INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Programa: Capacitação de Psicanalistas




 SOCIEDADE PSICANALÍTICA ORTODOXA DO BRASIL-RS
Curso Livre de Capacitação em Psicanálise
 GRUPO PORTO ALEGRE VIII

I - Duração – 28 meses – 28 disciplinas
II – Tempo – 28 meses .
Encontros teóricos presenciais mensais, 6ª feiras das 19h:00min às 22h:00min e sábados das 08h:30min às 17h:00min.
III – Trabalho de Conclusão de Curso - TCC – Tema livre a ser escolhido dentro da área psicanalítica – A SPOB fornecerá as áreas de pesquisa.
IV – Carga Horária - Total de 1.551 h/a.
 V – O Curso está dividido em 5 (cinco) partes:

  1. Parte Teórica: Encontros presencias, seminários.
  2. Análise Pessoal
  3. Acompanhamento clínico de pacientes
  4. Supervisão 
  5.  Pesquisa avançada - TCC

FILOSOFIA
               
A filosofia do Curso baseia-se nos princípios deixados por Freud e por outros teóricos como Winnicott, Lacan, Bion e Melanie Klein, mostrando que a Psicanálise é uma ciência autônoma, de caráter terapêutico, como o único método moderno de psicoterapia baseado numa exploração do inconsciente e da sexualidade, que tem os seus próprios critérios de formação profissional, distinta das demais ciências, sem se subordinar à medicina, à psicologia ou a qualquer outra forma de psicoterapia. Sendo assim, as Sociedades Psicanalíticas, de acordo com os seus Estatutos e Regimentos, são as únicas capazes de definir os critérios obrigatórios de formação específica em Psicanálise: Análise Pessoal e acompanhamento clínico de pacientes sob supervisão.

OBJETIVO GERAL DO CURSO
             
Promover estudos e debates sobre a Psicanálise e ciências afins, bem como formar e credenciar novos psicanalistas em todo Território Nacional para o exercício da profissão de acordo com as disposições legais atuais.
             Proporcionar a formação do profissional Psicanalista nos postulados das doutrinas Freudianas e demais correntes da Psicanálise, aptos, para o exercício da Profissão qualificando profissionais de diversas áreas do conhecimento humano independentemente da formação anterior que o candidato possua;
             Especializar e aperfeiçoar profissionais das áreas de saúde com cabedal dos conhecimentos psicanalíticos, reconhecidos pelos NEUROCIENTISTAS como o melhor método de compreensão da mente humana;
             Manter o compromisso com a formação de profissionais de alto nível nesta área, sendo nossa responsabilidade supervisionar e dar aos alunos a garantia necessária para o exercício da profissão;  
Dar aos estudantes da Psicanálise um ensino contextualizado para nossos dias, no cenário brasileiro, usando um processo dinâmico, vazado em princípios contemporâneos e adaptado à modernidade de nossos dias;
             Capacitar profissionais na área do conhecimento psicanalítico, dando treinamento para a compreensão do ser humano em profundidade. O formando, só se torna um profissional da psicanálise, se conseguir combinar experiência, conhecimentos e aptidão.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS DO CURSO
            
Ao concluir o processo de formação, o profissional deverá estar apto para:
·         Identificar os princípios teóricos e práticos da Psicanálise;
·         Diferenciar os vários conceitos das correntes psicanalíticas;
·         Conhecer os fundamentos epistemológicos das principais escolas psicanalíticas pesquisadas e estudadas no processo de formação;
·         Desenvolver com ética e competência a clínica analítica em todo Território Nacional;
·      Conhecer e promover Políticas de Saúde Mental que estejam relacionadas ao campo do saber analítico.
                       

Seleção e pré-requisitos
        
Para fazer o curso, é preciso comprovar a conclusão de curso superior.  É permito ingressar no curso aquelas pessoas que estejam cursando o último ano de sua graduação, nesse caso é preciso apresentar declaração de matrícula.  Aos portadores de curso superior, deve-se apresentar cópia autenticada do diploma de graduação ou declaração de conclusão de curso.  O candidato que apresentar declaração de conclusão de curso deve apresentar seu diploma de graduação em até 12 meses.

Entrevista
             
Além da apresentação de diploma de curso superior ou equivalente, o candidato será submetido a uma entrevista para aprovação ou não de seu ingresso no processo de formação de psicanalistas.  A entrevista é etapa eliminatória no processo de seleção do candidato.

Local: Profº Annes Dias, 166, 9ºandar, sala de reuniões
Aula prevista para 06 e 07 Junho de 2014. Porto Alegre – RS –
 Coordenador; Castilho Sanhudo.
End. Rua Profº Annes dias,166/103 - fones (51) 84497408 / 3024 7559
e-mail- castilhoss28@hotmail.com  -  spobpolors@gmail.com
·                      Em Santa Catarina
Antonio Lopes
Psicanalista Didata – Professor e coordenador do Curso de Psicanálise em Santa Catarina.
Matrículas abertas para nova turma.
(47) 3081 2665 GVT / 9923 4913 TIM / 8462 5692 OI


terça-feira, 17 de junho de 2014

NOVAS CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS SOBRE PSICANÁLISE (1933 [1932])

CURSO LIVRE DE CAPACITAÇÃO EM PSICANÁLISE
SOCIEDADE PSICANALÍTICA ORTODOXA DO BRASIL
A SPOB-RS está com as inscrições abertas para o Grupo VIII de capacitação de psicanalistas em Porto Alegre.

PREFÁCIO
Minhas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise foram proferidas durante os dois períodos de inverno de 1915-16 e 1916-17, em uma sala de conferências da Clínica Psiquiátrica de Viena, perante ouvintes provenientes de todas as faculdades da Universidade. As conferências da primeira metade foram improvisadas, sendo providenciada a sua redação logo após; as das segunda metade foram delineadas num esboço feito durante as férias do verão desse intervalo, em Salzburg, e lidas palavra por palavra no inverno seguinte. Naquela época eu ainda tinha o dom de uma memória fonográfica.
Estas novas conferências, diferentemente das anteriores, nunca foram proferidas. Minha idade, nesse ínterim, havia-me liberado da obrigação de expressar minha condição de membro da Universidade (que, de qualquer modo, era uma condição periférica) fazendo conferências; e uma operação cirúrgica havia-me impossibilitado de falar em público. Se, portanto, mais uma vez tomo o meu lugar na sala de conferências, durante os comentários que se seguem, é somente por um artifício de imaginação; isto pode ajudar-me a não me esquecer de levar em conta o leitor, à medida que me aprofundar mais em meu tema.
As novas conferências de modo algum pretendem ocupar o lugar das anteriores. Em nenhum sentido elas formam uma entidade independente, com a expectativa de encontrar um círculo de leitores apenas seus; são continuações e suplementos que, em relação à série anterior, se dividem em três grupos. Um primeiro grupo contém novas abordagens de assuntos que já haviam sido discutidos, há quinze anos, mas que, em conseqüência de um aprofundamento de nosso conhecimento e de uma modificação em nossos pontos de vista, requerem atualmente uma exposição diferente, ou seja, revisões críticas. Os dois outros grupos contêm o que na verdade são ampliações, pois tratam de coisas que não existiam na psicanálise à época das primeiras conferências, ou que estavam muito pouco em evidência para justificar que constituíssem título de capítulo. É inevitável, mas não é de se lamentar, que algumas das novas conferências reúnam características de mais de um desses grupos.
Também assinalei a dependência destas novas conferências em relação às Conferências Introdutórias, dando-lhes uma numeração contínua com a destas últimas. A primeira conferência deste volume, por conseguinte, tem o nº XXIX. Assim como as suas predecessoras, oferecem ao analista profissional pouca coisa nova; são endereçadas à multidão de pessoas instruídas às quais talvez possamos atribuir um interesse benévolo, ainda que cauteloso, pelas características e descobertas da jovem ciência. Também desta vez, meu objetivo principal foi o de não fazer concessões que visassem a dar uma aparência de que as coisas sejam simples, completas, acabadas, procurei não camuflar problemas e não negar a existência de lacunas e de incertezas. Em nenhum campo de trabalho científico seria necessário proclamar tais intenções modestas. São universalmente consideradas evidentes por si mesmas; o público não espera nada diferente. Nenhum leitor de um artigo sobre astronomia se sentirá desapontado e desdenhoso em relação à ciência quando lhe são mostradas aquelas fronteiras em que nosso conhecimento do universo se transforma em nebulosidade. Somente na psicologia isto é diferente. Nesta, a inabilidade constitucional da humanidade para a investigação científica surge inteiramente à mostra. O que as pessoas parecem exigir da psicologia não é o progresso no conhecimento, mas satisfações de algum outro tipo; todo problema não resolvido, toda incerteza reconhecida é transformada em vitupério contra ela.
Todo aquele que zela pela ciência da vida mental deve aceitar também essas injustiças que a acompanham.
FREUD

VIENA, verão de 1932.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

As cartas inéditas de Freud

 Parte II
De Freud para Martha
Você pertence a mim
Domingo à noite,
22 de outubro de 1882
Minha doce Marthinha,

De verdade, minha doce menina: cada linha de sua carta renova em mim o orgulho de ter conquistado você, de poder servir por você. E se existe algo que é capaz de romper este orgulho, isso é a consciência que existe em mim há tanto tempo – você sabe desde quando – de que eu nunca conseguiria perder você, e que é reforçada pela sua carta. Já fui tão rico  que é difícil que venha a me tornar ainda mais rico, mas há coisas que eu nunca vou me cansar de ouvir de você.
Pelo menos pude rever você, sentir o aperto de sua querida mão e, portanto, desconsidero o pequeno desconforto pelo qual tive que passar para poder alcançar isso.
Sua carta está à minha frente e eu penso como parecem graciosas até mesmo as contradições que há em você, quão belos são os temas, até mesmo onde mais discordamos, e como as nobres palavras de Antígona de Sófocles parecem ter sido pronunciadas inteiramente para você: “É para amar com você, e não para odiar com você, que eu estou aqui”.
Contudo, admita que estou querendo escapar de nossas discussões com algumas palavras cordiais e que, justamente por me sentir tão seguro de você, aponto com total sinceridade para a nossa situação e para as diferenças entre nossas opiniões.
E se, ao fazer assim, eu estou agindo, como de hábito, sem consideração, pelo menos você sabe de tudo o que penso – até mesmo do pior. Você, no entanto, por causa de um impulso protetor, do qual eu não preciso, costuma encobrir os seus pensamentos mais íntimos.
Por isso, fique sabendo que eu penso que, de verdade, você não me ama mais do que eu amo você. Se eu imagino minha vida atual sem você, tudo desaba, por falta de sustentação e de interesse.
Você é a meta à qual eu me dirijo, o ponto de convergência de todos os meus desejos, por você eu transformei alguém que até então me era estranho em meu amigo mais próximo e mais íntimo, por você me dispus a dedicar a uma mulher que não é minha mãe as honras devidas por um filho, a amar uma menina que não é nem minha irmã antes que minhas próprias irmãs.

Gata borralheira
Você sabe que nem tudo deu certo. Somente conquistei o amigo. A mãe e a irmã permaneceram como estranhas para mim, mas por você eu continuo a esperar e a amar. Dissolvi todos os laços mais íntimos que queriam significar para mim tanto quanto você.
Você certamente também me ama, como uma menina querida como você é capaz de amar, mas você permaneceu uma Bernays. Minha família e meus amigos não significam nada para você, um humor de Eli é tão importante para você quanto um desejo sentido meu, você não se aproximou de minhas irmãs, nem as ama, embora eu ache que elas mereçam e saiba que elas se alegraram tão profundamente com você.
Quando expresso algum julgamento severo sobre alguns dos seus familiares, você não se aborrece porque estou cometendo uma injustiça – você não é capaz de me desmentir – mas sim porque estou falando de algum dos seus. Eu sei bem que  há coisas que não posso e nem tenho como tirar de você, coisas que você considera tanto quanto a mim mesmo, e das quais você se orgulha, como você mesma diz.
Não tenho como imitar você e apenas espero que chegue um dia no qual eu não precise dizer que entreguei os meus, que eu consideraria mais do que os seus, sem vingança. No momento, apensas posso reconhecer a minha insatisfação, mas agora não se trata disso.
Eu não disse que você era  a Gata Borralheira em sua casa, eu só exigi que você não se deixasse tratar como uma criança sem vontade, e você não tem como negar que é tratada assim. Você é a escrava doméstica de Eli e estremece diante de uma simples piscadela dele. Daí vem o grande amor que ele tem por você, e isso é totalmente indigno.
Tenho a sorte de conhecer seu ser verdadeiro, um ser humano com inteligência e vontade. Demim você não acata nada.
Só gostarei que você mostrasse um pouco da força que mostra diante de mim a seu irmão e à sua mãe. Você diz que isso é insignificante, mas eu não creio. Eu temo o hábito de “apertar-se” também em você, minha querida Martha. Um ser humano deve manter a cabeça livre em todas as circunstâncias.
A única característica que me é antipática em minha menina tão perfeita é, precisamente, essa sua tendência a sacrificar tanto do seu ser em nome do conforto e do aconchego, como diz o idioma dos Bernays. Isso me lembra, de maneira muito dolorosa, de um horrível provérbio pronunciado por Minna: “Se Martha estivesse sentada à janela e o mundo estivesse vindo abaixo ela diria: ‘Que pensa, eu estava tão acomodada.”’
Sem descanso
Desde que eu ouvi essas palavras, elas têm me devorado por dentro e estou firmemente decidido a não descansar enquanto ainda for capaz de encontrar um rastro sequer disso em minha Martha.
Pode responder com fúria, pois eu não vou voltar tão cedo à casa dos Bernays. Não me agrada ver como, num lar tão preocupado com suas formalidades, o dono da casa transgride impunemente as mínimas regras de convívio com sua total ausência de restrições.
Você permanece minha e vai se tornar como eu quero. Não se engane: Elise, Eli, Fritz e todos os outros já estão mortos para sua sensibilidade. Você pertence inteiramente a mim, e você já percebeu que não estou disposto a dividir você com ninguém. Com cordiais saudações à doce amada,
Sigmund

De Martha para Freud
Amado, malvado e querido
2.9.1882
Meu bom amado, melhor, desagradável, insuportável amigo, meu delicado, maleável tirano, meu Sigi!
Não tenho como colocar um título nesta carta, pois eles estão todos sentados à minha volta. Eli acaba de sair para ir ao centro da cidade, e eu estou aproveitando os poucos minutos que ainda tenho antes de dormir para escrever algumas palavras. Muito obrigado, prezado senhor doutor, por sua grande atenção.
Como o senhor foi capaz de adivinhar quem é o meu poeta predileto? Apenas tenho que lhe confessar que não gosto de textos escritos no verso de fotografias, e que seu estilo me pareceu um tanto grosseiro. Mas não é nada gentil dizer algo assim a alguém...
Seja como for, não tenho nenhuma má intenção, meu amado, único, doce, bom doutor. Excetuando-se isso, estou bem satisfeita com seu estilo e talvez o senhor precise ter um pouco mais de paciência com o meu. Imagine a que ponto eu fui forçada a me superar: não perguntei nada a Eli, nem sobre você, nem sobre as meninas, aliás, quase ainda não tivemos a oportunidade de ficar a sós, pois sempre há um torvelinho terrível, tanta gente à nossa volta...
Mas isso não importa porque sei de tudo sobre você, e em primeira mão. É terrível não receber nenhuma carta sua, e talvez tenha sido um excesso de cautela meu, mas, seja como for, vamos sobreviver a esses poucos dias e é melhor sermos cautelosos do que arriscarmos tudo para satisfazer um pequeno desejo, não é verdade, meu amado? (...)

Sentada sozinha
Se eu penso em você, amado? Em todas as horas. Tive que ouvir reprovações e perguntas urgentes de Eli, que queria saber por que eu sempre queria voltar para casa, “se isso é uma infantilidade, uma tolice”, e se eu não estava me divertindo. Que mamãe estava com saudades de mim e não querida confessá-lo era algo que ele não queria ouvir. (...)
Boa noite e pense na sua Martha! Ouviu?!
Meu amado, você tem sido bem paciente, não é? Sempre que chego em casa me informo exatamente sobre o seu comportamento – e quando ouço algo de ruim, me irrito profundamente, isso eu lhe digo desde já.
Entrementes todos os outros já foram se deitar e eu estou sentada sozinha, a grande folha de papel de carta de meu bom tio está bem cheia, e agora ainda rapidamente envio um beijo a você, meu amado, malvado e querido homem. (...)


(Traduções de Luis Krausz para a Revista Cult nº 161)