Parte I – Apostila Interpretação dos sonhos
Curso de
Capacitação em Psicanálise
SPOB-POLO/RS
Psicanalista: Castilho S. Sanhudo
Nós vivemos entre duas realidades: - a vida objetiva (realidade externa, realidade
propriamente dita) e a vida subjetiva, isto é da nossa vida psíquica (realidade
interna: é sempre agressiva e
representa, por isso o desprazer.
A Segunda vem ao encontro daquilo que ideamos, queremos, ou desejamos). Por
isso, representa o prazer.
Para
que exista um equilíbrio entre essas duas realidades, a natureza nos deu a
faculdade de sonhar. Através dos sonhos nós vivemos, então, a nossa vida. Através deles realizamos os
nossos sonhos como uma função psíquica encarregada de compensar, de suavizar,
de substituir mesmo, uma realidade, que nos é hostil por outra, totalmente
diferente, onde um novo mundo se descortina diante da alma e onde todas as
nossas ações parecem absurdas,
justamente porque as censuráveis na sociedade em que vivemos, gozam enquanto
dormimos, de uma espécie de liberdade condicional, quando se expande nos
sonhos.
Há
sonhos lindos, sonhos inesquecíveis, que a gente lamenta quando se desfazem.
Outros são tão feios, digamos assim, que quando se dissipam damos um longo
suspiro de desafogo, e ainda com mais profunda alegria dizemos entre nós mesmo:
“Felizmente tudo não passou de um
sonho!”.
Mas,
se os sonhos foram criados para compensar e nos dar a felicidade procurada pelo
nosso eu, por que então não são todos lindos ? Por que
nos atormentam ? É que, em verdade, há mais alguma coisa a pesquisar no
mecanismo dos sonhos.
A
finalidade destes é , sem duvida nenhuma, a
de realizar todos os nossos desejos, por mais absurdos que se apresentem
a nossa mente. A psicanálise já os definiu, como sendo “uma realização de desejos”. Entretanto, nem sempre a elaboração
onírica consegue este ideal, além de outra dificuldade se apresentar, ainda,
para justificar a aparente incoerência que existe em tal definições.
Para
compreender as razões existentes, no primeiro caso, é bastante considerarmos o
seguinte : Tal qual acontece na vida desperta há, também, enquanto dormimos,
uma censura, que impede os sonhos de
se apresentarem límpidos, simples, ou compreensíveis, como desejávamos que fossem,
pois essa instancia censora é, como fácil de deduzir, uma conseqüência da mesma
censura íntima, que nos vigia
constantemente , em nossa vida desperta, pautando as nossas atitudes quer
através de palavras (escondendo) os sentimentos que não devem ser
exteriorizados, quer através de atos, ou ações condenados pelo meio social.
Quando
dormimos somos controlados, muito embora de maneira bem mais fraca do que
quando estamos em estado de vigília.
Só
assim se explica certos sonhos, nos quais a ação da censura é mínima ou mesmo
quase indiferente, como acontece nos sonhos infantis.
A
outra dificuldade é a que se refere a qualidade do desejo porque nem sempre “conscientemente” desejamos uma coisa, há
realmente determinados desejos que nos passam como um relâmpago pela nossa
cabeça, mas que são imediatamente condenados pela razão, ou melhor pela
consciência. O inconsciente, contudo guarda a impressão.