INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

sábado, 16 de novembro de 2013

A IMPORTÂNCIA DOS SONHOS

Parte I – Apostila Interpretação dos sonhos
 Curso de Capacitação em Psicanálise
SPOB-POLO/RS
Psicanalista: Castilho S. Sanhudo
Nós vivemos entre duas realidades: - a vida objetiva       (realidade externa, realidade propriamente dita) e a vida subjetiva, isto é da nossa vida psíquica (realidade interna: é sempre agressiva e representa, por isso o desprazer. A Segunda vem ao encontro daquilo que ideamos, queremos, ou desejamos). Por isso, representa o prazer.
Para que exista um equilíbrio entre essas duas realidades, a natureza nos deu a faculdade de sonhar. Através dos sonhos nós vivemos, então, a nossa vida. Através deles realizamos os nossos sonhos como uma função psíquica encarregada de compensar, de suavizar, de substituir mesmo, uma realidade, que nos é hostil por outra, totalmente diferente, onde um novo mundo se descortina diante da alma e onde todas as nossas ações  parecem absurdas, justamente porque as censuráveis na sociedade em que vivemos, gozam enquanto dormimos, de uma espécie de liberdade condicional, quando se expande nos sonhos.
Há sonhos lindos, sonhos inesquecíveis, que a gente lamenta quando se desfazem. Outros são tão feios, digamos assim, que quando se dissipam damos um longo suspiro de desafogo, e ainda com mais profunda alegria dizemos entre nós mesmo: “Felizmente tudo não passou de um sonho!”.
Mas, se os sonhos foram criados para compensar e nos dar a felicidade procurada pelo nosso eu,  por que então não são todos lindos ? Por que nos atormentam ? É que, em verdade, há mais alguma coisa a pesquisar no mecanismo dos sonhos.
A finalidade destes é , sem duvida nenhuma, a   de realizar todos os nossos desejos, por mais absurdos que se apresentem a nossa mente. A psicanálise já os definiu, como sendo “uma realização de desejos”. Entretanto, nem sempre a elaboração onírica consegue este ideal, além de outra dificuldade se apresentar, ainda, para justificar a aparente incoerência que existe em tal definições.
Para compreender as razões existentes, no primeiro caso, é bastante considerarmos o seguinte : Tal qual acontece na vida desperta há, também, enquanto dormimos, uma censura, que impede os sonhos de se apresentarem límpidos, simples, ou compreensíveis, como desejávamos que fossem, pois essa instancia censora é, como fácil de deduzir, uma conseqüência da mesma censura íntima, que nos vigia constantemente , em nossa vida desperta, pautando as nossas atitudes quer através de palavras (escondendo) os sentimentos que não devem ser exteriorizados, quer através de atos, ou ações condenados pelo meio social.
Quando dormimos somos controlados, muito embora de maneira bem mais fraca do que quando estamos em estado de vigília.
Só assim se explica certos sonhos, nos quais a ação da censura é mínima ou mesmo quase indiferente, como acontece nos sonhos infantis.
A outra dificuldade é a que se refere a qualidade do desejo porque nem sempre “conscientemente” desejamos uma coisa, há realmente determinados desejos que nos passam como um relâmpago pela nossa cabeça, mas que são imediatamente condenados pela razão, ou melhor pela consciência. O inconsciente, contudo guarda a impressão.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Alcoolismo



Os jovens entram em contato com a bebida alcoólica e com as drogas cada vez mais precocemente em nosso país. Quanto mais cedo se dá esse contato, maior a chance de desenvolver abuso ou dependência. Por isso o número de abusadores, alcoolistas e dependente de drogas vem crescendo assombrosamente. Especialistas afirmam que pelo menos 20% da população tem uma relação perturbada com o álcool.  Diferente do uso recreativo praticado pela maioria das pessoas que tem como finalidade proporcionar prazer gustativo, relaxamento e um ambiente de convívio social mais agradável.  
Alguns psicanalistas consideram o alcoolismo não apenas como toxicomania ou como comportamento adictivo. Eles tendem a ver o processo que leva à dependência como um processo de busca por um estado ideal de onipotência e completude, um culto ao álcool e às drogas, uma religião degradada, que gera perda da humanidade.
Procura-se nos efeitos psicossomáticos da bebida alcoólica ou das drogas escapar da condição humana e tornar-se uma espécie de Deus, mas, o que está em jogo é uma atração mortífera. Há uma conduta de cunho psico-religiosa degradada, revelando uma estreiteza mental. Portanto, o alcoolismo e a drogadição não significam simplesmente uma dependência da química do álcool e das drogas, antes de tudo, falam de fuga da condição humana e aderência a uma fé psicótica no ideal de tornar-se inumano, poderoso e completo.
Por ocasião da instauração da doença pode se dizer que os dependentes desejam ter total “independência” do corpo e usam os efeitos psicossomáticos dos estados de narcose na tentativa de dissolução da própria sensação de corporeidade. Querem atingir, por meio de fantasia onipotente, uma condição de incorporeidade e imortalidade.
Na ânsia de negar-se humano o corpo é sentido como um grande inimigo, por trazer de forma concreta e inegável as vivências de individualização, diferenciação, limitação e mortalidade. Por isso o corpo é alvo predileto dos ataques autodestrutivos do alcoólatra ou dependente de drogas.
Apenas nos estados mais avançados da condição os sintomas neurológicos manifestam-se e a dependência física se expressa.
http://falecomigo.blogfolha.uol.com.br/2013/11/12/alcoolismo/

A CURA EM PSICANÁLISE


Por:Luciana Saddi
Na minha experiência clínica, muitos pacientes se beneficiam da medicação psiquiátrica, mas muitos não se beneficiam significativamente e outros, quando o sofrimento é tamponado, acabam cometendo certos atos, sem se darem conta, que causam o mesmo tipo de sofrimento que sentiam antes, aos outros. Os sofrimentos impingidos ao outro costumam ser da mesma natureza que os sofrimentos que o sujeito sentia, anterior ao tamponamento.
Eis algumas respostas dadas pelo psicanalista Fabio Herrmann num artigo chamado, “A cura”,  na versão publicada no Jornal de Psicanálise em 2000.
 Afinal, o que a psicanálise faz que a medicação não faz? A psicanálise cura. Bem, um paciente tem certo tipo de transtorno, de sintoma, a gente dá um remédio, o transtorno desaparece, o sintoma desaparece, o paciente sarou, mas o que sara sem curar volta pior. Sarar: estabelecer acordos, fazer as pazes.
furor sarandi – Freud estava chamando atenção para a loucura, a agitada loucura de quem quer ver sarar a qualquer preço.
…a palavra cura —sofreu uma reificação pragmática na medicina, como se se tratasse de consertar alguma coisa. Há um mal, conserta-se o mal, e o aparelho funciona de novo. Essa é uma visão demasiado pragmática, que motivou certos problemas. Essencialmente, o pragmatismo consiste em se limitar a objetivos possíveis de serem alcançados, mesmo que eles sejam inúteis, deletérios, prejudiciais.
A psicanalise não tem como objetivo a remoção de alguma coisa, o sintoma. Nosso objetivo é curar: quer dizer cuidado, cuidar de alguma coisa, quase não se usa a palavra cura nesse sentido, mas usa-se descurar, como, por exemplo, em descurar da aparência. Mas, também quer dizer, em latim, direção ou administração. Usa-se a palavra curadoria, por exemplo — o curador, o que toma conta, o que dirige. Como em português, em latim também significa tratamento e fim do tratamento; não só o fim do tratamento, a “alta”, o estado de quem tem alta, mas o próprio tratamento, uma cura. Também quer dizer, mas só em latim, obra, livro. O mais interessante de tudo, embora tratamento e alvo do tratamento sejam as acepções mais correntes, cura denota aquilo que é causa de nossos cuidados, cuidados de amor se costuma dizer, ou pelos menos costumava-se, na poesia romântica.
Outra concepção da palavra cura: é referir-se a cura analítica como a cura dos queijos. Sabendo que cada um de nós é como um tipo de queijo. No processo de cura um brie não se transforma em parmesão, mas ao ser curado pode atingir um ponto melhor de maturação!

http://falecomigo.blogfolha.uol.com.br/2013/11/13/a-cura-em-psicanalise/

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

PSIQUIATRA DIZ QUE A MEDICINA TRANSFORMOU COMPORTAMENTOS NORMAIS EM DOENÇA


A "caixa da normalidade" está cada vez menor e a culpa é do excesso de diagnósticos de doenças mentais, diz o psiquiatra americano Dale Archer, autor do best-seller "Better than Normal", recém-lançado no Brasil com o título "Quem Disse que É Bom Ser Normal?"
Archer, 57, é psiquiatra clínico desde 1987 e fundou um instituto de neuropsiquiatria em Lake Charles, Louisiana (EUA). Em 2008, ele notou que havia algo errado com os seus pacientes: a maioria dizia ter um transtorno mental e precisar de remédios --só que eles não tinham nada.
"Estamos 'patologizando' comportamentos normais. E isso não é só culpa da psiquiatria", disse Archer, à Folha, por telefone.
Um quarto dos adultos americanos têm uma ou mais doenças mentais diagnosticadas, segundo o Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA. "Isso está errado. Há uma gama de comportamentos que não são doença."
Em um ativismo "pró-normalidade", Archer descreve oito traços de personalidade comumente ligados a transtornos, como ansiedade, e afirma que não há nada errado com essas características, a não ser que sejam muito exacerbadas.
"O remédio tem que ser o último recurso, e não é o que eu vejo. As pessoas entram em um consultório e saem com uma receita médica. A psicoterapia é subestimada."
De outubro de 2012 a setembro de 2013, o mercado de antidepressivos e estabilizadores de humor movimentou mais de R$ 2 bilhões no Brasil, segundo dados da consultoria IMS Health. Nos últimos cinco anos, o número de unidades vendidas desses remédios cresceu 61%.
Para Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, os diagnósticos aumentaram, sim, mas da mesma forma como aumentou os de outras doenças, de diabetes a câncer. "Isso é resultado da evolução da medicina e da facilidade de acesso."
O mesmo pensa o psiquiatra Fabio Barbirato, da Santa Casa do Rio de Janeiro. "Também aumentou o número de prescrições de insulina e anti-hipertensivo. Isso ninguém questiona. Mas quando se fala de mente, da psique, todos têm uma opinião", afirma.
Segundo Silva, o problema é o subdiagnóstico. Para ele, há mais deprimidos sem tratamento do que pessoas sem depressão sendo tratadas.
Barbirato dá como exemplo o TDAH (transtorno do deficit de atenção e hiperatividade). "O número de crianças com prescrição de remédios não chega a 1,5% no Brasil, e a estimativa mais baixa de presença de TDAH no país é de 1,9%. Há crianças sem tratamento."
CRITÉRIO ANTIGO
Para a psicóloga Marilene Proença, professora da USP, a sociedade está "medindo" as crianças com réguas antigas. "Os critérios de diagnóstico de TDAH esperam uma criança que brinque calmamente, que levante a mão para perguntar algo. Isso não condiz com o papel da criança na sociedade. Ela está exposta a muitos estímulos e é tudo muito competitivo", diz.
Para a psiquiatra e psicanalista Regina Elisabeth Lordello Coimbra, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, as pessoas estão menos tolerantes às emoções.
"Há pouco lugar para a tristeza. E a exaltação e excitação são confundidas com felicidade. Vivemos de uma forma mais estimulante, na qual emoções mais depressivas, reflexivas, não têm espaço."
De acordo com Silva, o que caracteriza a doença mental é a gravidade dos sintomas. "Deixa de ser normal quando a pessoa tem prejuízo, quando está tão triste que não consegue sair da cama."
Ele argumenta que "invariavelmente" encaminha os pacientes para a psicoterapia. E garante: nem sempre eles saem do consultório com uma receita médica.
Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2013/11/1366864-psiquiatra-diz-que-a-medicina-transformou-comportamentos-normais-em-doenca.shtml