CURSO LIVRE DE
FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE
Inscrições aberta -
Tópicos dos textos
de Freud
(Do livro: "O mal estar da civilização",
de Freud e do livro "Freud e a Cultura, de Betty B. Fuks)
- Sonhos:
a realização de um desejo não-satisfeito que acontece através do conteúdo manifesto.
No entanto o significado está nos pensamentos latentes ou pensamentos
inconscientes. os pensamentos inconscientes do sonho se disfarçam no
conteúdo manifesto
- formas de elaboração onírica:
condensação (é caracterizada pela síntese: os sonhos se apresentam breves,
concisos e lacônicos); deslocamento: se caracteriza por uma transferência de
intensidades psíquicas. Um elemento sem valor psíquico retira a atenção de
outro verdadeiramente importante em relação ao desejo do sujeito)
- Na vida
onírica a criança prolonga, por assim dizer, sua existência no homem, ,
conservando todas as peculiaridades e aspirações, mesmo as que se tornam
mais tarde inúteis.
- Nos
sonhos o inconsciente se serve, especialmente para a representação de
complexos sexuais, de certo simbolismo, em parte variável
individualmente e em parte tipicamente fixo, que parece coincidir com o
que conjeturamos por detrás dos nossos mitos e lendas.
- objeção
ao fato de entender o sonho como satisfação de desejos: Freud responde:
"A ansiedade é uma das reações do ego contra desejos reprimidos violentos,
e daí perfeitamente explicável a presença dela no sonho, quando a
elaboração deste se pôs excessivamente a serviço da satisfação daqueles
desejos reprimidos."
- Simbolismo:
o inconsciente se serve nos sonhos de um "simbolismo, em parte
variável individualmente e em parte tipicamente fixo, que parece coincidir
com o que conjeturamos por detrás dos nossos mitos e lendas."
- Sentido
da vida humana: Os homens buscam a felicidade. Há dois aspectos nesta
busca: um positivo: a experiência de intensos sentimentos de prazer;
negativo: a ausência de sofrimento e de desprazer.
- Em
outras palavras, o propósito da vida humana é o princípio do prazer. Mas a
sua efetivação plena é impossível. "As normas do universo são-lhe
contrárias". "Só podermos derivar prazer intenso de um
contraste, e muito pouco de um determinado estado de coisas."
- Se a
felicidade é mais difícil de experimentar o mesmo não se pode dizer da
infelicidade.
- Somos
ameaçados pelo sofrimento, pelo desprazer que vem de três fontes: de nosso
próprio corpo (envelhecimento), do mundo externo e de nossos
relacionamentos com os outros homens. "O sofrimento que provém dessa
última fonte talvez nos seja mais penoso do que qualquer outro."
- formas
de evitar o sofrimento:
a) manter-se à distância de outras pessoas,
isolar-se; sujeitar a natureza através da ciência;
b) influenciar o nosso próprio organismo: por
exemplo pela intoxicação que pode se dar através de uma droga externa ou
através de reações químicas internas) "O serviço prestado pelos veículos
intoxicantes na luta pela felicidade e no afastamento da desgraça é tão
altamente apreciado como um benefício, que tanto indivíduos quanto povos lhes
concederam um lugar permanente na economia de sua libido ( = É a energia
inerente aos movimentos e transformações dos impulsos sexuais. É uma palavra
latina que significa desejo, vontade). Porém segundo Freud "Sabe-se
igualmente que é exatamente essa propriedade dos intoxicantes que determina o
seu perigo e a sua capacidade de causar danos. São responsáveis, em certas
circunstâncias, pelo desperdício de uma grande quota de energia que poderia ser
empregada para o aperfeiçoamento do destino humano."
C) aniquilamento dos instintos
d) SUBLIMAÇÃO: "quando se consegue
intensificar suficientemente a produção de prazer a partir das fontes do
trabalho psíquico e intelectual" "A tarefa aqui consiste em
reorientar os objetivos instintivos de maneira que eludam a frustração do mundo
externo." Seu limite: ". Contudo, sua intensidade se revela muito
tênue quando comparada com a que se origina da satisfação de impulsos
instintivos grosseiros e primários; ela não convulsiona o nosso ser
físico." Exemplo: no campo da arte que usa muito a imaginação, a
fantasia.
e) rompimento com a realidade: mas a realidade é
mais forte e o desprazer e sofrimento sempre estarão presentes.
f) tentativa de obter felicidade no
relacionamento emocional com os outros: busca amar e ser amado. Fazer do amor o
centro de tudo. Porém: "... nunca nos achamos tão indefesos contra o
sofrimento como quando amamos, nunca tão desamparadamente infelizes como quando
perdemos o nosso objeto amado ou o seu amor. Isso, porém, não liquida com a
técnica de viver baseada no valor do amor como um meio de obter
felicidade."
g) Fruição da beleza: "oferece muito
pouca proteção contra a ameaça do sofrimento, embora possa compensá-lo bastante."
CONCLUSÃO: ."O programa de tornar-se
feliz, que o princípio do prazer nos impõe, ..., não pode ser realizado;
contudo, não devemos — na verdade, não podemos — abandonar nossos esforços
de aproximá-lo da consecução, de uma maneira ou de outra." Os caminhos
podem ser diferentes. Depende de cada um. "O homem predominantemente
erótico dará preferência aos seus relacionamentos emocionais com outras
pessoas; o narcisista que tende a ser auto-suficiente, buscará suas satisfações
principais em seus processos mentais internos; o homem de ação nunca abandonará
o mundo externo, onde pode testar sua força"
Mas Freud diz algo
importantíssimos para a psicanálise: ". Qualquer escolha levada a
um extremo condena o indivíduo a ser exposto a perigos, que surgem caso uma
técnica de viver, escolhida como exclusiva, se mostre inadequada. Assim
como o negociante cauteloso evita empregar todo seu capital num só negócio,
assim também, talvez, a sabedoria popular nos aconselhe a não buscar a
totalidade de nossa satisfação numa só aspiração."
- RELIGIÃO:
Freud vê nas religiões uma fonte de promessas ilusórias à situação de
desamparo originário que marca a subjetividade humana. Apelar a o Pai
(Deus) significa pedir proteção contra a castração e a morte em um mundo
onde a castração e a morte já estão consumadas. Freud se aproxima do
adágio marxista de que "a religião é o ópio do povo"
Porém (e isto é sumamente
importante) Freud não teve o objetivo de depreciar a crença religiosa
mas combate o discurso religioso que se propõe a rebaixar o valor da vida
deformando de forma delirante a forma do mundo real e consequentemente
intimidando a inteligência humana. "A psicanálise nos ensina que as
instituições religiosas, em sua grande maioria, valem-se da fragilidade do
homem diante de seu próprio desamparo para fortalecer suas bases políticas.
Unificam os fiéis em torno de uma verdade única, desprezam toda e qualquer
expressão subjetiva e impedem o equilíbrio necessário entre o desejo do sujeito
e as reivindicações do grupo social" (pág. 33, Freud e a Cultura,
Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro,ano 2003)
Mas Freud reconhecia a
importância da religião como "uma sublimação ideal da humanidade na
conquista ética e nos fundamentos da alteridade dos mais diversos povos"
(op. Cit. Pág. 34)
- AMOR
AO PRÓXIMO, AGRESSIVIDADE, REPRESSÃO DA SOCIEDADE:
- Há uma
oposição entre a nossa libido que quer se restringir ao amor entre duas
pessoas e a civilização que exige a extensão da libido a um número maior de
pessoas. "Convoca a libido inibida em sua finalidade, de modo a
fortalecer o vínculo comunal através das relações de amizade. Para
que esses objetivos sejam realizados, faz-se inevitável uma restrição à
vida sexual."
- Por isto
a sociedade emprega "métodos destinados a incitar as pessoas a
identificações e relacionamentos amorosos (este é o sentido do
mandamentos de amar ao próximo e até os inimigos) porque segundo Freud
"... os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e
que, no máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo contrário, são
criaturas entre cujos dotes instintivos deve-se levar em conta uma
poderosa quota de agressividade."
- O fim
da propriedade privada com o comunismo é a solução para acabar com a
agressividade humana? Freud não acredita nisto pois "a
agressividade não foi criada pela propriedade. Reinou quase sem limites
nos tempos primitivos, quando a propriedade ainda era muito escassa, e já
se apresenta no quarto das crianças, quase antes que a propriedade tenha
abandonado sua forma anal e primária; constitui a base de toda relação de
afeto e amor entre pessoas ( com a única exceção, talvez, do
relacionamento da mãe com seu filho homem).
- Exemplo
desta agressividade indestrutível através : Narcisismo das pequenas
diferenças
+ O "Narcisismo das pequenas
diferenças" está na base da formação do "nós" e do
"outro". Ocorre na tensão entre povos vizinhos (por exemplo nas rixas
entre brasileiros e argentinos), entre indivíduos de estados diferentes de um
mesmo país (exemplo: entre cariocas e paulistas). São pequenas diferenças reais
que criam impedimento para que o outro seja um perfeito semelhante. Tal fato
deixa claro que o ódio não nasce da distância mas da proximidade. "É
sempre possível unir um considerável número de pessoas no amor, enquanto
sobrarem outras pessoas para receberem as manifestações de sua agressividade."
O grupo produz seu outro partir do qual forja sua própria identidade eliminando
as diferenças internas, fabricando uma unidade fictícia com o objetivo de
perpetuar sua dominação. Cria-se imaginariamente um EU IDEAL. Em nome do amor à
unidade, ficam abolidas as vontades individuais. O eu ideal se liga com
o pai ideal na figura do Fuhrer, cuja vontade se confunde com a lei. Como no
estado religioso há a ilusão de que o "líder carismático tem o poder de
salvar a todos do desamparo primordial e da angústia real" assegurando
"as reivindicações narcísicas de cada membro". (op. Cit. Pág. 47)
Mas isto só será possível se se eliminar ódio no
interior do grupo. Então ele é dirigido contra o estrangeiro e este ódio
favorece a coesão da comunidade. Ou seja, reprime-se o ódio ao idêntico a
quem se ama para direcioná-lo ao outro, à alteridade. "Em nome do amor
entre os membros a quem abraça, uma organização permite e incita a todos que
expressem intolerância e crueldade contra os estrangeiros, aqueles que não
aderem à concepção de mundo e à ideologia que ela difunde."
CONCLUSÃO: o fenômeno do narcisismo das
pequenas diferenças desemboca na segregação e no racismo. "A vontade de
uniformização dos indivíduos manifestada pelo nazismo, pelo fascismo e pelo
stalinismo se inscreve para além da tendência de apagar a diferença no interior
do grupo e passá-la para fora. Ela propõe o pior a eliminação de qualquer
diferença, mesmo quando fora do conjunto" (op. Cit. Pág. 51)
Em "O mal estar na civilização"
Freud alude ao fato de não ter sido por mero acaso que o sonho de um império
germânico universal tenha precisado criar o anti-semitismo como seu
complemento. O Reich alemão logrou instalar a segregação e a intolerância como
meio de garantir o sucesso de sua unidade política.
"Obrigando o sujeito a escolher seu objeto
de amor no interior do grupo, ficava abolida, de imediato, a proibição
simbólica do incesto. Essa estratégia de burlar a castração imposta pela lei
paterna marca um revés fundamental: a organização social fica ordenada sob a
égide de um regime plantado sobre a denegação da morte e do narcisismo
ilimitado." "... Uma das características da modernidade é essa
tentativa de restabelecer uma figura de excesso que, oferecendo ás massas a
quimera de protegê-la da castração e da morte, desenvolve em troca um poder
ilimitado exercido paradigmaticamente nos regimes totalitários. Trata-se, na
verdade, de uma estratégia de poder fixada na infantilização do sujeito, em sua
dominação real que gera em escala coletiva a destruição e a morte" (op.
Cit. Pág. 51)