INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

terça-feira, 1 de novembro de 2016

SOCIEDADE PSICANALÍTICA ORTODOXA DO BRASIL

                           SPOB/POLO-RS
CURSO LIVRE DE CAPACITAÇÃO EM PSICANÁLISE
Módulo VII- Semiologia Psicanalítica
Ocorrerá nos dias 18  e 19 de Novembro
End. Rua Profº Annes Dias,166/103


INTRODUÇÃO

A psicanálise, a semiologia e a teoria da comunicação podem ser sistematizadas e integradas de uma maneira metódica e ao mesmo tempo prática no cotidiano da psicanálise. Este trabalho buscará fundamentar uma operacionalidade da psicanálise, com contribuições da semiologia e da teoria da comunicação, com vistas a uma estratégia terapêutica que possibilite cobrir os níveis da ação analítica, criando modelos que permitam re-orientações pragmáticas no sentido de facilitar, ao analista, uma visão mais abrangente da problemática que lhe é exposta pelo paciente. A compulsão à repetição, localizada a partir das estruturas narrativas, possíveis de serem detectadas e traduzidas operacionalmente através do material fornecido pelo paciente ao analista em um sistema de signos passível de codificação e conseqüente sistematização. 
Vivemos no século da comunicação. Para alguns, o nosso mundo constituiria já uma autêntica "aldeia global", habitada por umas “tribos planetárias”, possibilitadas uma e outra, pelas novas tecnologias de informação e comunicação. Para outros, a sobrecarga de "informação" e "comunicação" não se traduz, necessariamente, em maior aproximação e solidariedade entre os homens, conduzindo antes a novas formas de individualismo e etnocentrismo. 
"Comunicar" significa, etimologicamente, "pôr em comum". No processo de comunicação, que simplificadamente podemos entender como a troca de uma mensagem entre um Emissor e um Receptor, os Signos desempenham um papel fundamental. Sem Signos, não há mensagem, nada podemos pôr em comum. Os Signos são tão importantes que se pode (e costuma) definir, de forma essencial, a Semiótica como a "ciência dos signos". 
A ciência chamada Semiótica, ou teoria geral e da produção dos signos, teve sua origem na Rússia, na Europa Ocidental e na América. A semiótica, atualmente, é um campo de grande amplitude e variedade teórica. O autor Charles Pierce foi o fundador da semiótica. Saussure, no Curso de Lingüística Geral, falava de uma semiologia, que pode ser comparada ou diferenciada da semiótica propriamente dita. Atualmente, Umberto Eco é um especialista em semiótica.
As idéias de Saussure foram difundidas por seus alunos Charles Bally, Albert Sechehaye e Albert Riedlinger com a produção do livro Curso de Lingüística Geral, construído com base nas anotações de sete dos alunos do curso homônimo (três versões: entre 1907 e 1911) e de alguns manuscritos do próprio Saussure. A edição 1916a foi complementada pelo italiano Tullio de Mauro em 1972, originando uma nova edição standard (1916c). A tradução brasileira surgiu em 1969 (Saussure, 1916d). Só recentemente, as notas de mais um estudante de Saussure foram descobertas, resultando na edição, em Tóquio, de um novo livro intitulado Ö terceiro curso (Saussure, 1993).
F. Saussure estabeleceu a distinção entre “língua” e “fala” para que o paciente possa reconhecer um signo como tal e atribuir-lhe seu designado correspondente. É necessário que previamente possa apoiar-se, por um lado, nas representações psíquicas (ou significantes) dos “sons” concretos e, por outro, nas representações psíquicas (ou significados) dos referentes também concretos com os quais se relacionam esses sons.
Os “signos” psíquicos, no sentido saussuriano do termo, serão constituídos, portanto, pela união dos “significantes” (ou imagem acústica dos sons) e dos “significados” (ou conceitos do referente). A oposição de dois signos complementares determina, por sua vez, uma “estrutura” ou “código”. O estudo específico da relação lateral que se estabelece entre os significantes ou entre os significados será denominado por Saussure de “valor”.
O usuário poderá estabelecer relações semiológicas corretas entre “sinais” e “mensagens” se tiver previamente formado de maneira correta as classes significantes e significadas correspondentes.
Quando o usuário funciona como emissor e transmite uma mensagem por meio de um sinal, faz um “incoding”, uma codificação. Quando funciona como receptor, recebe um sinal e dele deduz uma mensagem, faz um “decoding”, uma decodificação. As mensagens inconscientes, por exemplo, seriam essas automensagens que o sujeito codifica por si mesmo e que depois não sabe mais decodificar. Dentro dessa perspectiva, o psicanalista trabalha a título de intérprete entre o inconsciente, emissor que transmite codificado, e o pré-consciente, receptor que não pode decodificar esse código sob pena de experimentar desprazer.
Na patologia da comunicação do paciente psicanalítico, vemos fenômenos de codificação ou de decodificação patológicas ligadas a uma delimitação incorreta de classes significantes e de classes significadas; o que tem como conseqüência uma pragmática incorreta da comunicação. O paciente psicanalítico se põe em comunicação patológica, de um ponto de vista pragmático, com seus objetos - na transferência, com seu analista -, na medida em que as classes significantes de seu código informativo (equivalentes, às representações de palavras segundo Freud) e as classes significadas desse mesmo código (ou representações das coisas). 

Foi através dos trabalhos de Melanie Klein, Hanna Segal, Wilfred R. Bion e outros autores da escola inglesa, bem como através dos de Jacques Lacan, André Green, Jean Laplanche e outros autores da escola francesa, que progressivamente tomamos consciência da importância de que se revestem os símbolos e os signos na teoria e na prática psicanalíticas, a tal ponto que acabaram surgindo para nós como domínio específico das pesquisas e modificações constitutivas do trabalho do psicanalista.