INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

sábado, 27 de julho de 2013

Os Transtornos Psicossomáticos


“Quando o sofrimento não pode expressar-se
pelo pranto, ele faz chorarem
 os outros órgãos”.
 W. Motsloy

 Para a Psiquiatria os transtornos psicossomáticos são considerados como fatores psicológicos que afetam as condições médicas de atendimento ao sujeito adoecido em sua interação entre mente e corpo. No Compêndio de Psiquiatria, encontramos a descrição de que fatores psicológicos são importantes no desenvolvimento de todas as doenças. Os debates entre estudiosos do assunto recaem sobre a iniciação, o progresso, o agravamento ou a exacerbação de uma doença, ou então na predisposição e reação à doença, variando de acordo com a doença.

         O termo “psicossomático” tornou-se parte do conceito mais amplo de medicina comportamental, definido em 1978, pela Academia Nacional de Ciências (norte-americana), como a “área interdisciplinar envolvida com o desenvolvimento e integração dos conhecimentos e técnicas das ciências comportamentais e biomédicas relevantes para a saúde para a doença e com a aplicação destes conhecimentos e técnicas à prevenção, diagnóstico e reabilitação”. Medicina comportamental, portanto, é um termo mais exclusivo para a área da medicina psicossomática. (KAPLAN, 1997, pág. 706)

           Freud demonstrou a perplexidade do relacionamento entre fatos da vida psíquica e os da vida orgânica ao dizer “Aquele misterioso salto da mente para o corpo”, na complexa tessitura dos sintomas. Ao se deparar com traumas emocionais nos quais os pacientes sofriam desencadeamento de sinais e manifestações físicas tais como paralisia, surdez, cegueira entre outros, ele esteve diante de um episódio psicossomático. Em 1900, ao descrever a histeria conversiva e dissociativa, consideradas como simulações, a qual tem a origem psicogênica, expunha sobre o envolvimento somático, antecipando a questão da psicossomática. Em seu entendimento a energia psíquica represada em função de um conflito psíquico é descarregada por escapes fisiológicos. A histeria tem sempre uma causa e um significante primário, representando a expressão substitutiva simbólica de um conflito inconsciente, o qual busca uma descarga.      
             Ferenczi, em 1910 interpretava os sintomas psicossomáticos como sendo reações conversivas às doenças. Para este autor e discípulo de Freud, o conceito de histeria conversiva se aplicava aos órgãos inervados pelo sistema nervoso autônomo. Essa premissa vem sendo aplicada hoje a doenças, como por exemplo, a “colite”, a “asma brônquica”, ou seja, como “doença psicossomática”.  A compreensão dos fenômenos mentais segue o modelo básico do “arco-reflexo” na dinâmica psíquica. As funções mentais aproximam-se pelo mesmo ângulo das funções do sistema nervoso em geral, cujos estímulos externos, ou provenientes do organismo, ou do corpo, iniciam um estado de tensão que exige uma descarga motora, ou secretória, que ao acontecer acarreta o relaxamento.
               Sob este ponto de vista, pode ser afirmado que a psicanálise busca explicar os fenômenos mentais como o resultado da interação e da contra-ação de forças, de forma dinâmica, onde estas forças inter-atuantes constituem o resultado do conceito de energia psíquica, proposto por Freud.    
Conteúdo pertencente à Apostila – Fenômenos Psicossomáticos            

Curso Livre de Capacitação em Psicanálise – SPOB-POLO/RS

quinta-feira, 25 de julho de 2013

A Psicanálise e a Educação do Ser


A Psicanálise se constitui em um saber próprio construído a partir da escuta clínica. É regida por uma ética peculiar na sua prática, seu campo é delimitado e não se confunde com teorias oriundas da Psicologia Desenvolvimentista e nem com a Teoria de Aprendizagem. Esse saber influenciou e influencia o campo da Educação, tendo em vista que, a partir da Psicanálise e seus conceitos fundamentais, é possível pensar naqueles sujeitos que ─ anatomicamente perfeitos ─ não conseguem aprender e não respondem de forma harmoniosa aos estímulos externos propiciados pelos diferentes modelos pedagógicos.
A Educação do Ser envolve um estudo das várias fases do desenvolvimento humano, desde a fecundação até o fim da vida, fases essas que sofrem influências as mais variadas pelos educadores, cuidadores, ambiente familiar e ambiente social, onde circunstâncias culturais incutem valores, marcas verdadeiramente indeléveis na formação do Ser.
A criança pequena tem uma necessidade inconsciente muito forte da mãe, com a expectativa ─ baseada em experiências anteriores ─ de que ela atenda ao seu choro. Sua ansiedade é aguda quando parece tê-la perdido, é confusa e assustada em um ambiente desconhecido, procura recapturá-la excitando ao máximo seus recursos. Fica inundada pelo medo e pelo desejo do afeto que somente sua mãe pode lhe proporcionar. Com frequência chora alto, balança o berço, joga-se para o lado e busca ansiosamente qualquer sinal ou som que possa ser de sua mãe desaparecida.
No desenvolvimento desse pequeno ser devemos considerar as fases até a vida adulta. Esses períodos são de intensas marcas de afetos variados e incompreensíveis, sofrem a influência dos valores culturais da família e dos educadores, que têm seus valores pessoais desenvolvidos numa cultura própria, podendo ser um modelo arcaico e autoritário.
Pode-se perguntar a quem cabe essa responsabilidade da educação e poderemos responder: a todo um conjunto do meio em que o ser se desenvolve. Não se pode responsabilizar totalmente a escola, mas sim a estrutura familiar onde a criança forma seu ego e seu consciente. Os pais estão devidamente preparados para educar? Vamos buscar uma resposta pensando como éramos aos 20 / 25 / 30 anos para entender que não sabíamos nada de como educar um filho. Pensávamos saber tudo, tendo repassado, então, os valores que herdamos da nossa família, do pai ou da mãe, dos avós, ou de quem nos criou. Despreparados, sem frequentar uma Escola de Pais, agimos como donos da verdade, verdade essa que não existe, as experiências precisam ser elaboradas para cada ser. O que vale, mesmo, são os valores pessoais desenvolvidos pela cultura e pelas vivências. Psicanálise e Educação têm um vínculo que precisa ser reforçado para lidar com os anseios dos educadores e educando em suas neuroses e a melhor compreensão das necessidades humanas dos alunos.
Antonio Lopes - Psicanalista Didata
Professor e coordenador do Curso de Psicanálise
Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil

(47) 9923 4913 / 8462 5692

segunda-feira, 22 de julho de 2013

A palavra e seus poderes em Freud

-Daniel Delouya
Carrego meus primórdios num andor.
Minha voz tem um vício de fontes.
Eu queria avançar para o começo.
Chegar ao criançamento das palavras.
Lá onde elas urinam na perna...

Manoel de Barros (1996),
“Você vai lá só para isso, só para falar?! Fale comigo, e faço isso (brincando) por um terço do preço de seu analista.” Comentário, surpresa e risos de leigos que ainda ressoam nos ambientes sociais de nosso tempo. “O leigo teria, certamente, dificuldades em entender como é possível eliminar distúrbios da mente e do corpo ‘tão-somente’ pelas palavras do médico” (Freud, 1890/2002). “Quer que eu acredite em mágica?”, pergunta, atônito, o leigo de Freud. O leigo adivinhou, afirma Freud, pois as palavras de nosso cotidiano “não são outra coisa senão um feitiço que perdeu a sua eficácia”. Um “tratamento psíquico, tratamento da alma” (título desse artigo de 1890) consiste, justamente, em afetar a alma por meio de palavras, desde que a elas se devolva o seu poder originário de feitiço.
Nenhum de nós, pacientes e analistas experientes, escapa da surpresa desse poder mágico das palavras ao serem proferidas seja por nós, seja pelo outro.Um efeito que logo se esvai por detrás da consciência empírica do senso comum da vida da vigília. Episódios como “Falei coisas que jamais pensei em dizer” ou “O que você falou me tocou de tal modo” têm um efeito, por vezes, drástico e determinante para manter a análise em curso, ou outra relação qualquer. A mesma surpresa reemerge, do lado da analista, quando se dá conta do efeito de uma palavra que emitiu. Ação mágica das palavras que é facilmente detectável em crianças quando contestam com veemência – “Mas a minha mãe falou!” –, ou no adolescente – “Ela falou e com isso quebrou minhas pernas” –, sem esquecer que uma palavra do amante, ou do chefe, pode tanto transformar nosso estado de mente como levar alguns a loucura e outros ao suicídio.

Todo o esforço da nova ciência, segundo Freud, consiste em devolver às palavras o seu poder mágico. E esse poder, continua ele, se origina na psique, na alma. Não significa, necessariamente, que a alma é feita de palavras ou se estrutura como linguagem, como alguns diriam mais tarde, mas que talvez exista algo na alma que confira esse poder central às palavras. Cem anos mais tarde,André Green (1983) reforçou essa missão freudiana, com outras palavras, ao dizer que “cabe à análise tirar a palavra de seu luto”, desenlutá-la.