INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

quarta-feira, 31 de julho de 2013

O papel da mãe na teoria de Winnicott



Conteúdo da apostila Teoria psicanalítica de Donald Woods Winnicott, capitulo 3
Do Curso de Capacitação em Psicanálise- SPOB-POLO/RS

            Winnicott foi um dos pioneiros a hierarquizar o papel da mãe no funcionamento mental da criança em seu desenvolvimento. O autor considerou que a mãe tem participação ativo e importante na construção do espaço mental do bebê, onde este não é apresentado como um objeto da natureza, mas como uma pessoa que necessita dos cuidados e atenção de outra pessoa para existir, ou seja, um humano cuidando de outro humano.
          A mãe participa de uma verdadeira unidade com seu filho, onde esta, como objeto externo é muito mais do que um modulador das projeções da criança, promovendo e favorecendo para que o processo de formação da mente do bebê seja bem feito. Diz o autor que a mãe ao tratar seu bebê, “ao lhe dar amor, fornece-lhe uma espécie de ‘energia vital’ que o faz progredir e amadurecer (Bleichmar & Bleichmar, 1992).
         Winnicott propõe uma “mãe suficientemente boa” por acreditar que quando esta possibilita ao seu bebê a ilusão de que o mundo é criado por ele, assim lhe concede a experiência da onipotência primária, que para o autor é a base da do fazer criativo. Para Winnicott, a percepção criativa da realidade se constitui numa experiência do “self”, pois este é o núcleo singular de cada indivíduo para o autor.
          O que está em questão na teoria winnicottiana não é a vida erótica do sujeito, mas a conquista de um lugar para viver, ou seja, a base do self no corpo, segundo Gurfinkel (1999). O desenvolvimento sadio do bebê é que possibilitará a localização do self no corpo, pois este é uma experiência que vai se construindo com o desenvolvimento a partir da dependência absoluta, pois não é uma experiência que existe desde sempre.
        Enquanto Freud escuta as queixas das paralisias de suas pacientes histéricas, Winnicott recebe uma mãe que traz uma criança que não quer comer ou que sofre de somatizações, e Melanie Klein introduz as relações interpessoais em sua produção brilhante e revolucionária. O papel da mãe é cada vez mais considerado. Assim a posição de uma postura edípica passa para uma posição bipessoal, do falo ao seio, do triangulo à relação com a mãe ao estudar o primeiro vínculo emocional com a mãe, em termos de experiências sensoriais, afetivas e de constituição do psiquismo.
        Winnicott propõe a noção de um ser humano que já traz em si as potencialidades do viver, por acreditar no potencial criativo humano. O que constitui a natureza humana e está em jogo nesta, é o seu acontecimento como ser humano, ou seja, a sua continuidade de “ser” como pessoa. O autor recusa a objetificação do ser humano, ou seja, o autor recusa o naturalismo e o determinismo, pois o ser humano não é um mero fato, um efeito de causas, uma coisa em conexão causal com outras coisas da natureza.    
       Para este autor o inicio dos problemas psicológicos do ser humano está no vínculo entre o recém-nascido e a mãe, pois a base da estabilidade mental está na dependência das experiências iniciais do bebê e sua mãe, e principalmente de seu estado emocional.   Para Winnicott há três espaços psíquicos na estruturação do ser humano: o interno, o esterno e o transicional. O espaço transicional se constitui numa zona intermediária que vai do narcisismo primário até o ajuizamento da realidade, pois o autor acredita que no início há objetos que não são internos, como também não são externos, só depois vira a delimitação entre ambos. A mãe ao nomear o filho unifica-o, sendo sua tarefa a de juntar os pedacinhos do bebê, permitindo assim que a criança se sinta dentro dela. O autor não considera os fatores internos tão determinantes quanto os externos, porém o “ambiente mãe” é um elemento fundamental, pois as falhas ambientais constituem a etiologia principal dos quadros psicopatológicos.

        O funcionamento da mãe é de um “ego auxiliar” da criança, PIS a sustentação que deve ser exercida pela mãe que deverá ser bem sucedida para que a criança possa viver essa sustentação como uma “continuidade existencial”.   Quando esta sustentação falha, o bebê viverá uma experiência subjetiva de ameaça a qual se constitui num obstáculo para o seu desenvolvimento normal. Quando esta sustentação, a que o autor chama de “holding”, não for adequada, provoca uma alteração no desenvolvimento da criança pela incapacidade materna de interpretar as necessidades de seu bebê.