INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

CORPOS MARCADOS! NECESSIDADE DO OLHAR

SOCIEDADE PSICANALÍTICA ORTODOXA DO BRASIL
SPOB-POLO/RS
Curso Livre de Capacitação em Psicanálise

CORPOS MARCADOS! NECESSIDADE DO OLHAR

       As fronteiras do corpo na relação com o ambiente, com o outro e com o social, na contemporaneidade, estão demarcadas pela relação que situa o corpo a realidade as bordas do “olhar”. O que parece não funcionar de forma natural precisa ser recortado, necessidade que responde ao que não parece ser características das sociedades primitivas. Há que considerar que uma imagem, na medida em que é vital e necessária, mas não dispensável, faz parte do orgânico.  As imagens vão se apoiar privilegiadamente nos orifícios de nosso corpo, o que se torna curioso é que os orifícios serão erogenizados, e lá onde aparentemente cumprem uma função de satisfazer uma necessidade biológica, uma outra função entra em causa, ou seja a função simbólica exercitada pelos mesmos orifícios.
          No cenário social e público, existe atualmente uma transformação radical no que se refere à aparência dos adolescentes e jovens, que envolve uma dificuldade, uma dificuldade no estabelecimento da distinção. Há uma presença que vem dificultar a discrição de outrora em relação superfície corpórea que se apresenta ante aos olhares, num espetáculo de formas e cores, a qual está disseminada no espaço social cujo espetáculo se impõe no aqui e agora da contemporaneidade. 
          Os adolescentes e jovens adultos de hoje se caracterizam, entre outras tantas coisas, pelo uso ostensivo de piercings, incrustados e inscritos, no corpo de maneira eloqüente. Não passam despercebidos, pois tais adereços corporais irrompem n campo visual provocando uma experiência de descontinuidade. Mesmo que não tendo o desejo de se ater a estes adereços, estão expostos das orelhas aos lábios, do nariz ao umbigo apesar da intenção de não se ater a eles não podem ser deixados de olhar. As escrituras corpóreas se multiplicam e se diversificam e evidenciam novas complexidades, requintes nos traços, de modo a transformar as tatuagens em marcas específicas dos adolescentes e jovens adultos. Dos pés á cabeça, passando por todas as partes do corpo com a multiplicidade de cores passaram a constituir outra superfície pictória.
        Os piercings e as tatuagens podem ser vistas como signos da fragilidade da identidade e do desamparo contemporâneo, marcados pelas patologias do vazio. Por este mio os adolescentes e jovens adultos buscam uma forma de inserção diante do enfraquecimento das figuras familiares e das vicissitudes de um mundo pautado pela força de uma sociedade capitalista, segundo Birman (2003). Diante do apagamento identitário e massificado da cultura contemporânea, o adolescente impõe sua singularidade de forma ostensiva.  A dificuldade da palavra para a representação coisa, que é colocada no corpo sob a forma de assinatura e signos pictório e esculturais.