Através da técnica do brincar,
Melanie Klein aborda a psicanálise para as crianças que até então não tinham sido
estudadas. Como ela mesma cita, teve um insight a respeito do desenvolvimento
inicial e a interpretação que pode-se obter através de observações do brincar
das crianças, influenciando também em crianças mais velhas e adultos.
Seu primeiro caso foi em 1919,
anterior a esta data, os psicanalistas achavam perigoso interpretar o
inconsciente de forma profunda em uma criança antes da fase de latência. A
princípio achou que apenas influenciando a mãe a encorajar o filho a discutir
com ela sobre vários aspectos já seria suficiente, mas, apesar de ter um efeito
razoável, as neuroses foram surgindo e dificultando o trabalho, então percebeu
que deveria analisá-lo mas de perto.
Centralizava os interesses em
ansiedades e suas defesas contra elas.
As primeiras análises foram
feitas na própria residência da criança.
Entre 1920 e 1923 ganhou maior
experiência com outros casos diversos, mas foi a partir de um caso específico
de uma criança de 2 anos e nove meses que a técnica do brincar tornou-se
definitiva no trabalho de Klein. Ela acredita que para a psicanálise infantil,
deve-se compreender e interpretar as fantasias e ansiedades expressas no
brincar, ou no caso da criança não brincar, interpreta-se o motivo deste fato.
A partir de certo momento, Klein
percebeu que deveria levar a criança a um lugar neutro que não tenha vínculo
com a família para que o trabalho fosse mais efetivo, então montou um
consultório com equipamentos bem simples como chão lavável, pia com água
corrente, algumas cadeiras, um pequeno sofá, almofadas e um móvel com gavetas.
Foi então que separou os
brinquedos de cada criança em uma caixa exclusiva de cada uma delas e
guardou-os em gavetas para que elas soubessem que os brinquedos seriam conhecidos
apenas por elas mesmas e pela analista,garantindo a relação tranferencial da
psicanálise. Ela provou que era essencial traze-los para análise e assim,
decidiu quais brinquedos seriam importantes, tais como: mulheres e homens de
madeira de dois tamanhos, carros, carrinho de mão, bolas, animais, aviões,
animais, blocos, casas cercar, papel, tesoura, faca, lápis, giz de cera ou
tinta, cola, massa de modelar, barbante. Tudo deveria ser bem simples para que
não influenciasse a criança na mudança de papéis dos personagens de acordo com
a situação a ser representada pela criança.
A análise dá-se em torno do
brincar da criança, porém, nem todas as vezes o brincar são com os brinquedos
da caixa, mas às vezes são na da pia que continha panelinhas, copos e talheres,
outras vezes através de jogos onde a criança coloca papéis para ela e para o
terapeuta, geralmente a criança fica com o papel que dá maior autoridade sobre
o outro. Acaba demonstrando muitas vezes a agressividade e ressentimento tanto
nos jogos quanto com os brinquedos de diversas formas, verbalmente ao analista,
destruindo algum brinquedo representativo, esparramando tinta ou água, tudo
isso não se refere ao estrago causado na realidade, mas sim o que isso
representa no inconsciente daquela
criança. A agressividade deve ser
exposta porém, sempre tomando o cuidado para que não se ultrapasse os limites e
cometa ataques físicos contra a analista e quanto mais rápido Klein conseguia
interpretar tal agressividade, mais rápida era controlada.
O dano causado a um determinado
brinquedo revelava muitas coisas, onde a criança, depois de destruí-lo,
colocava-o de lado, o que indicava desagrado com aquele objeto devido ao medo
persecutório desta pessoa representada tenha se tornado perigosa para a criança,
que pode ou não vir a procurar novamente este objeto.
Quando ela procura, significa que
a ansiedade persecutória diminuiu.
O analista nunca deve desaprovar
uma atitude agressiva a um brinquedo, ele só não pode encorajar a agressividade
e nem sugerir o conserto dele, isto deve partir naturalmente da criança. Na
técnica de Klein, ela não utilizou elementos de influência moral ou educativa,
apenas de técnicas psicanalíticas que entendem e interpretam o que ocorre com a
mente do paciente.
No ato de brincar também se
encontram fatos do cotidiano juntamente com fantasias, outras vezes a criança
traz elementos secundários mas que tem grande importância para despertarem as
emoções e fantasias da criança.
Algumas vezes as crianças não se
interessam pelos brinquedos da caixa, mas para a interpretação, qualquer ato da
criança serve como base tal como o rabiscar, o recortar, mudança de postura ou
expressão dão a entender o que se passa com a criança fazendo-se uma ligação
com a entrevista com os pais.
Melanie afirma que as crianças
pequenas são “intelectualmente capazes de compreender tais interpretações”,
desde que sejam pontos essenciais do material, em linguagem sucinta e clara.
O paciente repete de modo
transferencial ao analista, as relações originárias de conflitos, onde o
analista auxilia o paciente a levar suas ansiedades e fantasias para essas
origens, na infância e na relação com objetos, o que ajuda a refletir sobre
esses conflitos e resolve-los na origem, diminuindo assim os problemas.
Ao analisar seu primeiro caso,
Melanie ateu-se nas ansiedades e defesas contra as mesmas nas crianças, e
antagônico à teoria psicanalítica, interpretava freqüente e profundamente as
atitudes das crianças, promovendo uma mudança radical na técnica.
Através dos estudos e observações,
notou que o superego opera concretamente no interior da criança constituído por
experiências e fantasias introjetadas dos pais.
Essas observações trouxeram à luz
que as meninas sentem a mãe
como perseguidora e este objeto
externo (a mãe) ataca o corpo da criança imaginária.
E com os meninos, confirmou a
concepção de Freud que eles têm medo real da castração e atua como principal
precursor de ansiedade masculina, devido à identificação arcaica com a mãe no
complexo de Édipo. E foi através da interpretação dos conteúdos arcaicos que
Melanie sentiu-se capaz de amenizar tais ansiedades. Esses medos sugeriam uma
natureza psicótica, que cada vez que se voltava para suas origens, Klein
verificou que provinham do sadismo oral. A internalização de um seio que
satisfaz e outro seio “ruim” compõem o núcleo do superego. Klein também
concluiu que as fantasias e desejos sádicos provindos de todas as
circunstâncias, estão ativos em estágios muito primitivos e se sobrepõem às
ansiedades orais, embora estas tenham surgido primeiro.
A forma de expressão simbólica da
criança através de jogos e brinquedos assemelha-se com os sonhos nos adultos,
os quais Freud interpretava e, em ambas as formas de interpretação, o analista
entra em contato com o inconsciente do indivíduo. Porém, Melanie
cuidadosamente, não conectava um símbolo a um significado de modo generalizado,
ela levava em conta a história trazida durante as sessões de modo bem
particular.
Com as experiências de Melanie,
ela pode descrever o processo de formação de símbolos.
Klein concluiu que o bebê faz
distinção entre os objetos bons e os ruins (seio bom e seio mal) e que este
fato é importante para o desenvolvimento do ego.
Todos os seus trabalhos com
crianças influenciaram na técnica de terapia em adultos, pois o inconsciente
surge em uma mente muito primitiva na infância, e devem ser explorados. Porém,
ressalta que esta técnica não é idêntica à usada em adultos, pois se deve levar
em conta o desenvolvimento do ego de acordo com o estágio que o indivíduo está
vivenciando.
A descoberta dos estágios mais
iniciais do desenvolvimento humano levou à uma melhor compreensão e contribuiu
para o tratamento através da psicanálise em pacientes psicóticos.