INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

quarta-feira, 15 de junho de 2016

*SOCIEDADE PSICANALÍTICA ORTODOXA DO BRASIL* * SPOB-POLO/RS* 
*CURSO LIVRE DE CAPACITAÇÃO EM PSICANÁLISE*
Ocorrerá nos dias 17 e 18 de Junho.
MELANIE KLEIN E A PSICANÁLISE DE CRIANÇAS 
Minha prática com crianças, assim como com os adultos, e toda
a minha contribuição para a teoria psicanalítica
 derivam da técnica do brincar”.

                                                                                                                  Klein

·         SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
2 A VIDA DE MELANIE
3 OS PRIMEIROS TRABALHOS NA PSICANÁLISE INFANTIL
4 A OBRA DE MELANIE KLEIN E A PSICANÁLISE INFANTIL
5 CONCEPÇÕES CLÁSSICAS DA TEORIA KLEINIANA
6 A PSICOTERAPIA INFANTIL
7 O PROCESSO LÚDICO, A ANÁLISE E A TRANSFERÊNCIA
8 CONSIDERAÇÕES SOBRE A TÉCNICA PROPOSTA POR MELANIE
9 ALGUNS PACIENTES ATENDIDOS POR KLEIN – ORIGEM DOS CONCEITOS
   PROPOSTOS
10 DEFINIÇÃO DE TERMOS E CONCEITOS INTRODUZIDOS POR KLEIN E SEUS
    COLABORADORES
    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
    BIBLIOGRAFIA SUGERIDA.............................................................................................56
1 INTRODUÇÃO      
                 Melanie Klein se considerava discípula e seguidora estrita da teoria e técnica da terapia e investigação psicanalíticas tais como foram propostas e estabelecidas por Sigmund Freud. Esta autora foi uma pessoa de raro potencial com idéias inovadoras com as quais veio modificar profundamente os paradigmas vigentes em sua época e no meio psicanalítico. Sua capacidade foi além, e com as novas concepções criadas promoveu substanciais transformações tanto teóricas quanto técnicas, adquirindo um círculo importante de seguidores, e atravessando sucessivas gerações desses novos partidários, com suas respectivas contribuições refutadoras, ampliadoras e transformadoras.
                 Klein se distinguiu entre outras coisas, pela sua capacidade de analisar os pequenos pacientes, o que a fez criar a “psicanálise de crianças” por meio da “técnica do brincar”. Na clínica desenvolveu um entendimento muito profundo sobre o funcionamento emocional do self infantil, ampliando a noção de inconsciente ao propor as fantasias inconscientes as quais considerava como representantes mentais das pulsões instintivas.     
                Como todo o gênio, Melanie era uma figura carismática e possuidora de um espírito inspirador.  Depois de Freud, gênio criador e pai da psicanálise, esta autora pagou um preço alto e severo por ter se tornado uma figura altamente polêmica e controvertida. Despertou um crescente número de admiradores incondicionais, seguidores fiéis e inovadores, sendo incontestável a sua criação revolucionária na psicanálise, através da criação e concepção de seus conceitos dentro dos aspectos contidos no desenvolvimento emocional primitivo do bebê. No meio psicanalítico se constituiu em alvo fácil de ataques denegridores e segregadores, o que motivou claros e explícitos insultos e até mesmo de exclusão pelo fato de não ter a formação médica, provocadores também de importantes dissidências, contudo é inegável a relevância de sua obra.
                  Ela abriu a possibilidade para a análise de crianças de tenra idade, como também possibilitou o método psicanalítico para pacientes fortemente regressivos, incluindo pacientes psicóticos, para os quais a psicanálise até então não dava acesso.  Assim sendo, o mínimo que se pode dizer de sua obra é a inegável relevância.        
                 klein realizou sua análise em momentos diferentes, com Sandor Ferenczi e Karl Abraham, grandes discípulos de Freud e principais impulsionadores da psicanálise depois do mestre. Foi muito reconhecida por seus analistas e professores, manifestando sua gratidão por todo o apoio, ensinamento e capacidades de inspirar em seus alunos o melhor de suas energias a serviço da psicanálise.  Ferenczi foi o primeiro a apresentar a psicanálise a Klein, fazendo com que compreendesse a essência e o significado real da mesma. O seu sentimento forte do inconsciente e simbolismo, e ainda o extraordinário “rapport” sobre a mente das crianças exerceram grande influência sobre sua compreensão da psicologia infantil. Foi este analista quem estimulou Klein a dedicar-se a esse campo da psicanálise muito pouco explorado até então, emprestando apoio em seus esforços.
                Abraham, com sua confiança no trabalho de Klein, encorajou-a a seguir em sua escolha e iniciativa. Ela considera que suas conclusões teóricas foram um desenvolvimento natural das descobertas de seu professor, mostrado isso em sua obra. Para a autora, o entendimento profundo da personalidade da criança é a base para a compreensão da vida social.
                  Melanie Klein “humanizou” a psicanálise – manifesta pela intuição e emoção desembocadas em configurações psíquicas facilmente observáveis. No entanto não é perceptível ao terapeuta que faz sua primeira leitura, pois o texto kleiniano à primeira impressão sugere uma “pornografia bizarra” (no dizer de alguns) e por vezes duradoura, fazendo com que haja uma desistência em seu projeto sobre o conhecimento de sua obra. Talvez o que mais possa chocar o leitor é a categoria do “concreto” com que Klein apresenta os modelos explicativos das origens da vida anímica, numa descrição em termos visuais, deparadas com precondições lógicas ou abstratas. A sua própria história pessoal cede passo a uma espécie de história natural dos afetos.
                 Freud e seus discípulos não descuidaram da psicologia do sentimento, porém Klein foi mais longe e com mais sutileza e acuidade. A exploração sobre a inveja, o ciúmes, a agressividade, as experiências de solidão, de perda, de culpa, sobretudo os sentimentos ligados á perseguição foram descritos e explicados de forma minuciosa e inter-relacionados.  Ao entrar em contato com esses conceitos o leitor começa a perceber os dinamismos kleinianos, exemplificados por pacientes, obtendo assim uma percepção e compreensão que serão confirmados na clínica.  No setting analítico, por certo haverá pacientes que mostrarão de forma dinâmica suas fantasias primitivas, e outras formas manifestas que comprovarão os conceitos e a teoria proposta por Klein.  
                  Klein era de fácil convívio em sua vida particular, porém em relação ao trabalho não aceitava concessões e compromissos, tendo opiniões muito claras a respeito de que em questões cientificas não poderia haver transigências. Admitia que o melhor a fazer fosse manter um espírito aberto e aceitar a possibilidade de se estar errado, sem no entanto pretender que as coisas sejam “um pouco assim e um pouco assado”, com o objetivo apaziguar um adversário.      
                 Já com bastante idade, nos últimos anos de sua vida, mostrava perplexidade e uma profunda magoa pela frieza com que Freud se posicionava em relação à sua obra e pessoas, que no seu entender considerava muito próxima da obra do mestre.  Klein acreditava que tinha desenvolvido sua teoria dentro dos mesmos princípios e características defendidos por Freud, levando-os mais longe do que qualquer outro psicanalista vivo, encontrando muita dificuldade, apesar de entender intelectualmente que ele não pensasse dessa maneira.