INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A psicossomática implícita na obra de Freud


Sigmund Freud como bom observador que era, esteve sempre atento às relações estabelecidas entre corpo e psique, embora em nenhum momento de sua obra tenha definido uma patologia como sendo propriamente psicossomática. A histeria é o maior exemplo dessas intrincadas relações com seus significados simbólicos e inconscientes. Aqui também se valeu da interpretação dos sonhos como ferramenta para desvendar o segredo das psiconeuroses. Contudo, se inicialmente Freud situou a etiologia das neuroses na sexualidade adulta, ao final de sua obra ele desfaz essa consideração e, rompendo com uma cronologia linear, relaciona-a ao desamparo originário que se reatualiza ao longo da vida humana.
As necessidades fisiológicas repetidas do bebê exigem satisfações que vão demarcando um território explorado principalmente na relação com a mãe, permitindo a germinação de uma necessidade somática em desejo psíquico difuso. Freud refere-se a esses caminhos como registros que receberão sucessivos significados no decorrer da vida. O acesso à linguagem, segundo Freud, permitirá a construção de organizações cada vez mais complexas carregadas de sentidos, quer sejam esses pertencentes aos sistemas consciente ou inconsciente. Tal configuração determinará que a proposta clínica possa se situar na possibilidade de se desvelar, via interpretação, esses sentidos e significados ocultos.
Contudo a linguagem não é capaz de tudo dizer e haverá sempre um espaço que pode ser considerado como psicossomático. É sobre esse espaço que Freud indica ser a interpretação ineficaz, posto que não há palavras a serem recuperadas e nem sentidos ocultos a serem desvendados. É sobre estas questões que nos debruçamos com mais atenção, para observar e entender melhor os mecanismos ativos e potenciais, eventualmente disparados para compensar ausências que poucas vezes são percebidas. Essa linguagem cifrada integra um nível diferente de comunicação, pois seu entendimento se dá muito mais por inferência do que por compreensão propriamente dita.