Sigmund Freud como bom observador que
era, esteve sempre atento às relações estabelecidas entre corpo e psique,
embora em nenhum momento de sua obra tenha definido uma patologia como sendo
propriamente psicossomática. A histeria é o maior exemplo dessas intrincadas
relações com seus significados simbólicos e inconscientes. Aqui também se valeu
da interpretação dos sonhos como ferramenta para desvendar o segredo das
psiconeuroses. Contudo, se inicialmente Freud situou a etiologia das neuroses
na sexualidade adulta, ao final de sua obra ele desfaz essa consideração e,
rompendo com uma cronologia linear, relaciona-a ao desamparo originário que se
reatualiza ao longo da vida humana.
As necessidades fisiológicas repetidas
do bebê exigem satisfações que vão demarcando um território explorado
principalmente na relação com a mãe, permitindo a germinação de uma necessidade
somática em desejo psíquico difuso. Freud refere-se a esses caminhos como
registros que receberão sucessivos significados no decorrer da vida. O acesso à
linguagem, segundo Freud, permitirá a construção de organizações cada vez mais
complexas carregadas de sentidos, quer sejam esses pertencentes aos sistemas
consciente ou inconsciente. Tal configuração determinará que a proposta clínica
possa se situar na possibilidade de se desvelar, via interpretação, esses
sentidos e significados ocultos.
Contudo a linguagem não é capaz de tudo dizer e haverá sempre um espaço
que pode ser considerado como psicossomático. É sobre esse espaço que Freud
indica ser a interpretação ineficaz, posto que não há palavras a serem
recuperadas e nem sentidos ocultos a serem desvendados. É sobre estas questões
que nos debruçamos com mais atenção, para observar e entender melhor os
mecanismos ativos e potenciais, eventualmente disparados para compensar
ausências que poucas vezes são percebidas. Essa linguagem cifrada integra um
nível diferente de comunicação, pois seu entendimento se dá muito mais por
inferência do que por compreensão propriamente dita.