CURSO LIVRE DE CAPACITAÇÃO EM PSICANÁLISE
TURMA PORTO ALEGRE VIII
Dia 06 e 07 de Fevereiro- Local- RUA PROFº ANNES DIAS – 166,103
Fetichismo- 1927-
XXI
Nos últimos anos
tive oportunidade de estudar analiticamente certo número de homens cuja escolha
objetal era dominada por um fetiche. Não é preciso esperar que essas pessoas
venham à análise por causa de seu fetiche, pois, embora sem dúvida ele seja
reconhecido por seus adeptos como uma anormalidade, raramente é sentido por
eles como o sintoma de uma doença que se faça acompanhar por sofrimento. Via de
regra, mostram-se inteiramente satisfeitos com ele, ou até mesmo louvam o modo
pelo qual lhes facilita a vida erótica. Via de regra, portanto, o fetiche
aparece na análise como uma descoberta subsidiária.
Por motivos
evidentes, os pormenores desses casos não podem ser publicados; não posso,
portanto, mostrar de que maneira as circunstâncias acidentais contribuíram para
a escolha de um fetiche. O caso mais extraordinário pareceu-me ser aquele em
que um jovem alçou certo tipo de ‘brilho do nariz’ a uma precondição
fetichista. A explicação surpreendente para isso era a de que o paciente fora
criado na Inglaterra, vindo posteriormente para a Alemanha, onde esquecera sua
língua materna quase completamente. O fetiche, originado de sua primeira
infância , tinha de ser entendido em inglês, não em alemão. O ‘brilho do nariz’
[em alemão ‘Glanz auf der Nase‘] era na realidade um ‘vislumbre (glance)
do nariz’. O nariz constituía assim o fetiche, que incidentalmente, ele dotara,
à sua vontade, do brilho luminoso que não era perceptível a outros.
Em todos os
casos, o significado e o propósito do fetiche demonstraram, na análise, serem
os mesmos. Ele se revelou de modo tão natural e me pareceu tão compelativo que
me sinto preparado para esperar a mesma solução em todos os casos de
fetichismo. Ao enunciar agora que o fetiche é um substituto para o pênis, decerto
criarei um desapontamento, de maneira que me apresso a acrescentar que não é um
substituto para qualquer pênis ocasional, e sim para um pênis específico e
muito especial, que foi extremamente importante na primeira infância, mas
posteriormente perdido. Isso equivale a dizer que normalmente deveria ter sido
abandonado; o fetiche, porém, se destina exatamente a preservá-lo da extinção.
Para expressá-lo de modo mais simples: o fetiche é um substituto do
pênis da mulher (da mãe) em que o menininho outrora acreditou e que — por
razões que nos são familiares — não deseja abandonar.O que sucedeu, portanto,
foi que o menino se recusou a tomar conhecimento do fato de ter percebido que a
mulher não tem pênis. Não, isso não podia ser verdade, pois, se uma mulher tinha
sido castrada, então sua própria