INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O paciente idoso e a clínica

      Conteúdo da Apostila - Tópicos Especiais II

Parte I
Curso de Capacitação em Psicanálise- SPOB-POLO/RS
Historicamente a psicanálise, apesar de não tratar da concretude dos fatos, não abandonou a perspectiva da cultura desde seu fundador no engendramento do sofrimento psíquico. Freud não assistiu à virada demográfica quando escreveu o “novo saber” sobre a psique humana, porém algo passava sobre a questão da cultura quando escreve “O mal estar na civilização” (1931). No entanto, algo novo se impõe na modernidade a na clínica contemporânea, assim como novas leituras dos mesmos textos psicanalíticos tão antigos na produção e tão atuais ao “novo olhar psicanalítico” do século XXI.
        Falar de paciente idoso e psicoterapia para a terceira idade é discorrer sobre os desafios que esse paciente representa para o terapeuta da pós-modernidade. Mas sem dúvida é um desafio que traz satisfação pelo que pode oferecer a um ser humano que viveu as vicissitudes e gratificações ou não de sua longevidade de um lado, e de outro a experiência clínica e a satisfação em poder proporcionar autoconhecimento e qualidade de vida em idade avançada.
        Freud não recomendava o tratamento psicanalítico a quem tivessem completado seus cinqüenta anos, por considerar que nessa idade as regressões aos aspectos traumáticos infantis era difícil ou mesmo impossível. Afirmava que o tempo longo exigido no tratamento, naquela época, não justificaria o esforço, e a maleabilidade psíquica e a compreensão dos problemas apresentados durante o tratamento seriam mais difícil de serem assimilado pelo paciente idoso.
        “A idade dos pacientes desempenha um papel na escolha para o tratamento psicanalítico, posto que, nas pessoas próximas ou acima de 50 anos, costuma faltar, de um lado, a plasticidade dos processos anímicos de que depende a terapia – pessoas idosas já não são educáveis -, e, por outro lado, o material a ser elaborado prolongaria indefinidamente a duração do tratamento”. (Freud, 1905).
Coube a Karl Abraham ocupar-se de pacientes mais velhos, e seus casos de tratamentos realizados fazem parte da história, tendo seu valor também na quebra de preconceito estabelecida desde o inicio por Freud, de que os mais idosos não eram analisáveis. As patologias da época eram a histeria, a neurose obsessiva, as perversões e outras dificuldades que acometiam aos mais jovens. Os casos clínicos de Freud são uma pequena amostra da realidade da época victoriana.
        A própria historia da psicanálise mostra a contradição ou a ambivalência na realidade, o próprio Freud trabalhou até a velhice, produziu enquanto viveu.  Lou Andreas Salomé se tornou psicanalista aos cinqüenta anos e produziu uma serie de trabalhos sobre a feminilidade feminina com mais idade. Fica a pergunta: o que havia com os velhos desta época que ficaram excluídos deste novo tratamento?


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