INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A Psicanálise nasce do interesse pelo homem

A Psicanálise nasce do interesse pelo homem, por sua dimensão interior, e da compreensão de que tudo deriva da própria interioridade e a ela retorna.
O psicanalista é uma pessoa que deixou de lado todas as armas que possuía, por se terem mostrado insuficientes, tão logo descobriu a existência de uma grande, verdadeira, única e insubstituível arma: a com­preensão da psique, da alma.
Por meio da Psicanálise passamos pelas vicissi­tudes do mundo, mas com coragem, com a ambição de superá-las, de deixá-las para trás, ou melhor, den­tro de nós, e, por conseguinte, de assimilá-las para dar maior força ao conhecimento de nós mesmos, fixando continuamente, sem medo, o fundo de nós mesmos a fim de encontrar o sentido das coisas. Numa palavra, para saber compreender.
Com a Psicanálise apoderamo-nos das chaves do conhecimento profundo do íntimo humano e, por­tanto, do mundo.
A compreensão de nós mesmos leva-nos à ver­dadeira essência da humanidade, onde resultam inú­teis, indiferentes, os sinais exteriores como o dinhei­ro, o sexo, o sucesso, o poder, quando não vividos como dados através de cuja leitura retorna-se ao co­nhecimento de nós mesmos.
O medo, o desespero, a violência, a depressão, as manias, as obsessões, mediante a Psicanálise são entendidas e reinscritas em novo código onde perde­ram a força, a carga, e se diluíram na vida, na alma.
Por meio do conhecimento de nós mesmos e do desejo de compreender a condição humana, de dar sentido à existência, e, por conseguinte, às coisas, ven­cemos a solidão.
Para mim, a solidão é a própria essência da vida e sua condição estrutural.
O homem está sempre só, mesmo em meio à uma multidão, e até mesmo quando é amado e tem filhos.
Ao sobrevir a morte, desaparecem as ilusões, as atividades, as expectativas, os desejos que nos acom­panharam durante toda a vida. Tudo isso perde total­mente o seu valor. A morte revela a verdadeira essên­cia da vida: a solidão.
Sofremos de solidão, quando não conhecemos a nós mesmos, não entendemos a estrutura da vida, não aceitamos, em profundidade, nossa condição de seres humanos.
Em geral, quem sofre de solidão é porque sofre pela falta de algo que não buscou dentro de si. Mui­tos desejam um companheiro para receber a compre­ensão que não estão em condições de dar a si própri­os. Querem ocupar o centro das atenções dos outros, porque, no fundo, não se aceitam a si mesmos. Que­rem assumir o poder, porque são fundamentalmente incapazes. Querem permanecer sempre em companhia de outras pessoas, por se sentirem inseguros. Querem estar a salvo, por medo de viver.
A solidão a que me refiro não é necessariamente a solidão física e sim a convicção de que tudo e todos encontram significado no sentido que damos à inter­pretação de nossa existência.
Nossa própria morte é a coisa mais pessoal que existe. Mesmo quando acontece em meio a uma mul­tidão, é sempre algo só do indivíduo.
Ao longo da vida estamos sempre sozinhos, e não nos damos conta disso. Não existem soluções para a solidão. É própria da vida.
A Psicanálise é a aceitação da condição humana.
Todos os que aceitam o conhecimento da própria interioridade estão sós.
Chegar a estar só consigo mesmo, aceitar-se, somente se consegue com o conhecimento de si mesmo. E conhecer a si mesmo equivale a conhecer o mundo.
Qualquer psicanalista sabe que é mais importante escalar as montanhas que existem dentro de nós do que escalar as montanhas rochosas. Por outras palavras: quando alguém chegou a um bom ponto na opção interior, é-lhe muito mais fácil enfrentar situações externas difíceis.
A Psicanálise é busca.
Desde criança, sempre me perguntei: quem sou eu? de onde vim? o que serei? Desde então, decidi não permitir que as coisas passassem pela minha mente sem que eu tentasse aferrá-las e comprender-lhes o significado.
A sistematização de regras psicanalíticas esconde o medo de avançar pelo desconhecido, cria um álibi para aqueles que não sabem penetrar a própria interioridade; serve somente às classes dominantes para obter uma posição de poder.

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