INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

sábado, 1 de fevereiro de 2014

A Psicanálise

Castilho Sanhudo- Psicanalista Didata
Inicialmente seria interessante entender a diferença entre terapias e psicanálise, antes de nos aprofundarmos no conceito do que vem a ser psicanálise. Para tanto pode-se lançar mão de um antigo ditado: "Todos os caminhos levam a Roma". As terapias seriam todos os caminhos e a psicanálise seria um deles. A psicanálise portanto é um tipo de terapia, que possui um campo teórico e técnicas que lhe são particulares.
Mas onde se pretende chegar através da psicanálise? Aqueles que se dispõem trilhar esse caminho o iniciam por diversos motivos: autoconhecimento, angústias, depressão, sintomas físicos dos mais diversos sem origem conhecida, etc... Porém mais importante de onde se parte é para onde se deseja chegar. Nesse sentido a psicanálise é um processo de autoconhecimento, é a análise de si mesmo com a ajuda de um profissional - o psicanalista.
De forma geral os sintomas, seja qual a forma que ele tome na vida de uma pessoa, são substitutos de processos inconscientes, traumas, desejos não revelados, etc... que permanecem a margem de nosso conhecimento. Quando tomamos contato com eles e os integramos de forma harmônica ao nosso psiquismo, os sintomas tendem a desaparecer. Nem sempre esse processo é prazeroso, e é uma verdade que muitas vezes ele é difícil, mas que no fim é extremamente compensador. A psicanálise portanto é um processo de "re-construção" de nós mesmos, escolhendo caminhos que muitas vezes estavam fechados, e com isso abrindo caminho para a mudança de nosso futuro. É importante entender e frisar que como toda terapia da fala, o desejo do paciente pela mudança é a força motora do processo, e que sem esse nada pode acontecer.
A psicanálise numa única frase é a investigação do inconsciente.
 Muitos autores costumam situar o início da psicanálise por volta do século XIX, com os trabalhos de Pinel e Charcot, dois ilustres psiquiatras. Pessoalmente prefiro localizar as raízes da psicanálise nos gregos antigos, com o início da filosofia.
Freud define em várias passagens que uma das missões da psicanálise seria levar o ego (nosso processos mentais conscientes) onde está o ID (nossos processos mentais inconscientes). Se o objetivo para os gregos da filosofia era levar a razão onde estava o mito, então podemos localizar o gene da psicanálise, a primeira tentativa de autoconhecimento nos antigos gregos. "Conhece-te a ti mesmo" - aqui reside a máxima da psicanálise.
Foi a partir do gênio de Sigmund Freud que a psicanálise tomou a forma que a define e a distingue de outros tipos de psicoterapia até hoje. A partir dos seus estudos sobre o inconsciente, os sonhos, a sexualidade infantil, a transferência, a repressão, as resistências as psicopatologias como neuroses obsessivas e histerias puderam ser tratadas de forma satisfatória, devolvendo qualidade de vida para esses doentes.
Freud escreveu uma vastíssima obra por mais de quarenta anos. Sua obra engloba estudos de psicologia, sexualidade, antropologia e até mesmo crítica literária. Como tratou de todos esses assuntos sobre uma ótica psicanalítica.


sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Personalidade Introvertida (e Timidez)

A supervalorização das atitudes objetivas atualmente faz os dotes afetivos serem desvalorizados. 

Como um modo de ser, a personalidade define a maneira através da qual a pessoa incorpora suas experiências de vida, como constrói o seu mundo interno e sua consciência com seus significados e escalas de valores e como reage a tudo isso. A personalidade teria, assim, uma determinada forma (componente constitucional, biológico), sobre a qual a vida acrescenta continuadamente um conteúdo (componente vivencial, emocional).
É como se o conteúdo do indivíduo fosse uma sopa cujos ingredientes são fornecidos pelas vivências, conteúdo este colocado dentro de uma sopeira, cuja forma é definida pelos traços da personalidade. Apesar das várias formas de sopeiras, elas existem em número limitado (podemos classificar as personalidades de acordo com a predominância dos traços), as sopas, entretanto, terão infinitos sabores, dependendo dos temperos que a vida de cada pessoa possa oferecer. Assim, é importante distinguir claramente a forma da personalidade e o conteúdo da pessoa, a primeira de natureza constitucional e mais estável e, o segundo, de origem vivencial e características psicodinâmicas.
A personalidade do indivíduo deve ser definida – até por conceito – de tal modo que tenha a mesma forma desde muito precocemente até a sua morte ou então não seria um qualificativo daquela pessoa. O indivíduo faz-se representar por sua personalidade como uma maneira própria de apreender a realidade e construir seu conteúdo mental. Entre as variadas maneiras de classificarem-se as formas de personalidade, uma das mais simples e verdadeira é em relação ao temperamento introvertido e extrovertido. Há pessoas, extrovertidas, animadas, barulhentas e comunicativas, outras são retraídas, tímidas e muito preocupadas com a opinião dos demais. Essas diferenças fazem parte d os tipos psicológicos extrovertido e introvertido.
Como o nome diz, Introvertida é a pessoa que orienta seu foco de atuação predominantemente para dentro, para a introspecção, se mobiliza mais pelo subjetivo que pelo objetivo. A pessoa introvertida sempre elabora uma opinião subjetiva a partir da percepção do objeto (do mundo), de forma que este tenha algo a mais daquilo que é oferecido pelos órgãos dos sentidos, ou seja, um caráter subjetivo.
Enquanto a personalidade Extrovertida predominantemente se prende àquilo que recebe do mundo através dos órgãos dos sentidos, a pessoa introvertida se prende, sobretudo, à impressão subjetiva que o mundo é capaz de produzir nela. A pessoa introvertida, por exemplo, tem a sensibilidade necessária para compor uma música, enquanto a pessoa extrovertida tem mais facilidade para dançar essa música. A apreensão rítmica e coordenação motora são habilidades próprias do extrovertido.
Apesar da pessoa introvertida também observar as condições exteriores e objetivas (falamos “predominantemente” no parágrafo anterior), ela elege os fatores subjetivos como os elementos decisivos da existência e da realidade, portanto, apesar de ser uma pessoa que também se orienta pela percepção e pelo conhecimento como todas as outras, ela privilegia o componente subjetivo, aquele que ultrapassa a excitação fisiológica dos sentidos. Para o introvertido os sentimentos associados a um odor são muito mais importantes que o próprio cheiro, enquanto o extrovertido tem mais facilidade para descrever esse cheiro.
Quando duas pessoas se deparam com um mesmo objeto (evento, situação ou fato), nunca se poderá afirmar que elas o percebam da mesma maneira. Mesmo deixando de lado as diferenças neurosensoriais e fisiológicas que existem entre as pessoas (uns enxergam melhor, ouvem melhor, etc.), sempre existirão muitas e profundas diferenças no significado e na representação psíquica daquilo que é percebido, conseqüentemente, daquilo que é assimilado.
O mundo moderno, pleno que é de sons, imagens e toda sorte de estímulos sensoriais, valoriza significativamente o contacto objetivo e extrovertido com as coisas, com as formas, com as cores, com os preços, os tamanhos, etc. Por causa dessa supervalorização do conhecimento objetivo, os dotes sentimentais e afetivos das pessoas mais sensíveis e mais aptas a atribuir significados subjetivos às coisas, acabam sendo desvalorizados.
Um estilista de moda, por exemplo, tem probabilidade muito maior de ter um temperamento extrovertido, enquanto o estudioso de moda, da história da moda através dos tempos, das tendências estéticas e do conceito da forma, por exemplo, tende a ser introvertido.
A disposição subjetiva das pessoas introvertidas, em princípio, é um dote do temperamento recebido por herança e constitui uma característica definitiva da pessoa. Trata-se de uma sensibilidade psicológica inata, nasce com a pessoa. As considerações subjetivas das pessoas introvertidas são mais influentes que o objeto concreto e o valor psíquico dessas concepções subjetivas sobrepõem-se à impressão sensorial objetiva que se tem do próprio objeto. (......)
Conclusão
A extroversão e introversão são tipos de temperamento e dizem respeito à disposição da pessoa em relação ao mundo à sua volta, dizem respeito ao tipo de relacionamento do sujeito com o objeto.
Embora haja enorme diferença na representação, percepção e concepção do mundo entre as pessoas introvertidas e extrovertidas, não existe, automaticamente, conotação de valor (positivo ou negativo) em nenhuma dessas duas disposições da personalidade, pois a sociedade humana precisa dos dois tipos.
É comum entre as pessoas introvertidas existirem pessoas também tímidas. Geralmente essa timidez não preenche critérios de transtorno emocional suficientes para um “tratamento”, outras vezes esse traço implica em sofrimento ou prejuízo no desempenho pessoal que merece atenção especializada.
para referir:
Ballone GJ - Personalidade Introvertida (e Timidez), in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=178, revisto em 2009.


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

EPICURO – O profeta do prazer

EPICURO – O profeta do prazer

Epicuro de Samos foi um filósofo grego do período helenístico. Seu pensamento foi muito difundido e numerosos centros epicuristas se desenvolveram na Jônia, no Egito e, a partir do século I, em Roma, onde Lucrécio foi seu maior divulgador

É UMA das ironias da sorte que o homem, que deu origem à filosofia epicurista do prazer desenfreado, não tivesse sido êle próprio um epicurista. A palavra epicurista hoje indica a excessiva indulgência no comer e no beber. E’ sinônima de intemperança. Contudo Epicuro, o fundador dessa escola filosófica, foi um dos homens mais temperantes do mundo. Longe de comer em excesso, contentava-se com uma simples refeição de bolo de cevada e água.
Como aconteceu então que Epicuro aparece na história como o filósofo do prazer ? A resposta é que há duas espécies de prazer: os prazeres do estômago e os mais tranquilos prazeres do pensamento. Epicuro advogou essa segunda espécie de prazer.
Epicuro era na realidade um pessimista. Mas um pessimista sorridente. A vida, dizia êle, é quando muito uma tragédia. Não somos os filhos de Deus, asseverava êle, mas os enteados da Natureza. Nascemos, vivemos e morremos por acaso. E depois da morte não há outra vida. Epicuro não acreditava na imortalidade. Mantinha contudo que era um dever do homem tornar a sua vida presente a melhor possível. E a melhor espécie de vida, dizia êle, era uma vida de prazer — não de prazer turbulento, mas de prazer refinado. Cultivai a felicidade da vida simples. Aprendei a gozar do pouco que tendes, e evitai os ex-citamentos de ambicionar mais. Sede contentes. Cultivai um tranquilo senso do humor. Adiantai-vos, por assim dizer, pelas linhas laterais do desordenado jogo da vida. Aprendei a sorrir diante das loucas ambições de vossos amigos. Mas aprendei também a auxiliá-los nas suas necessidades. Desenvolvei o talento de adquirir amigos. Não podeis ser mais felizes do que quando partilhais vossa felicidade com vossos amigos. De todos os prazeres do mundo, o maior e o mais duradouro é a amizade.
Epicuro mostrou-se um amigo tão devotado porque era um egoísta. E nisso, como vereis, não há paradoxo. Epicuro pregou a doutrina do egoísmo. Mas era uma nova espécie de egoísmo: era um egoísmo esclarecido- Esse egoísmo esclarecido baseia-se na regra do dar e tomar, Deveis dar prazer afim de receber prazer. Ora, usando isso em termos negativos, não deveis infligir qualquer injúria, se não desejais sofrer qualquer injúria. Vivei e deixai viver. Por outras palavras, o mais sensível meio de ser egoísta é não ser egoísta. Sereis vosso melhor amigo, sendo um bom amigo para os outros.
E assim a filosofia de Epicuro baseia-se no prazer, da amizade. O próprio Epicuro tinha o talento da amizade. Sua maior felicidade era comer na presença de seus amigos. "E’ mais importante, dizia ele, saber com quem comeis, do que o que comeis."
Epicuro foi dessa forma o profeta do prazer e o apóstolo da amizade. E, além disso, tem outro motivo de ser lembrado. Foi o primeiro homem da história, pelo que sabemos, a sugerir a teoria darwiniana. Escreveu um esboço, extraordinariamente moderno, da evolução, 2.300 anos antes de Darwin.

Fonte: Maravilhas do Conhecimento Humano, 1949. Tradução e Adaptação de O. Mende