Módulo VII- Semiologia Psicanalítica
Ocorrerá nos dias 07 e 08 de Novembro
Av. Loureiro da Silva, 2001, mezanino. Sala de Reuniões
INTRODUÇÃO
A psicanálise, a semiologia e a teoria da comunicação podem ser
sistematizadas e integradas de uma maneira metódica e ao mesmo tempo prática no
cotidiano da psicanálise. Este trabalho buscará fundamentar uma
operacionalidade da psicanálise, com contribuições da semiologia e da teoria da
comunicação, com vistas a uma estratégia terapêutica que possibilite cobrir os
níveis da ação analítica, criando modelos que permitam re-orientações
pragmáticas no sentido de facilitar, ao analista, uma visão mais abrangente da
problemática que lhe é exposta pelo paciente. A compulsão à repetição,
localizada a partir das estruturas narrativas, possíveis de serem detectadas e
traduzidas operacionalmente através do material fornecido pelo paciente ao
analista em um sistema de signos passível de codificação e conseqüente
sistematização.
Vivemos no século da comunicação. Para alguns, o nosso mundo
constituiria já uma autêntica "aldeia global", habitada por umas
“tribos planetárias”, possibilitadas uma e outra, pelas novas tecnologias de
informação e comunicação. Para outros, a sobrecarga de "informação" e
"comunicação" não se traduz, necessariamente, em maior aproximação e
solidariedade entre os homens, conduzindo antes a novas formas de
individualismo e etnocentrismo.
"Comunicar" significa, etimologicamente, "pôr em
comum". No processo de comunicação, que simplificadamente podemos entender
como a troca de uma mensagem entre um Emissor e um Receptor, os Signos
desempenham um papel fundamental. Sem Signos, não há mensagem, nada podemos pôr
em comum. Os Signos
são tão importantes que se pode (e costuma) definir, de forma essencial, a
Semiótica como a "ciência dos signos".
A ciência chamada Semiótica, ou teoria geral e da produção dos signos,
teve sua origem na Rússia, na Europa Ocidental e na América. A semiótica,
atualmente, é um campo de grande amplitude e variedade teórica. O autor Charles
Pierce foi o fundador da semiótica. Saussure, no Curso de Lingüística Geral,
falava de uma semiologia, que pode ser comparada ou diferenciada da semiótica propriamente
dita. Atualmente, Umberto Eco é um especialista em semiótica.
As idéias de Saussure foram difundidas por seus alunos Charles Bally,
Albert Sechehaye e Albert Riedlinger com a produção do livro Curso de
Lingüística Geral, construído com base nas anotações de sete dos alunos do
curso homônimo (três versões: entre 1907 e 1911) e de alguns manuscritos do
próprio Saussure. A edição 1916a foi complementada pelo italiano Tullio de
Mauro em 1972, originando uma nova edição standard (1916c). A tradução brasileira
surgiu em 1969 (Saussure, 1916d). Só recentemente, as notas de mais um
estudante de Saussure foram descobertas, resultando na edição, em Tóquio, de um
novo livro intitulado Ö terceiro curso (Saussure, 1993).
F. Saussure
estabeleceu a distinção entre “língua” e “fala” para que o paciente possa
reconhecer um signo como tal e atribuir-lhe seu designado correspondente. É
necessário que previamente possa apoiar-se, por um lado, nas representações
psíquicas (ou significantes) dos “sons” concretos e, por outro, nas
representações psíquicas (ou significados) dos referentes também concretos com
os quais se relacionam esses sons.
Os “signos” psíquicos, no sentido saussuriano do termo, serão
constituídos, portanto, pela união dos “significantes” (ou imagem acústica dos
sons) e dos “significados” (ou conceitos do referente). A oposição de dois
signos complementares determina, por sua vez, uma “estrutura” ou “código”. O
estudo específico da relação lateral que se estabelece entre os significantes
ou entre os significados será denominado por Saussure de “valor”.
O usuário poderá estabelecer relações semiológicas corretas entre
“sinais” e “mensagens” se tiver previamente formado de maneira correta as
classes significantes e significadas correspondentes.
Quando o usuário funciona como emissor e transmite uma mensagem por meio
de um sinal, faz um “incoding”, uma codificação. Quando funciona como receptor,
recebe um sinal e dele deduz uma mensagem, faz um “decoding”, uma
decodificação. As mensagens inconscientes, por exemplo, seriam essas
automensagens que o sujeito codifica por si mesmo e que depois não sabe mais
decodificar. Dentro dessa perspectiva, o psicanalista trabalha a título de
intérprete entre o inconsciente, emissor que transmite codificado, e o
pré-consciente, receptor que não pode decodificar esse código sob pena de
experimentar desprazer.
Na patologia da comunicação do paciente psicanalítico, vemos fenômenos
de codificação ou de decodificação patológicas ligadas a uma delimitação
incorreta de classes significantes e de classes significadas; o que tem como
conseqüência uma pragmática incorreta da comunicação. O paciente psicanalítico
se põe em comunicação patológica, de um ponto de vista pragmático, com seus
objetos - na transferência, com seu analista -, na medida em que as classes
significantes de seu código informativo (equivalentes, às representações de
palavras segundo Freud) e as classes significadas desse mesmo código (ou
representações das coisas).
Foi através dos trabalhos de Melanie Klein, Hanna Segal, Wilfred R. Bion
e outros autores da escola inglesa, bem como através dos de Jacques Lacan,
André Green, Jean Laplanche e outros autores da escola francesa, que
progressivamente tomamos consciência da importância de que se revestem os
símbolos e os signos na teoria e na prática psicanalíticas, a tal ponto que
acabaram surgindo para nós como domínio específico das pesquisas e modificações
constitutivas do trabalho do psicanalista.