INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

domingo, 17 de novembro de 2013

A IMPORTANCIAS DOS SONHOS


SPOB-POLO/RS


 Castilho S. Sanhudo,Psicanalista Didata

Introdução continuação
Freud: Os sonhos são guardiães do sono, e não perturbadores dele.
Quando nos perguntamos sobre a razão e utilidade para os sonhos, analisando os resultados das experiências com privação do sono, percebemos que a privação da fase REM do sono determina importantes alterações no funcionamento cerebral e que após cessar a privação boa parte do tempo REM de sono e dos PGO inibidos acabam por ser recuperados, o que permite concluir que o "sono REM e os potenciais PGO são fenômenos necessários para o cérebro. Poderíamos, então, pensar que os sonhos (ligados ao sono REM e aos potenciais PGO) também estão regulados a longo prazo e que são fenômenos necessários ao cérebro".
Devido à integração entre as funções, conforme apresentado até aqui, podemos entender que uma destas necessidades estaria relacionada com o trabalho de fixação da memória de longo prazo, dado corroborado pelos achados que apontam para um aumento na síntese protéica (plasticidade cerebral) durante o sono REM, de modo especial na região do sistema reticular e amígdala temporal.

A Psicanálise e os sonhos
Este estudo psicanalítico dos sonhos será feito a partir do texto freudiano
E interessante ter-se a idéia do significado deste título; para tal cito abaixo o comentário do revisor geral da tradução portuguesa:
"Convém lembrar que esse título, Die Traumdeutungm, não expressa propriamente a idéia de uma 'interpretação' (fechada, final ou única) dos sonhos, mas a de uma busca do sentido dos sonhos, evidentemente entendidos por Freud como dotados de sentido para cada sujeito ao sonhar; como produções psíquicas que eram um efeito desse sentido. Para o leitor de língua alemã, essa postura freudiana ficava clara no título da obra".
Os meios intelectuais e materiais para compor o livro já eram do domínio de Freud desde a conclusão dos Estudos sobre histeria (1895), quando faz comentários sobre a importância dos sonhos em relação ao caso da Sra. Emmy von N.
Também comenta com Fliess, na carta de 04/03/1895, sobre o sentido dos sonhos, no caso um sonho de conveniência relatado por sobrinho de Breuer.
Além disso, é de 24/06/1895 o primeiro sonho interpretado por Freud - o Sonho da Injeção de Irma.
A idéia de pôr em livro estes conhecimentos apareceu em 1897 - durante sua auto-análise - mas foi abandonada. Retomando o projeto em maio de 1898, alcançou sua conclusão em 1899 com o aparecimento da primeira edição, que vendeu 351 exemplares em 6 anos ( ou 58 exemplares por ano); ou 4 exemplares por mês!).
Ao todo foram 8 edições:
1a edição - 1899, 375 páginas. Observar a visão psicopatológica de Freud sobre os sonhos apresentada no prefácio: "Tentei neste volume fornecer uma explicação da interpretação dos sonhos e, ao fazê-lo creio não ter ultrapassado a esfera de interesse abrangido pela neuropatoloqia. Pois a pesquisa psicológica mostra que o sonho é o primeiro membro de uma classe de fenômenos psíquicos anormais, da qual outros membros, como as fobias histéricas, as obsessões e os delírios, estão fadados por motivos práticos, a constituir um tema de interesse para os médicos".
Mais tarde, contudo, sua posição mudou, de tal forma que encontramos nas Conferências Introdutórias que: Os sonhos não são fenômenos patológicos; podem ocorrer em qualquer pessoa sadia, nas condições do estado do sono.
2a edição - 1909, ampliada e revisada, com 418 páginas. No prefácio desta edição Freud já apresenta sua característica de atualização de conceitos, quando nos adverte: "Quem estiver familiarizado com meus outros textos (sobre a etiologia e o mecanismo das psiconeuroses) saberá que jamais apresentei opiniões inconclusivas como se fossem fatos estabelecidos, e que sempre procurei modificar minhas afirmações de modo a mantê-la em dia com meu conhecimento crescente".
3a edição, 1911, ampliada e revisada, com 418 páginas. E nesta edição que aparece o capítulo sobre o Simbolismo dos sonhos. "Minha própria experiência, bem como as obras de Willelm Stekel e outros, ensinaram-me desde então a fazer uma apreciação mais verdadeira da extensão e importância do simbolismo nos sonhos (ou, antes, no pensamento inconsciente)."
4a edição, 1914, revisada e ampliada, com 498 páginas. Apresenta a contribuição de Otto Rank com dois textos - posteriormente retirados: 'Os sonhos e a Literatura Criativa" e os "Sonhos e Mitos".
5a edição, 1919, revisada e ampliada, com 474 páginas.
6a(1921) e 7a edição(1922), são reimpressões da 4a edição.
8a edição, 1929, revisada, ampliada, com 435 páginas. E desta edição que James Strachey fez a tradução de cuja 3a edição inglesa (1931) fez-se a versão para o português. Em seu prefácio encontramos a referência de Freud sobre a importância por ele atribuída a esta obra: "Contém, mesmo de acordo com meu iulqamento atual, a mais valiosa de todas as descobertas aue tive a felicidade de fazer. Um discernimento claro como esse só acontece uma vez na vida".
A obra apresenta sete capítulos, distribuídos em dois volumes IV e V das Obras Completas ( as edições originais sempre foram num único volume, exceto edições especiais como a de 1925).
Capítulo I - A literatura científica que trata dos problemas dos sonhos
Freud comenta o material existente até então, principalmente o ponto de vista dos autores da época e a visão popular sobre os sonhos.
Capítulo II - O método de interpretação do sonhos: análise de um sonho modelo.
Freud apresenta seu Sonho de Iniecão de Irmã como exemplo de seu método de trabalho com os sonhos.
Capítulo III - O sonho é realização de um desejo
Freud comenta o sentido último dos sonhos, a realização disfarçada de um desejo. O objetivo do capítulo foi apresentado para Fliess em 06/08/1899: "A coisa está planejada segundo o modelo de um passeio imaginário. No começo, a floresta escura dos autores (que não enxergam árvores), irremediavelmente perdidos nas trilhas erradas. Depois, uma trilha oculta pela qual conduzo o leitor - meu sonho exemplar, com suas Deculiarirlafte?; nnrmpnnrPQ inHicrrirnoc o niaHac Ho mau nncfn - e então, de repente, o planalto com seu programa e a pergunta em que direção você quer ir agora?"
Capítulo IV - A distorção nos sonhos
Freud começa a apresentar seu entendimento da formação dos sonhos, é onde cita pela primeira vez a existência de um "trabalho dos sonhos".
Capítulo V - O material e as fontes dos sonhos
Freud retoma o assunto das fontes determinantes dos sonhos, faz uma avaliação das fontes somáticas, referidas pelos especialistas e pela visão popular, frente a suas idéias de fontes psíquicas para o desenvolvimento dos sonhos.
Capítulo VI - O trabalho dos sonhos
É o capítulo mais extenso do livro, onde Freud descreve os mecanismos que compõem o trabalho dos sonhos (condensação, deslocamento, representabilidade, elaboração secundária), e também os aspectos simbólicos presentes nos sonhos, tema introduzido a partir da3a edição (1911).
Capítulo VII - A psicologia dos processos oníricos
Capítulo básico da teoria psicanalítica, onde Freud apresenta seu aparelho psíquico e a sua concepção tópica (teoria topográfica). O texto servirá de base para o trabalho do módulo.