INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Fazer ou não fazer análise , eis a questão!


A Psicanálise não exige publicidade. É uma prática que deve ser feita sem alarde, com discrição e elegância necessárias ao bom desempenho da função. É um serviço prestado a partir de uma contratação verbal, firmada em uma relação de mútua de confiança. E num tempo em que o mundo parece estar virando de pernas para o ar confiar é muito mais do que acreditar no outro: e ser honesto consigo mesmo e não temer o que virá pela frente. Afinal, fazer análise é um ato de compromisso pessoal, uma atitude madura e sensata de quem quer encontrar seu verdadeiro Eu.
Sobre este ponto já foram erguidos muitos tratados e não é nossa intenção trazê-los à tona aqui. Basta dizer que muitas vezes nos surpreendemos com quem somos verdadeiramente, acima das máscaras da Persona, da Sombra, dos complexos e da imensa estrutura do Ego, com seus mecanismos de defesa e seus desejos. Aqueles pacientes perseverantes conseguem se desnudar o suficiente para enxergar tudo isso e ver quem realmente são enquanto outros não ousam chegar a tal ponto. Enfim, cada qual tem a sua formação e percepção sobre as demandas intimistas e sabe a hora de bater à porta do consultório.

Vencidas estas barreiras ainda restam algumas dúvidas sobre dar ou não dar este passo. Escolher um analista é uma tarefa preocupante para quem quer fazer terapia. As perguntas mais frequentes que passam pela cabeça do candidato a deitar no divã são as mais variadas possíveis: “E se eu não me agradar do analista depois de começar o tratamento?” ou “Como vou confiar meus segredos a uma pessoa que não conheço?” ou mesmo “Para que vou vasculhar o passado se não posso mudar nada do que aconteceu?” Talvez não tenha argumentos para convencer o leitor da importância da terapia até que cada um compreenda por si mesmo as coisas que mudaram em razão da análise. Pode ser que nem tudo seja resolvido na beira do divã, mas tem muita coisa na vida da gente que precisa ser entendida com a ajuda de um profissional especialmente preparado para ajudar pessoas que querem se encontrar. Pense nisso.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

A IMPORTANTE QUESTÃO DO EGO NA SITUAÇÃO ANALÍTICA

Há um princípio consagrado na psicanálise, que deve ser tomado como fundamental no
exercício de nossas atividades clínica, que é: começar pela superfície (Greenson, 1967). Ou seja, encetar a concentração da nossa atenção a partir das camadas psíquicas mais superficiais, sabendo-se que:
(1) nas partes mais profundas do psiquismo humano encontra-se o Id, fonte primeira de toda energia, no Inconsciente, que se pode definir como abissal, para reforçar a conotação de inacessibilidade;
(2) na superfície, acessível, se encontra o Ego, este sim, no nível do Consciente, sendo, por isso mesmo, o objetivo permanente do psicanalista.
Tomando-se por norma o acima dito, teremos que o nosso trabalho se amplia enormemente, pois não investigaremos apenas o quer que seja adstrito às interações (gratificações, respostas com todos os seus formatos) e suas conseqüentes fantasias, ao tempo do desenrolar, pois desenvolveremos o nosso trabalho colocando-nos na posição de voltados para tudo o que se relacione com o problema do ajustamento ao mundo exterior, tais como patologias, higidez, finalidade e gênese das atitudes, que assumem o papel de defesas etc., buscando alcançar o máximo (totalidade, seria melhor) de informações a respeito das outras instâncias.
Assim, estaremos sendo coerentes com a preocupação em conhecer o real formato do Ego, sua amplitude, o quantum de avanço do Id e do Superego sobre ele e no mesmo nível de interesse, o real significado do mundo exterior.
Por via de conseqüência, ter-se-ão o conteúdo do Id e os mecanismos das vicissitudes impostas, pelo paciente, às suas manifestações instintuais.
A questão das vicissitudes há que ser sublinhada, vez que são elas que expressam, com mais veemência, a força do fenômeno que a psicanálise descreve como a abertura de caminho o que, na verdade, corresponde a uma verdadeira invasão, que é o que fazem os impulsos instintivos na busca da gratificação no nível egóico, que é quando se experiência, também, o quadro que é descrito, pelo paciente, como o de uma sensação de tensão e de desprazer.
Voltando-nos agora para o Superego, vamos ter que, conquanto tão importante quanto às outras duas agências, torna-se ele algo indistinto para nós psicanalistas, muito especialmente quando não ocorrem discrepâncias com o Ego, além do fato de, da parte do paciente, ser ele acessível endopsiquicamente, significando com isso, que sua real expressão só é manifestada quando se tornam exacerbadas as suas críticas e as suas hostilidades, geradoras de sentimentos de culpa com vários graus de intensidade.
Resumindo, quer-se deixar por estabelecido o que ensinam os mestres, quando dizem que o que nos importa, na clínica, é o Ego, já que é por ele e somente por ele, que acessamos as demais agências psíquicas. Assim é que, dizem eles, sob condições da absoluta normalidade, manter-se-á o Ego na posição de observador do Id, quer dizer, de suas demandas, agindo então ante estas, apresentadas intrusivamente, com a tranqüilidade de quem, do alto de uma posição de executivo:
(1)   Vivencia os efeitos dessas pulsões instintuais e;
(2)   Promove o que quer que seja necessário para que sejam alcançadas as competentes oportunidades de gratificações, tópicos estes, que correspondem ao sentimento de desprazer pelo incremento das tensões e o necessário alívio, proporcionado pelas gratificações.
O exposto no tópico acima fala:
 Do surgimento dos impulsos instintuais, da presença da energia libidinal (que dá condição de mobilidade à pulsão) e;
 Da finalidade que esta objetiva, bem como da administração, que, idealmente, há que ser exercitada pelo Ego.
 Mas podem ocorrer conflitos decorrentes do trânsito entre o Id e o Ego e isto por conta de algumas características do Id e, digamos, das que são territoriais, referidas ao espaço ocupado pelo Ego, que é o consciente.
Quanto às pulsões, estas, literalmente, invadem o Ego (e elas sempre o fazem em termos de invasão), carregadas de energia instintual (libidinal), fundamentadas nos processos primários, em que o ingente é a descarga (gratificação), sem qualquer outra consideração, ou seja, sem fazer associações, trazendo, explodindo de energia, condensações de várias origens.
Veja-se, então, que a ação toda, vai se desencadear num território em que o Ego atua sob outras regras, as ditadas pelo processo secundário, vê que conta com funções tais como a sintético-integradora, o domínio-competência, a regressão adaptativa, o sentido de realidade e outras (Bellak e Faithorn, 1981), funções estas que com diversos graus de veemência se manifestam, por conta da exigência de respeito incondicional à realidade circundante, o que, de resto, inclui tudo o que há no Superego, o herdeiro dos pais, que é constituído pelos valores parentais e por todas as ordenações legais referidas  à moral e ao social.
Lendo-se Bellak vamos então perceber, à vista das funções egóicas por ele e colaboradores apontadas, que compete ao Ego a coordenação das funções e impulsos internos, fazendo-o de tal forma, que as suas expressões ante o mundo exterior sejam apresentadas, tanto quanto possível, sem o experienciamento de conflitos.
A partir do esquema acima referido, depreende-se que as pulsões instintuais geram toda a sorte de rejeição por parte do Ego, que lhes impõe, necessariamente, um sem-número de modificações (as vicissitudes), o que resulta em graves crises, um verdadeiro estado de guerra, um confronto entre potências portadoras de muita energia: o Id vai invadir e o Ego a repelir, valendo-se este de mecanismos com as mais variadas características, visando neutralizar o conflito em que se encontra.
Resumindo:
Todo esse quadro se passa no Ego, o nosso objeto enquanto analistas, interessados que devemos ser no material do Id, a sofrer modificações impostas pelo Ego (as vicissitudes) associado ao Superego, o que implica da nossa parte, no cuidado em estabelecer as expressões de um e de outro, como também, com o mesmo empenho, estabelecer regras compatíveis para a expressão do Id.