Psicologia do Desenvolvimento segundo Anna Freud
Anna Freud, nascida em Viena, 1895, filha caçula de Sigmund
Freud, se dedicou mais que seu pai a descrever a dinâmica do adolescente.
Atribuiu à puberdade como fator marcante na formação de caráter. O processo
fisiológico de maturação sexual, com o funcionamento das glândulas sexuais
influencia diretamente a esfera psicológica, acentuando as relações entre o id
(impulsos instintivos) e o ego (que é governado pelo princípio da realidade) e
o superego (consciência). Esta interação resulta no redespertar instintivo das
forças libidinais que, por sua vez, ocasionam o aparecimento do desequilíbrio
psicológico. Assim, um dos aspectos da puberdade é o esforço para se
restabelecer o equilíbrio interno.
Durante o período de latência, o
superego da criança se desenvolve através da assimilação dos valores e
princípios morais que lhe são apontados pelas pessoas com as quais ela se
identifica. Esse processo substitui o medo infantil do mundo exterior pela
ansiedade produzida pelo superego ou consciência. Desenvolve o senso do certo e
do errado e experimenta sentimentos de culpa, quando seu comportamento discorda
do código moral. Assim, a ansiedade do superego resulta da identificação com
seus pais ou outras autoridades importantes e da interiorização do sistema de
valores morais destes.
Durante a infância a inibição dos
impulsos do id, no mais das vezes, se deve ao medo do castigo, originado no
ego, e aparece quando o comportamento inspirado pelo id se materializa. O comportamento
é também controlado pelo poder parental de recompensar, física ou
psicologicamente. Durante a pubescência, o ego, cedendo aos impulsos do id,
entra em conflito com os padrões morais já interiorizados do superego. A
criança experimenta a frustração interna quando uma figura de autoridade
interfere na obtenção do objeto almejado. O pubescente, por outro lado,
experimenta frustração interna uma vez que a obtenção do objeto visado é
dificultada por inibições internas originárias da consciência. O superego
possui também o poder de dar recompensa através do ego ideal. Durante a
pré-pubescência, a quantidade de energia instintiva começa a crescer e pode
estar ligada a qualquer impulso do id e não somente aos impulsos sexuais. Esta
mudança no mecanismo de controle, de externo para internos, leva as faculdades
mentais a um estado de desequilíbrio. Assim, pode-se observar a intensificação
das tendências agressivas, perversidade, preocupação com a sujeira ou desordem,
brutalidade e tendências exibicionistas.
O advento da maturidade sexual
cria um aumento perturbador da influência libidinal sobre a esfera psicológica;
há um redespertar temporário ou uma regressão aos estágios anteriores de
desenvolvimento.
Anna Freud afirma que um segundo
complexo de Édipo ocorre no início da pubescência, onde os impulsos edipianos
se tornam totalmente conscientes e são usualmente gratificados ao nível da
fantasia. O superego recém-desenvolvido entra no conflito, produzindo
ansiedade, e assim provoca o aparecimento de todos os métodos de defesa de que
o ego dispõe, segundo a extrutura neurótica.
Anna Freud trata principalmente
do desenvolvimento desviado ou patológico e dá pouca atenção ao ajustamento
sexual normal, mas descreve claramente dois perigos possíveis para o desenvolvimento
normal:
a)
o id pode suplantar o ego e a entrada na fase adulta da vida será marcada por
um tumulto na satisfação desinibida dos instintos;
b)
o ego pode sobrepujar o id e confiná-lo numa área limitada, mantendo-o
constantemente refreado por numerosos mecanismos de defesa.
Dentre os muitos mecanismos de
defesa que o ego pode fazer uso, Anna Freud considera dois como típicos da
pubescência: o asceticismo e a intelectualização. Ambos existem antes da
pubescência, mas se tornam especialmente importantes neste período. O
asceticismo do adolescente é devido a desconfiança generalizada de todos os
desejos instintivos. Esta desconfiança vai muito além da sexualidade, incluindo
a alimentação, o sono e até mesmo os hábitos de se vestir. O aumento dos interesses
intelectuais e a mudança dos interesses concretos para os abstratos são tidos
como mecanismo de defesa contra a libido. Isto naturalmente enfraquece as
tendências instintivas quando na vida adulta, e novamente a situação torna-se
“prejudicial ao individuo”. Anna Freud considera que as “instituições do ego,
que resistem ao massacre da puberdade sem ceder, geralmente permanecem
inflexíveis por toda a vida; inabordáveis e insuscetíveis de correção, que a
realidade em mudança exige”.