Conteúdo da apostila Teoria psicanalítica de Donald Woods
Winnicott, capitulo 3
Do Curso de Capacitação em Psicanálise-
SPOB-POLO/RS
Winnicott foi um dos pioneiros a
hierarquizar o papel da mãe no funcionamento mental da criança em seu
desenvolvimento. O autor considerou que a mãe tem participação ativo e
importante na construção do espaço mental do bebê, onde este não é apresentado
como um objeto da natureza, mas como uma pessoa que necessita dos cuidados e
atenção de outra pessoa para existir, ou seja, um humano cuidando de outro
humano.
A mãe participa de uma verdadeira
unidade com seu filho, onde esta, como objeto externo é muito mais do que um
modulador das projeções da criança, promovendo e favorecendo para que o
processo de formação da mente do bebê seja bem feito. Diz o autor que a mãe ao
tratar seu bebê, “ao lhe dar amor, fornece-lhe uma espécie de ‘energia vital’ que o faz progredir e
amadurecer (Bleichmar & Bleichmar, 1992).
Winnicott propõe uma “mãe
suficientemente boa” por acreditar que quando esta possibilita ao seu bebê a
ilusão de que o mundo é criado por ele, assim lhe concede a experiência da
onipotência primária, que para o autor é a base da do fazer criativo. Para
Winnicott, a percepção criativa da realidade se constitui numa experiência do
“self”, pois este é o núcleo singular de cada indivíduo para o autor.
O que está em questão na teoria
winnicottiana não é a vida erótica do sujeito, mas a conquista de um lugar para
viver, ou seja, a base do self no corpo, segundo Gurfinkel (1999). O
desenvolvimento sadio do bebê é que possibilitará a localização do self no
corpo, pois este é uma experiência que vai se construindo com o desenvolvimento
a partir da dependência absoluta, pois não é uma experiência que existe desde
sempre.
Enquanto Freud escuta as
queixas das paralisias de suas pacientes histéricas, Winnicott recebe uma mãe
que traz uma criança que não quer comer ou que sofre de somatizações, e Melanie
Klein introduz as relações interpessoais em sua produção brilhante e
revolucionária. O papel da mãe é cada vez mais considerado. Assim a posição de
uma postura edípica passa para uma posição bipessoal, do falo ao seio, do
triangulo à relação com a mãe ao estudar o primeiro vínculo emocional com a
mãe, em termos de experiências sensoriais, afetivas e de constituição do
psiquismo.
Winnicott propõe a noção de um ser humano que já traz em si as
potencialidades do viver, por acreditar no potencial criativo humano. O que
constitui a natureza humana e está em jogo nesta, é o seu acontecimento como
ser humano, ou seja, a sua continuidade de “ser” como pessoa. O autor recusa a
objetificação do ser humano, ou seja, o autor recusa o naturalismo e o
determinismo, pois o ser humano não é um mero fato, um efeito de causas, uma coisa
em conexão causal com outras coisas da natureza.
Para este autor o inicio dos problemas psicológicos do ser humano está
no vínculo entre o recém-nascido e a mãe, pois a base da estabilidade mental
está na dependência das experiências iniciais do bebê e sua mãe, e
principalmente de seu estado emocional. Para Winnicott há três espaços psíquicos na
estruturação do ser humano: o interno, o esterno e o transicional. O espaço
transicional se constitui numa zona intermediária que vai do narcisismo
primário até o ajuizamento da realidade, pois o autor acredita que no início há
objetos que não são internos, como também não são externos, só depois vira a
delimitação entre ambos. A mãe ao nomear o filho unifica-o, sendo sua tarefa a
de juntar os pedacinhos do bebê, permitindo assim que a criança se sinta dentro
dela. O autor não considera os fatores internos tão determinantes quanto os
externos, porém o “ambiente mãe” é um elemento fundamental, pois as falhas
ambientais constituem a etiologia principal dos quadros psicopatológicos.
O funcionamento da mãe é de um “ego auxiliar” da criança, PIS a
sustentação que deve ser exercida pela mãe que deverá ser bem sucedida para que a
criança possa viver essa sustentação como uma “continuidade existencial”. Quando
esta sustentação falha, o bebê viverá uma experiência subjetiva de ameaça a
qual se constitui num obstáculo para o seu desenvolvimento normal. Quando esta
sustentação, a que o autor chama de “holding”, não for adequada, provoca uma
alteração no desenvolvimento da criança pela incapacidade materna de
interpretar as necessidades de seu bebê.