*CURSO LIVRE DE CAPACITAÇÃO EM PSICANÁLISE*
Ocorrerá nos dias 17 e 18 de Junho.
“Minha
prática com crianças, assim como com os adultos, e toda
a
minha contribuição para a teoria psicanalítica
derivam da técnica do brincar”.
Klein
·
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
2 A VIDA DE MELANIE
3 OS PRIMEIROS
TRABALHOS NA PSICANÁLISE INFANTIL
4 A OBRA DE MELANIE
KLEIN E A PSICANÁLISE INFANTIL
5 CONCEPÇÕES
CLÁSSICAS DA TEORIA KLEINIANA
6 A PSICOTERAPIA
INFANTIL
7 O PROCESSO LÚDICO,
A ANÁLISE E A TRANSFERÊNCIA
8 CONSIDERAÇÕES SOBRE
A TÉCNICA PROPOSTA POR MELANIE
9 ALGUNS PACIENTES
ATENDIDOS POR KLEIN – ORIGEM DOS CONCEITOS
PROPOSTOS
10 DEFINIÇÃO DE
TERMOS E CONCEITOS INTRODUZIDOS POR KLEIN E SEUS
COLABORADORES
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA.............................................................................................56
1 INTRODUÇÃO
Melanie Klein se considerava
discípula e seguidora estrita da teoria e técnica da terapia e investigação psicanalíticas
tais como foram propostas e estabelecidas por Sigmund Freud. Esta autora foi
uma pessoa de raro potencial com idéias inovadoras com as quais veio modificar
profundamente os paradigmas vigentes em sua época e no meio psicanalítico. Sua
capacidade foi além, e com as novas concepções criadas promoveu substanciais
transformações tanto teóricas quanto técnicas, adquirindo um círculo importante
de seguidores, e atravessando sucessivas gerações desses novos partidários, com
suas respectivas contribuições refutadoras, ampliadoras e transformadoras.
Klein se distinguiu entre outras coisas, pela
sua capacidade de analisar os pequenos pacientes, o que a fez criar a
“psicanálise de crianças” por meio da “técnica do brincar”. Na clínica desenvolveu
um entendimento muito profundo sobre o funcionamento emocional do self infantil, ampliando a noção de
inconsciente ao propor as fantasias inconscientes as quais considerava como
representantes mentais das pulsões instintivas.
Como todo o gênio, Melanie era
uma figura carismática e possuidora de um espírito inspirador. Depois de Freud, gênio criador e pai da
psicanálise, esta autora pagou um preço alto e severo por ter se tornado uma
figura altamente polêmica e controvertida. Despertou um crescente número de
admiradores incondicionais, seguidores fiéis e inovadores, sendo incontestável
a sua criação revolucionária na psicanálise, através da criação e concepção de
seus conceitos dentro dos aspectos contidos no desenvolvimento emocional
primitivo do bebê. No meio psicanalítico se constituiu em alvo fácil de ataques
denegridores e segregadores, o que motivou claros e explícitos insultos e até
mesmo de exclusão pelo fato de não ter a formação médica, provocadores também
de importantes dissidências, contudo é inegável a relevância de sua obra.
Ela abriu a possibilidade
para a análise de crianças de tenra idade, como também possibilitou o método
psicanalítico para pacientes fortemente regressivos, incluindo pacientes psicóticos,
para os quais a psicanálise até então não dava acesso. Assim sendo, o mínimo que se pode dizer de
sua obra é a inegável relevância.
klein
realizou sua análise em momentos diferentes, com Sandor Ferenczi e Karl Abraham,
grandes discípulos de Freud e principais impulsionadores da psicanálise depois
do mestre. Foi muito reconhecida por seus analistas e professores, manifestando
sua gratidão por todo o apoio, ensinamento e capacidades de inspirar em seus
alunos o melhor de suas energias a serviço da psicanálise. Ferenczi foi o primeiro a apresentar a
psicanálise a Klein, fazendo com que compreendesse a essência e o significado
real da mesma. O seu sentimento forte do inconsciente e simbolismo, e ainda o
extraordinário “rapport” sobre a
mente das crianças exerceram grande influência sobre sua compreensão da
psicologia infantil. Foi este analista quem estimulou Klein a dedicar-se a esse
campo da psicanálise muito pouco explorado até então, emprestando apoio em seus
esforços.
Abraham, com sua confiança no trabalho de
Klein, encorajou-a a seguir em sua escolha e iniciativa. Ela considera que suas
conclusões teóricas foram um desenvolvimento natural das descobertas de seu
professor, mostrado isso em sua obra. Para a autora, o entendimento profundo da
personalidade da criança é a base para a compreensão da vida social.
Melanie Klein “humanizou” a psicanálise –
manifesta pela intuição e emoção desembocadas em configurações psíquicas
facilmente observáveis. No entanto não é perceptível ao terapeuta que faz sua
primeira leitura, pois o texto kleiniano à primeira impressão sugere uma
“pornografia bizarra” (no dizer de alguns) e por vezes duradoura, fazendo com
que haja uma desistência em seu projeto sobre o conhecimento de sua obra.
Talvez o que mais possa chocar o leitor é a categoria do “concreto” com que
Klein apresenta os modelos explicativos das origens da vida anímica, numa
descrição em termos visuais, deparadas com precondições lógicas ou abstratas. A
sua própria história pessoal cede passo a uma espécie de história natural dos
afetos.
Freud e seus discípulos não descuidaram da
psicologia do sentimento, porém Klein foi mais longe e com mais sutileza e
acuidade. A exploração sobre a inveja, o ciúmes, a agressividade, as
experiências de solidão, de perda, de culpa, sobretudo os sentimentos ligados á
perseguição foram descritos e explicados de forma minuciosa e
inter-relacionados. Ao entrar em contato
com esses conceitos o leitor começa a perceber os dinamismos kleinianos,
exemplificados por pacientes, obtendo assim uma percepção e compreensão que
serão confirmados na clínica. No setting analítico, por certo haverá
pacientes que mostrarão de forma dinâmica suas fantasias primitivas, e outras
formas manifestas que comprovarão os conceitos e a teoria proposta por
Klein.
Klein era de fácil convívio em sua vida
particular, porém em relação ao trabalho não aceitava concessões e
compromissos, tendo opiniões muito claras a respeito de que em questões
cientificas não poderia haver transigências. Admitia que o melhor a fazer fosse
manter um espírito aberto e aceitar a possibilidade de se estar errado, sem no
entanto pretender que as coisas sejam “um pouco assim e um pouco assado”, com o
objetivo apaziguar um adversário.
Já com bastante idade, nos últimos anos
de sua vida, mostrava perplexidade e uma profunda magoa pela frieza com que
Freud se posicionava em relação à sua obra e pessoas, que no seu entender
considerava muito próxima da obra do mestre.
Klein acreditava que tinha desenvolvido sua teoria dentro dos mesmos
princípios e características defendidos por Freud, levando-os mais longe do que
qualquer outro psicanalista vivo, encontrando muita dificuldade, apesar de
entender intelectualmente que ele não pensasse dessa maneira.