SOCIEDADE PSICANALÍTICA ORTODOXA DO BRASIL-SPOB-POLO/RS
Curso Livre de Capacitação em psicanálise
Grupo VIII- POA - Módulo VI - Teoria Psicanalítica III (Freud)-
Ocorrerá em 17 e 18 de Outubro.
ALGUMAS
LIÇÕES ELEMENTARES DE PSICANÁLISE
VOLUME
XXXIII
Um autor que se dispõe a introduzir algum
ramo do conhecimento - ou, para falar de modo mais modesto, algum ramo da
pesquisa - para um público não instruído tem claramente de fazer sua escolha
entre dois métodos ou técnicas.
É possível partir daquilo que todo leitor
sabe (ou pensa que sabe) e encara como auto-evidente, sem, em primeira
instância, contradizê-lo. Logo ocorrerá oportunidade de chamar a atenção dele
para fatos do mesmo campo que, embora lhe sejam conhecidos, até então
negligenciou ou apreciou de modo insuficiente. Partindo destes, podem-se-lhe
apresentar novos fatos dos quais não tem conhecimento e assim prepará-lo
para a necessidade de ultrapassar seus juízos anteriores, de procurar novos
pontos de vista e de levar em consideração novas hipóteses. Dessa maneira,
pode-se conseguir que ele tome parte na construção de uma nova teoria sobre o
assunto, e lidar com suas objeções para com ela durante o decurso concreto do
trabalho conjunto. Um método desse tipo bem poderia ser chamado de genético.
Ele segue o caminho ao longo do qual o próprio investigador viajou
anteriormente. Apesar de todas as suas vantagens, tem o defeito de não
ocasionar um efeito suficientemente impressivo sobre aquele que aprende. Este
não ficará tão impressionado por algo a que assistiu vir à existência e passar
por um lento e difícil período de crescimento, quanto ficará por algo que lhe é
apresentado já pronto, como um todo aparentemente auto-abrangente.
É exatamente esse último efeito que é
produzido pelo método alternativo de apresentação. O outro método, o dogmático,
começa diretamente pelo enunciado de suas conclusões. Suas premissas fazem
exigências à atenção e à crença da assistência, e muito pouco lhes é aduzido em
apoio. E há ainda o perigo de que um ouvinte crítico balance a cabeça e diga:
‘tudo isso soa muito peculiar; de onde foi que esse sujeito o tirou?’
No que se segue, não me basearei
exclusivamente em nenhum dos dois métodos de apresentação: farei uso ora de um,
ora de outro. Não tenho ilusões sobre a dificuldade de minha tarefa. A
psicanálise tem poucas perspectivas de se tornar apreciada ou popular. Não se
trata simplesmente do fato de que muito do que ela tem a dizer ofende os
sentimentos das pessoas. Uma dificuldade quase igual é criada pelo fato de
nossa ciência envolver certo número de hipóteses - é difícil dizer se elas
devem ser encaradas como postulados ou como produtos de nossa pesquisas - que
estão sujeitas a parecerem muito estranhas às modalidades comuns de pensamento
e que contradizem fundamentalmente opiniões correntes. Mas não há saída para
isso. Temos de começar nosso breve estudo com duas dessas arriscadas hipóteses.