identificando com a ilusão da qual procurará se aproximar.

Em Lacan o estágio do espelho é uma estrutura; um vínculo que operará durante toda a vida, pois o reflexo de si mesmo situa a instância do eu, ainda antes de sua determinação social.

O Eu aí constituído é o ego ideal, diferente do ideal de ego. O ego ideal é uma imagem, uma concepção do que o sujeito não é, mas deseja ser. É uma imagem mítica e narcisista. O ideal do ego surge da inclusão do sujeito no registro simbólico. O estágio do espelho traz a reflexão sobre a intersubjetividade humana. Por meio do olhar do outro, o sujeito sabe quem ele é. Dentro de um jogo narcisista o sujeito se constitui de fora para dentro.