INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

terça-feira, 4 de abril de 2017



CURSO LIVRE DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE
Módulo XII- Tópicos Especiais II
DIVERSIDADE DA SEXUALIDADE
Ocorrerá nos dias 7&8 de abril

Introdução
As experiências nos mostram que as queixas principais têm sido, na maioria das vezes, os conflitos conjugais. E, ao investigarmos, temos como causa, a relação sexual.
A bem da verdade, mesmo sendo outras as queixas principais, as investigações nos dará como causa principal a sexualidade. Confirmando assim, as teorias de Freud sobre as neuroses, objeto básico de nosso trabalho clínico.
Deparamo-nos, no entanto, com uma diversidade do sentimento sexual, pelo fato das diferenças de sentido que,  simultaneamente, são empregadas a uma só palavra. Assim sendo, a palavra sexual tem despertado reações positivas em uns, e concepções ou conclusões negativas e hostis em outros; uns, verão de preferência manifestações psíquicas; outros, uma atividade física, etc..
Neste trabalho a palavra sexo designa, em primeiro lugar, os dois grandes grupos de seres viventes que conhecemos sob a denominação de: masculinos e femininos ou machos e fêmeas. Em um sentido mais restrito, 'sexo' e 'sexual' significam qualidades ou propriedades físicas ou psíquicas.
(1) Todavia, na opinião corrente, a palavra sexual aplica o processo das relações entre os sexos, levando algumas pessoas a pronunciarem-na com certo tom de desprezo. Até mesmo a palavra sensualidade foi atingida por essa depreciação, dificultando a sexologia a se conduzir em face dessas intrusões da moral em seu domínio.
Devido à desconsideração em que caiu a expressão sexual, foi necessário procurar uma palavra que a substituísse. E, por ironia do destino, escolheu-se a palavra erótica, termo que, durante séculos, servira precisamente para designar produções literárias especiais, particularmente livres.
No fundo, sexualidade e erotismo têm a mesma significação. Ambas as expressões designam a sexualidade psicofísica.
De acordo com a visão predominante, a vida sexual humana consiste, essencialmente, num esforço de se pôr os próprios genitais em contato com os de alguém do sexo oposto. E, como fenômeno acessório e introdutório, hajam-se associados ao olhar esse corpo alheio, tocá-lo e beijá-lo. Supõe-se que tal esforço surja na puberdade (idade da maturidade sexual), com objetivo à reprodução. Não obstante, sempre foram conhecidos certos fatos que não se adaptam à estreita estrutura dessa visão. É fato marcante existirem pessoas que só são atraídas por indivíduos de seu próprio sexo e pelo órgão genital deles.
(2)      De igual modo, é notório existirem pessoas cujos desejos se comportam exatamente como os sexuais, ou sua utilização normal; as quais são conhecidas como 'pervertidas'.
(3)      E, por fim, é algo notável que algumas crianças (por causa disso são encaradas como degeneradas) tenham um interesse muito precoce por seu órgão genital e apresentam nele sinais de excitação.
Tais fatos são esclarecidos com o surgimento da psicanálise, isto é, as descobertas de Freud que, diga-se de passagem, provocou espanto, contrariando opiniões sobre sexualidade. Segue abaixo descrito suas principais descobertas:
1.      A vida sexual não começa somente na puberdade, mas, com evidentes manifestações, logo após o nascimento.
O principal interesse focaliza-se na mais surpreendente de todas, a primeira das afirmações. Foram observados sinais de atividade corporal, na mais tenra infância, que somente um arcaico preconceito poderá negar o nome de sexual, e que estão associados a fenómenos psíquicos, que são deparados mais tarde, na vida erótica adulta - tais como a fixação a objetos específicos, ciúmes, e assim por diante.
A sexualidade não é, jamais, exclusivamente física ou exclusivamente psíquica, mas sempre física e psíquica ao mesmo tempo (psicofísica), apoderando-se do corpo e da alma com a mesma impulsão. Podemos dizer que uma parte importante, senão a mais importante da vida psíquica, é de natureza sexual e a parte mais importante da vida sexual, é de natureza psíquica.
Podemos dividir a totalidade sexual psicofísica em dois elementos: estado sexual e conduta ou atitude sexual. Tais elementos são qualidades integrantes da personalidade sexual.
A personalidade sexual psicofísica fica mais ou menos adormecida durante alguns anos, para manifestar-se com veemência no início da maturidade. Esse período é de relativo adormecimento, porque, como veremos mais a frente, não se encontra totalmente adormecido, vai desde a fecundação até a puberdade.
Todavia, ninguém pode afirmar com exatidão em que idade aparecem os primeiros impulsos sexuais propriamente ditos.
O nascimento é o marco mais importante desse período que, biologicamente, representa antes uma mudança de ambiente que uma mudança de personalidade. A maturidade sexual se desenvolve após a puberdade, indo, no caso da mulher, até os trinta anos e, no homem, um pouco além. Finalmente, com o mesmo ritmo suave da subida, começa a descida para o fim da sexualidade que, na maioria dos seres humanos, coincide com a morte do indivíduo.
Freud, em suas investigações na prática clínica sobre as causas e funcionamento das neuroses, descobriu que a grande maioria de pensamentos e desejos reprimidos referia-se a conflitos de ordem sexual, localizados nos primeiros anos de vida dos indivíduos. Isto é, na vida infantil estavam as experiências de caráter traumático, reprimidas, que se configuravam como origem dos sintomas atuais e confirmava-se, dessa forma, que as ocorrências desse período de vida deixam marcas profundas na estruturação da personalidade.
As descobertas colocam a sexualidade no centro da vida psíquica, e é desenvolvido o segundo conceito mais importante da teoria psicanalítica: a sexualidade infantil. Essas afirmações tiveram profundas repercussões na sociedade puritana da época pela concepção vigente de infância "inocente".