CURSO LIVRE DE
CAPACITAÇÃO EM PSICANÁLISE
SOCIEDADE
PSICANALÍTICA ORTODOXA DO BRASIL
SPOB-POLO/RS
A Psíque em
Freud
Colaboração da
aluna em formação- Virginia Chist
As observações de Freud mostraram que
existe uma série interminável de conflitos e acordos psíquicos. Para dar
suporte a estes conflitos procurou entender a mente humana. Num primeiro
momento descobriu o inconsciente, além do consciente já conhecido. Porém
observou que este consciente, mais do que revelar, encobria o inconsciente.
Faltava alguma coisa para explicar a complexidade da mente humana: foi quando
apresentou uma nova estrutura, uma tríade.
A psique em Freud está estruturada no
Id, no Ego e no Superego.
Id- é a parte dinâmica do eu, o
repositório dos profundos impulsos instintivos e, portanto, é a parte primária
da psique. Ela é inconsciente e fornece energia psíquica para o funcionamento
de todo o organismo. Sua lei é a obtenção de prazer imediato. A satisfação do
instinto é a “felicidade”, que conforme Hilberg (1959, p.147) “Freud muitas
vezes a ela se refere como se fosse o único propósito da vida”. Mas o que pode
acontecer é que a satisfação imediata dos instintos do id pode colocar o
organismo em situação de perigo e assim criar um conflito com o meio social.
Porém, o id não está “preocupado” porque o que interessa é o princípio de
satisfação do prazer.
Para sobreviver o organismo ativa outra
parte da psique, o ego, que tem como finalidade controlar o id. O ego se organiza
de forma a agir como interface entre o id e o mundo exterior e assim, reprimir
a solicitação instintiva do id e ao mesmo tempo encontrar uma maneira que seja
mais favorável e menos perigosa de obter satisfação considerando o meio
externo. Para atingir este objetivo o ego amadurecido funciona com o princípio
da realidade, se constituindo o elemento racional do eu. Estas duas instâncias
da psique estão continuamente num estado de profunda tensão. Mas a psíque tem
ainda uma terceira instância: o superego.
O superego é, nas palavras de Freud e
citado em Hilberg (1959, p.148) “ o sucessor e representante dos pais e
educadores” e se cria acima do ego do qual se originou, como um monitor íntimo
exercendo os poderes de “observação, crítica e proibição”.
Quando o Id se manifesta, quer prazer
de seus instintos e o superego, sempre atento e vigilante, ao perceber que seus
limites correm perigo, atormenta o id, então o ego procura manter um estado de
razão e sanidade de forma que o organismo fique preservado da concretização dos
instintos de prazer do id de uma forma destrutiva.
O conflito entre o id e o ego se dá nas
profundezas da psíque, mas certamente deixam vestígios na vida social: entre o
eu e o mundo exterior. Freud percebeu que existe um conflito permanente do
indivíduo em direçao à humanização, isto é, da luta entre as ligações
instintivas inconscientes e o ego socialmente responsável.
Segundo Freud, a civilização exige uma
crescente soma de renúncias instintivas.
“[...] a criação
cultural exige soma considerável de energia psíquica, que só pode ser obtida
desviando a primitiva finalidade instintiva e conduzindo-a a propósitos
culturais. Isto se aplica tanto para o sexo como para a agressão, os dois
grandes impulsos aos quais Freud dedicou seus estudos” (HILBERG, 1959, p.149).
A civilização exige extensivas
“restrições à vida sexual” uma vez que a atividade sexual precisa ser
cuidadosamente regulada para interferir muito pouco ou nada na estrutura da
sociedade. Uma boa parte da energia sexual é sublimada.
Sublimação é o processo através do qual a
libido se afasta do objeto sexual para outra espécie de satisfação. Portanto, é
um processo relativo à própria pulsão e não um engrandecimento do objeto, como
idealização. Com efeito, a sublimação permite a possibilidade de atingir certo
grau de satisfação sexual a despeito da defesa e pode ser considerada como um
alívio da pulsão. Ainda, a sublimação de
uma pulsão implica que esta possa se satisfazer com os objetos de substituição
e também que uma satisfação imaginária ou simbólica possa se igualar com uma
satisfação real. O resultado da sublimação é
o desvio da energia libidinal de suas metas originais e investida em
realizações culturais, ou em realizações individuais úteis ao grupo social. E,
apesar de a maioria dos indivíduos não possuírem igual aptidão para a sublimação, pois, é uma solução
restrita a poucos, tal destino pulsional propicia uma solução menos
infeliz para o conflito cultural da sexualidade.
Para Freud, a sublimação é um mecanismo de defesa
eminentemente positivo para a sociedade, constituindo um bem social. Pois,
pode-se dizer que a maior parte das grandes personalidades e dos grandes feitos
ocorridos na história humana só foram possíveis graças à sublimação. Com efeito, os grandes artistas, os eminentes cientistas, os mais
importantes líderes políticos, e todas as personalidades que conseguiram se
elevar acima da média eram indivíduos cujos instintos não se manifestaram tal
como eram, ao invés disso, sublimaram os instintos egoístas e transformaram
estas forças em realizações sociais de grande valor.
Desde
Freud, a psicanálise tem passado por algumas transformações, mas não se pode
deixar de destacar alguns os pontos
fundamentais que ele formulou, como:
-
a construção de um setting especial, com um número mínimo de sessões semanais,
com uma série de combinações de ordem prática;
-
em relação ao “paciente”, Freud foi quem primeiro estudou e descreveu as formas
de resistência do pacienten à análise e a contra-resistência no analista;
-
ele concebeu a presença permanente no ato analítico de uma neurose de
transferência e foi ele quem pela primeira vez descreveu e nominou o fenômeno
de contratransferência;
-
ele descreveu o importante fenômeno dos actings e deu destaque à atividade da
interpretação, junto com a aquisição de insigths e o trabalho de elaboração;
-
estruturou a psíque do id, ego e superego;
-
descreveu os fenômenos da fixação, da regressão e da representação;
-
descreveu o fenômeno da reação terapêutica negativa;
-
foi ele quem lançou as primeiras sementes dos problemas técnicos ligados aos transtornos
narcisistas;
-
deu grande contribuição aos aspectos psicanalíticos da linguagem: os
significados opostos; como uma afirmativa ou negativa pronunciada de uma forma
impulsiva pelo paciente pode ter um significado exatamente oposto; significados de experiências emocionais ficam
representadas no ego e a “gramática do psiquismo”, assim denominada por
Zimerman (2004, p.33).
“Se a Psicanálise, como método de
tratamento de doentes, representa o ideal que o homem saudável pode atingir,
então, a Psicanálise está fadada ao destino de todos os ideais humanos”. (WEIZSAECKER, 1959, p.51)
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