Libido integrada as pulsões
que nos levam da vida à morte: uma reflexão quase que musical
Trabalho realizado pela aluna, Ieda
Risco
Curso livre de Capacitação em Psicanálise - SPOB-POLO/RS
Na canção de Ana Carolina já se
pode ver a presença desta energia - que de tão potente até mesmo foi um dos
ingredientes de ruptura entre os mestres Freud e Jung - em quase toda a nossa
vida. Talvez a cantora e compositora brasileira não tenha percebido, ao
escolher o tema, que se trata da fonte impulsionadora da vida e apenas tenha
buscado sua inspiração na parte popularmente conhecida como apimentada da
libido.
No anúncio da revista ou na
obra de arte
Na foto do jornal ou na letra
do encarte
Suíte do motel, sala do
'apart'
No meio, bem no meio o calor
que invade
A libido está em toda
A libido está em tudo
A libido está em toda parte
A libido está em toda parte
Nas cabeças de Platão,
Maquiavel e Descartes
No azul da atmosfera ou
vermelho de Marte
Na porta do seu corpo ou
porta-estandarte
No topo de um vulcão ou
fulminando de enfarte
A libido está em toda
A libido está em tudo
A libido está em toda parte
A libido está em toda parte
No mundo virtual ou na
realidade
No 'hall' do elevador, na mão
do biscate
No gesto do plebeu ou da
majestade
Em quem chega cedo ou em quem
já vai tarde
A libido está em toda
A libido está em tudo
A libido está em toda parte
A libido está em toda parte
Pulsando na pureza ou na
crueldade
Na ânsia do desejo ou na
rivalidade
Às vezes até finge só amizade
Mas move o mundo inteiro sem dó
nem piedade
(Libido -Ana Carolina e Edu
Krieger)
Contudo, para que Ana Carolina
levante da sua cama num dia qualquer, e durante um banho reconfortante passe a
vocalizar uma melodia que em seguida será repetida ao piano ou ao violão e
encaixada em uma poesia que brotará como que instantaneamente, falando sobre
“um complexo toque sutil sentido quando a seda da blusa desceu durante aquele
beijo”..., não bastará o conhecimento técnico de rima e métrica. Não será
suficiente a afinação, o dó e o sol. Será preciso, antes de mais nada, a força
da libido para que saia do conforto das cobertas e vá trabalhar, sentindo
prazer.
Neste ponto, é possível que se
tenha gerado uma confusão entre os mais aprofundados no tema e o meu discurso
informal. Não, meus caros, leitores. O que nos move e nos faz seguir todos os
dias de cabeça erguida, com energia, não são só nossos cafés da manhã
posteriores a boas noites de sono, e sim uma força que nos faz levantar e ter o
desejo de realizar estas simples
tarefas, como passar um café, aquecer um leite, provar uma fruta fresca e sentir
prazer em cada repetição do cotidiano.
E quando o fazemos desta forma,
estamos emanados pela pulsão de vida, onde nossas cores são mais vibrantes,
nossas emoções nos parecem bem mais claras e onde a libido está diretamente
relacionada a este verdadeiro descarrego energético, e sem ter o desejo sexual
em primeiro plano.
Está confuso entender? Então
vamos passar para o lado mais popular do assunto, numa total inversão de
valores, pois talvez fixe melhor. Se coloque na seguinte situação. Você está se
sentindo tão pra baixo, tão acabado, tão sem graça, não tem vontade de sair de
casa, que anda de calça de abrigo já desbotada, chinelo largo, camisetão, barba
por fazer...Sentado na janela, vê aquela moça bonita que sempre lhe agradou.
Então você pensa “...é, nem é tão jeitosinha assim”. Você está totalmente sem
libido. E em pulsão de morte. Não que queira se jogar da janela, mas a vida não
parece fazer tanto sentido, ter tanta graça. Se nem a moça bonita lhe chamou a
atenção...Está na hora de saber o que lhe incomoda. De voltar a se vestir bem, de
ter vontade sair à rua, de novamente encontrar a garota no armazém da esquina
e, quem sabe, dizer um olá para ela. Vai que ela lhe dê um sorriso em resposta?
Agora ficou mais fácil entender?
Esta foi a forma com a qual eu consegui explicar, a mim mesma, tudo que li até
agora sobre o tema. Foram textos de Cláudio Eizerik, de Arlete Garcia Lopes, do
blog monitoriapsicanalisesp.blogspot.com.br das alunas da professora
Paula Peron, entre outros, que mostram que a energia sexual do ser humano e sua
psiquê está diretamente ligada a teoria das pulsões. O que me remete a uma
propaganda veiculada em televisão de um centro clínico que trata de impotência
masculina. O lema é “sexo é vida”. E quantas pessoas entram em pulsão de morte
por questões sexuais que não são físicas e sim psíquicas, e passam anos
tratando o corpo enquanto o que precisam é da cura pela palavra? E outras
tantas que se consideram plenas de vida, ativas sexualmente, e não sabem o
quanto estão em pulsão de morte com uma “libido” extrema também por questões de
sua sexualidade não resolvida?
Enquanto o nosso desejo de viver
for a energia que nos impulsionar a buscar uma vida completa e equilibrada, que
nossas mentes ouçam e nossas bocas falem o que seja necessário para mantermos o
fluxo perfeito de nosso corpo/psique em movimento.
Porto Alegre, 2 de maio de 2014.