INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Ensaios sobre a sexualidade

Ensaios sobre a sexualidade

Há 100 anos Sigmund Freud publicava um clássico da psicanálise
Que lugar ocupam hoje as teorias sexuais de Sigmund Freud (1856-1939) apresentadas há um século na obra Três ensaios sobre a sexualidade? Esse texto, que figura ao lado de A interpretação dos sonhos como o mais importante trabalho do autor, provocou reações indignadas entre seus pares. O que mais chocou os contemporâneos de Freud foram as teses sobre a existência de uma sexualidade infantil, que a muitos parecia uma idéia indecente. Embora hoje conceitos como auto-erotismo, pulsões, instintos sexuais, recalque, complexo de Édipo, entre outros, façam parte do cotidiano e estejam presentes em livros e revistas de orientação a pais, foram necessários mais de 50 anos para se aceitar que é preciso compreender a sexualidade no contexto de uma teoria do desenvolvimento psíquico, que tem início no nascimento. Entretanto, os avanços trazidos por Freud nesse campo vão muito além da educação infantil.
 Apesar de ter introduzido a idéia de que há uma ligação entre sexualidade, prazer, motricidade e cognição e de ter mostrado que esses nexos são fundamentais no desenvolvimento de bebês e crianças, Três ensaios sobre a sexualidade também chocava pelo modo como Freud concebia o comportamento sexual adulto. As atividades sexuais que não estivessem diretamente envolvidas na procriação (sexo oral e anal, sadomasoquismo, exibicionismo, voyeurismo, fetichismo etc.) eram na época consideradas “desvios sexuais“. Embora já há muito tempo houvesse militantes a favor de várias práticas sexuais, tentando tirá-las da sombra, Freud – diferentemente do Marquês de Sade (1740-1814) ou dos sexólogos da época – propôs um modelo de desenvolvimento psicossexual que incluía esses aspectos eróticos a partir de argumentos teóricos e observacionais. 
 Ressaltando a plasticidade da sexualidade humana, Freud argumentava que as diversas tendências “perversas“ emanavam de zonas erógenas universalmente presentes no ser humano, em parte já pré-formadas e em parte erotizadas a partir de experiências da infância e dos estímulos oriundos do mundo adulto. Segundo Freud, cada elemento de nossa matriz erótica (pele, paladar, olfato, tato etc.) – e suas diversas atividades associadas (cheirar, chupar, tocar etc.) – poderia, sob circunstâncias diversas, conhecer maior ou menor grau de autonomia em nossas fantasias e tornar-se predominante ao longo do desenvolvimento psicossexual.
 Adotando uma postura não-moralista e avançada até mesmo para os parâmetros atuais, Freud afirmava que, em suas formas extremas, tais práticas só deviam ser tratadas se trouxessem sofrimento e afetassem a totalidade da psique, o que depende também do contexto social e cultural em que ocorrem. Assim, Freud ajudou a humanizar e a normalizar (não a normatizar) nossa visão dessas práticas (passíveis de condenação social e judicial no seu tempo), encarando-as como peculiaridades individuais ou como preliminares que enriquecem a vida sexual.
 Também é mérito dos Três ensaios a contribuição para a idéia de que a homossexualidade não é uma perversão de caráter ou doença, mas fruto de uma soma de fatores hereditários e adquiridos. Para além das idéias simplistas de degenerescência biológica, Freud tornava mais complexo o ponto de vista genético, fazendo-o interagir com as circunstâncias ambientais. Ao ressaltar a condição intelectual e ética e as realizações artísticas dos homossexuais – sugerindo que, mais do que curá-los, cabia ajudá-los a suportar os preconceitos sociais –, ele antecipou em quase um século o que agora se começa a pensar a respeito da homossexualidade.
 Entretanto, afora os impactos no âmbito da educação, na esfera jurídica e na concepção social de sexualidade ‘normal’, as teorias apresentadas em Três ensaios também foram essenciais para o desenvolvimento atual da psicanálise. O texto concentra um sem-número de problemas que iriam ocupar o próprio Freud e os psicanalistas nas décadas seguintes, sendo hoje muito estudado nos centros de formação psicanalítica em todo o mundo.
  Folha de rosto da versão original de Três ensaios sobre a sexualidade.
 Questões de gênero
De especial interesse para os contemporâneos são as concepções freudianas sobre masculino/feminino. Para Freud, do ponto de vista anatômico e psíquico ninguém é totalmente masculino ou feminino, mas reúne combinações variadas de traços físicos e psíquicos dos dois gêneros. Sua idéia é de que a identidade sexual é uma construção psicossocial. Cada menino ou menina terá de constituir sua sexualidade e identidade a partir de uma bissexualidade potencial. Só ao longo do desenvolvimento psicossexual se desenvolverão ou atrofiarão determinados caracteres masculinos e femininos, formando um mosaico de configurações anatomopsíquicas. De certo modo ele afrouxou as certezas identitárias que a sociedade propõe ao masculino e ao feminino e introduziu uma variável cultural e relativística a partir da qual masculino e feminino designam, mais do que nossa anatomia, a posição que cada indivíduo assume perante o desejo, o gozo e os objetos de prazer.
 Aqui chegamos àquela que talvez tenha sido a mais importante inovação de Freud no campo da sexualidade: o modo como ampliou a noção de sexualidade para muito além da esfera genital. Essas relações abarcam temas tão variados como o conceito de “pulsão parcial“ (prazer ligado à função dos órgãos, a exemplo do prazer que sentimos ao morder algo crocante, ser acariciados ou ouvir um timbre de voz agradável), “gozo passivo”, ”gozo ativo“ (modos como nos imaginamos gozando em relação aos objetos de prazer) e o fenômeno do narcisismo, presente não só no amor como também nas relações humanas em geral (tendência de nos encantarmos com nossa própria imagem, mesmo quando projetada em outrem e reconfigurada naquilo que gostaríamos de ter sido).
 Entre esses conceitos, todos ligados a uma noção de sexualidade expandida, cabem mencionar dois outros que ainda geram polêmica: a “angústia da castração“ e a controvertida “inveja do pênis“. Ambos devem ser entendidos metaforicamente (no contexto freudiano, o pênis não é redutível ao órgão genital masculino, mas à sua mistificação e generalização como símbolo de poder, na forma de ‘falo‘). Apesar da banalização ocorrida posteriormente, o conjunto desses conceitos permitiu que se refinasse em muito a clínica psicanalítica, desvinculando a questão do gênero da anatomia, bem como ampliando a sexualidade para além da genitalidade, introduzindo-a como elemento chave nas diversas patologias do desejo (neuroses).
 Finalmente, para dar uma dimensão da amplitude dos temas abordados por Freud nos Três Ensaios, vale mencionar um que o obcecava e até hoje desafia as neurociências: a transformação de quantidades físico-químicas de estímulos nervosos que chegam ao cérebro em sensações de qualidades psíquicas (prazer e desprazer). Desde seus estudos em neurologia, Freud propunha uma intrincada relação entre quantidades de estímulos acumulados e prazer (carga e descargas de tensão correlacionando-se respectivamente com desprazer e prazer de alívio). Mais tarde, em seu texto O problema econômico do masoquismo, de 1924, essa relação será complementada com a reabilitação de uma hipótese que o próprio Freud havia discutido no texto Projeto para uma psicologia, de 1895, em que defendia a existência de um terceiro fator: o período (ritmo) de disparo sináptico, a ser considerado ao lado dos fatores de intensidade. Ambas as concepções freudianas se recobrem com o entendimento atual da neurologia, que considera, além da intensidade, o ritmo (período) dos disparos sinápticos como fator de modulação qualitativa das percepções afetivas. 
 Ao longo dos últimos 100 anos, as idéias apresentadas nos Três ensaios fizeram história e alteraram profundamente nosso modo de conceber a sexualidade. Embora considerando sempre o muito que ainda não sabemos, Freud abriu caminhos e arriscou hipóteses, muitas das quais seriam rejeitadas ou aperfeiçoadas. Mas, acima de tudo, foi suficientemente corajoso para lançar concepções polêmicas – a exemplo do que haviam feito em seu tempo Sócrates (c. 470-399 a.C.), Galileu (1564-1642) ou Darwin (1809-1882) –  e a pagar um preço por essa atitude. À medida que o impacto das idéias for se diluindo e novas concepções forem se superpondo às teses freudianas, em algum momento os Três ensaios se tornarão parte da história do pensamento. Hoje é um texto vivo que dialoga intensamente conosco, lançando questões para as neurociências, a antropologia, a psicologia social, a análise literária e, acima de tudo, para a psicologia deste início de século 21.


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Tópicos dos textos de Freud

Tópicos dos textos de Freud
(Do livro: "O mal estar da civilização", de Freud e do livro "Freud e a Cultura, de Betty B. Fuks)
  1. Sonhos: a realização de um desejo não-satisfeito que acontece através do conteúdo manifesto. No entanto o significado está nos pensamentos latentes ou pensamentos inconscientes. os pensamentos inconscientes do sonho se disfarçam no conteúdo manifesto
- formas de elaboração onírica: condensação (é caracterizada pela síntese: os sonhos se apresentam breves, concisos e lacônicos); deslocamento: se caracteriza por uma transferência de intensidades psíquicas. Um elemento sem valor psíquico retira a atenção de outro verdadeiramente importante em relação ao desejo do sujeito)
  • Na vida onírica a criança prolonga, por assim dizer, sua existência no homem, conservando todas as peculiaridades e aspirações, mesmo as que se tornam mais tarde inúteis.
  • Nos sonhos o inconsciente se serve, especialmente para a representação de complexos sexuais, de certo simbolismo, em parte variável individualmente e em parte tipicamente fixo, que parece coincidir com o que conjeturamos por detrás dos nossos mitos e lendas.
  • objeção ao fato de entender o sonho como satisfação de desejos: Freud responde: "A ansiedade é uma das reações do ego contra desejos reprimidos violentos, e daí perfeitamente explicável a presença dela no sonho, quando a elaboração deste se pôs excessivamente a serviço da satisfação daqueles desejos reprimidos."
  • Simbolismo: o inconsciente se serve nos sonhos de um "simbolismo, em parte variável individualmente e em parte tipicamente fixo, que parece coincidir com o que conjeturamos por detrás dos nossos mitos e lendas."
  1. Sentido da vida humana: Os homens buscam a felicidade. Há dois aspectos nesta busca: um positivo: a experiência de intensos sentimentos de prazer; negativo: a ausência de sofrimento e de desprazer.
  • Em outras palavras, o propósito da vida humana é o princípio do prazer. Mas a sua efetivação plena é impossível. "As normas do universo são-lhe contrárias". "Só podermos derivar prazer intenso de um contraste, e muito pouco de um determinado estado de coisas."
  • Se a felicidade é mais difícil de experimentar o mesmo não se pode dizer da infelicidade.
  • Somos ameaçados pelo sofrimento, pelo desprazer que vem de três fontes: de nosso próprio corpo (envelhecimento), do mundo externo e de nossos relacionamentos com os outros homens. "O sofrimento que provém dessa última fonte talvez nos seja mais penoso do que qualquer outro."
  • formas de evitar o sofrimento:
a) manter-se à distância de outras pessoas, isolar-se; sujeitar a natureza através da ciência;
b) influenciar o nosso próprio organismo: por exemplo pela intoxicação que pode se dar através de uma droga externa ou através de reações químicas internas) "O serviço prestado pelos veículos intoxicantes na luta pela felicidade e no afastamento da desgraça é tão altamente apreciado como um benefício, que tanto indivíduos quanto povos lhes concederam um lugar permanente na economia de sua libido ( = É a energia inerente aos movimentos e transformações dos impulsos sexuais. É uma palavra latina que significa desejo, vontade). Porém segundo Freud "Sabe-se igualmente que é exatamente essa propriedade dos intoxicantes que determina o seu perigo e a sua capacidade de causar danos. São responsáveis, em certas circunstâncias, pelo desperdício de uma grande quota de energia que poderia ser empregada para o aperfeiçoamento do destino humano."
C) aniquilamento dos instintos
d) SUBLIMAÇÃO: "quando se consegue intensificar suficientemente a produção de prazer a partir das fontes do trabalho psíquico e intelectual" "A tarefa aqui consiste em reorientar os objetivos instintivos de maneira que eludam a frustração do mundo externo." Seu limite: ". Contudo, sua intensidade se revela muito tênue quando comparada com a que se origina da satisfação de impulsos instintivos grosseiros e primários; ela não convulsiona o nosso ser físico." Exemplo: no campo da arte que usa muito a imaginação, a fantasia.
e) rompimento com a realidade: mas a realidade é mais forte e o desprazer e sofrimento sempre estarão presentes.
f) tentativa de obter felicidade no relacionamento emocional com os outros: busca amar e ser amado. Fazer do amor o centro de tudo. Porém: "... nunca nos achamos tão indefesos contra o sofrimento como quando amamos, nunca tão desamparadamente infelizes como quando perdemos o nosso objeto amado ou o seu amor. Isso, porém, não liquida com a técnica de viver baseada no valor do amor como um meio de obter felicidade."
g) Fruição da beleza: "oferece muito pouca proteção contra a ameaça do sofrimento, embora possa compensá-lo bastante."
CONCLUSÃO: ."O programa de tornar-se feliz, que o princípio do prazer nos impõe, ..., não pode ser realizado; contudo, não devemos — na verdade, não podemos — abandonar nossos esforços de aproximá-lo da consecução, de uma maneira ou de outra." Os caminhos podem ser diferentes. Depende de cada um. "O homem predominantemente erótico dará preferência aos seus relacionamentos emocionais com outras pessoas; o narcisista que tende a ser auto-suficiente, buscará suas satisfações principais em seus processos mentais internos; o homem de ação nunca abandonará o mundo externo, onde pode testar sua força"
 Mas Freud diz algo importantíssimos para a psicanálise: ". Qualquer escolha levada a um extremo condena o indivíduo a ser exposto a perigos, que surgem caso uma técnica de viver, escolhida como exclusiva, se mostre inadequada. Assim como o negociante cauteloso evita empregar todo seu capital num só negócio, assim também, talvez, a sabedoria popular nos aconselhe a não buscar a totalidade de nossa satisfação numa só aspiração."
  1. RELIGIÃO: Freud vê nas religiões uma fonte de promessas ilusórias à situação de desamparo originário que marca a subjetividade humana. Apelar a o Pai (Deus) significa pedir proteção contra a castração e a morte em um mundo onde a castração e a morte já estão consumadas. Freud se aproxima do adágio marxista de que "a religião é o ópio do povo"
Porém (e isto é sumamente importante) Freud não teve o objetivo de depreciar a crença religiosa mas combate o discurso religioso que se propõe a rebaixar o valor da vida deformando de forma delirante a forma do mundo real e consequentemente intimidando a inteligência humana. "A psicanálise nos ensina que as instituições religiosas, em sua grande maioria, valem-se da fragilidade do homem diante de seu próprio desamparo para fortalecer suas bases políticas. Unificam os fiéis em torno de uma verdade única, desprezam toda e qualquer expressão subjetiva e impedem o equilíbrio necessário entre o desejo do sujeito e as reivindicações do grupo social" (pág. 33, Freud e a Cultura, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro,ano 2003)
Mas Freud reconhecia a importância da religião como "uma sublimação ideal da humanidade na conquista ética e nos fundamentos da alteridade dos mais diversos povos" (op. Cit. Pág. 34)
  1. AMOR AO PRÓXIMO, AGRESSIVIDADE, REPRESSÃO DA SOCIEDADE:
  • Há uma oposição entre a nossa libido que quer se restringir ao amor entre duas pessoas e a civilização que exige a extensão da libido a um número maior de pessoas. "Convoca a libido inibida em sua finalidade, de modo a fortalecer o vínculo comunal através das relações de amizade. Para que esses objetivos sejam realizados, faz-se inevitável uma restrição à vida sexual."
  • Por isto a sociedade emprega "métodos destinados a incitar as pessoas a identificações e relacionamentos amorosos (este é o sentido do mandamentos de amar ao próximo e até os inimigos) porque segundo Freud "... os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que, no máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo contrário, são criaturas entre cujos dotes instintivos deve-se levar em conta uma poderosa quota de agressividade."
  • O fim da propriedade privada com o comunismo é a solução para acabar com a agressividade humana? Freud não acredita nisto pois "a agressividade não foi criada pela propriedade. Reinou quase sem limites nos tempos primitivos, quando a propriedade ainda era muito escassa, e já se apresenta no quarto das crianças, quase antes que a propriedade tenha abandonado sua forma anal e primária; constitui a base de toda relação de afeto e amor entre pessoas ( com a única exceção, talvez, do relacionamento da mãe com seu filho homem).
  • Exemplo desta agressividade indestrutível através : Narcisismo das pequenas diferenças
+ O "Narcisismo das pequenas diferenças" está na base da formação do "nós" e do "outro". Ocorre na tensão entre povos vizinhos (por exemplo nas rixas entre brasileiros e argentinos), entre indivíduos de estados diferentes de um mesmo país (exemplo: entre cariocas e paulistas). São pequenas diferenças reais que criam impedimento para que o outro seja um perfeito semelhante. Tal fato deixa claro que o ódio não nasce da distância mas da proximidade. "É sempre possível unir um considerável número de pessoas no amor, enquanto sobrarem outras pessoas para receberem as manifestações de sua agressividade." O grupo produz seu outro partir do qual forja sua própria identidade eliminando as diferenças internas, fabricando uma unidade fictícia com o objetivo de perpetuar sua dominação. Cria-se imaginariamente um EU IDEAL. Em nome do amor à unidade, ficam abolidas as vontades individuais. O eu ideal se liga com o pai ideal na figura do Fuhrer, cuja vontade se confunde com a lei. Como no estado religioso há a ilusão de que o "líder carismático tem o poder de salvar a todos do desamparo primordial e da angústia real" assegurando "as reivindicações narcísicas de cada membro". (op. Cit. Pág. 47)
Mas isto só será possível se se eliminar ódio no interior do grupo. Então ele é dirigido contra o estrangeiro e este ódio favorece a coesão da comunidade. Ou seja, reprime-se o ódio ao idêntico a quem se ama para direcioná-lo ao outro, à alteridade. "Em nome do amor entre os membros a quem abraça, uma organização permite e incita a todos que expressem intolerância e crueldade contra os estrangeiros, aqueles que não aderem à concepção de mundo e à ideologia que ela difunde."
CONCLUSÃO: o fenômeno do narcisismo das pequenas diferenças desemboca na segregação e no racismo. "A vontade de uniformização dos indivíduos manifestada pelo nazismo, pelo fascismo e pelo stalinismo se inscreve para além da tendência de apagar a diferença no interior do grupo e passá-la para fora. Ela propõe o pior a eliminação de qualquer diferença, mesmo quando fora do conjunto" (op. Cit. Pág. 51)
Em "O mal estar na civilização" Freud alude ao fato de não ter sido por mero acaso que o sonho de um império germânico universal tenha precisado criar o anti-semitismo como seu complemento. O Reich alemão logrou instalar a segregação e a intolerância como meio de garantir o sucesso de sua unidade política.
"Obrigando o sujeito a escolher seu objeto de amor no interior do grupo, ficava abolida, de imediato, a proibição simbólica do incesto. Essa estratégia de burlar a castração imposta pela lei paterna marca um revés fundamental: a organização social fica ordenada sob a égide de um regime plantado sobre a denegação da morte e do narcisismo ilimitado." "... Uma das características da modernidade é essa tentativa de restabelecer uma figura de excesso que, oferecendo ás massas a quimera de protegê-la da castração e da morte, desenvolve em troca um poder ilimitado exercido paradigmaticamente nos regimes totalitários. Trata-se, na verdade, de uma estratégia de poder fixada na infantilização do sujeito, em sua dominação real que gera em escala coletiva a destruição e a morte" (op. Cit. Pág. 51)