SOCIEDADE PSICANALÍTICA ORTODOXA DO BRASIL
Grupo VIII-POA- Se realizara nos dias 22 e 23 de Julho
Teoria psicanalítica - Jacques Lacan
INTRODUÇÃO
Freud foi o inventor da
psicanálise, tendo sido consagrado no século XX. Na França aos menos, o século
o XXI inicia com a celebração de Jacques Lacan como rei-re-inventor do
divã. Teatral e grandiloqüente, este
teórico soube como poucos dominar e desarmar platéias com fórmulas
desconcertantes – "A mulher não existe" ou "O amor é dar o que
não se tem a alguém que não o quer", por exemplo – e, desta forma,
consolidar um dos “pensamentos” mais influentes do pensamento francês.
A Psicanálise Lacaniana é uma
escola, pois se constitui como um sistema de pensamento, a partir de um mestre
que modificou inteiramente a doutrina e a clínica freudianas. Cria novos
conceitos, e inventa uma técnica original de análise da qual decorreu um tipo
de formação didática diferente daquela preconizada pelo freudismo clássico. Lacan, com efeito, foi o único dos grandes
intérpretes da doutrina freudiana a efetuar sua leitura não para “ultrapassá-la”
ou “conservá-la”, mas com o objetivo confesso de “retornar literalmente aos
textos de Freud”. Por ter surgido desse
retorno, o lacanismo é uma espécie de revolução às avessas, não um progresso em
relação a um texto original, mas uma “substituição ortodoxa” deste texto.
Freud utilizou conhecimentos da
física e da biologia na construção de sua teoria, enquanto Lacan utilizou a
lingüística, a lógica matemática e a topologia. Este autor mostrou que o
inconsciente se estrutura como uma “linguagem”. A verdade sempre teve a mesma
estrutura de uma ficção, em que aquilo que aparece sob a forma de sonho ou
devaneio é, por vezes, a verdade oculta sobre cuja repressão está a realidade
social.
Lacan considerava que o desejo de
um sonho, não é desculpar o sonhador, mas o grande “Outro” do sonhador. O
desejo é o desejo do “Outro”, e a realidade é apenas para aqueles que não podem
suportar o sonho. O autor conduziu avidamente seus estudos de lógica e de
topologia matemática que o levaram à formulação dos “matemas” e “nós
barromeanos” e à doutrina do “real, simbólico e imaginário”.
Lacan preferia a não interferência
no discurso do paciente, ou seja, deixava fluir a conversa para que o próprio
analisando descobrisse as suas questões, pois o risco da interpretação, para
ele, é o analista passar os seus significantes para o paciente.
O pensamento de Lacan tem como principal
característica ter introduzido no pensamento de Freud, inicialmente pela
fenomenologia, todo o sistema da filosofia alemã de Hegel, Husserl e Heidegger,
e principalmente a teoria do sujeito que não existe em Freud. Introduz a
psicanálise no campo da filosofia.
Ele pensa a psicanálise
num vasto campo de interrogações, combinando filosofia heideggeriana com a
lingüística de Saussure e o estruturalismo de Lévi-Strauss, retirando a
concepção do significante, do inconsciente estruturado como linguagem. Isso pó
levou a ocupar um lugar importante na psicanálise e no campo intelectual. O seu
grande valor foi ter feito um retorno a Freud.
Lacan e Melanie Klein têm em comum a extensão
da clínica da neurose para a clínica das psicoses, e também ter aprofundado a
questão da relação arcaica da mãe com o bebê. Essa aproximação é percebida em
seu escrito “a família” (1938). Ele
integra a tese kleiniana, em particular no conceito de posição paranóide,
atribuindo à transferência um papel primordial. Porém não aboliu a questão do
lugar do pai, a ponto de localizar na falha simbólica deste, a própria origem
da psicose.