Conteúdo da Apostila - Tópicos Especiais II
Parte I
Curso de Capacitação em
Psicanálise- SPOB-POLO/RS
Historicamente
a psicanálise, apesar de não tratar da concretude dos fatos, não abandonou a
perspectiva da cultura desde seu fundador no engendramento do sofrimento
psíquico. Freud não assistiu à virada demográfica quando escreveu o “novo
saber” sobre a psique humana, porém algo passava sobre a questão da cultura
quando escreve “O mal estar na civilização” (1931). No entanto, algo novo se
impõe na modernidade a na clínica contemporânea, assim como novas leituras dos
mesmos textos psicanalíticos tão antigos na produção e tão atuais ao “novo
olhar psicanalítico” do século XXI.
Falar de paciente idoso e psicoterapia
para a terceira idade é discorrer sobre os desafios que esse paciente
representa para o terapeuta da pós-modernidade. Mas sem dúvida é um desafio que
traz satisfação pelo que pode oferecer a um ser humano que viveu as
vicissitudes e gratificações ou não de sua longevidade de um lado, e de outro a
experiência clínica e a satisfação em poder proporcionar autoconhecimento e qualidade
de vida em idade avançada.
Freud não recomendava o tratamento
psicanalítico a quem tivessem completado seus cinqüenta anos, por considerar
que nessa idade as regressões aos aspectos traumáticos infantis era difícil ou
mesmo impossível. Afirmava que o tempo longo exigido no tratamento, naquela
época, não justificaria o esforço, e a maleabilidade psíquica e a compreensão
dos problemas apresentados durante o tratamento seriam mais difícil de serem
assimilado pelo paciente idoso.
“A idade dos pacientes desempenha um
papel na escolha para o tratamento psicanalítico, posto que, nas pessoas
próximas ou acima de 50 anos, costuma faltar, de um lado, a plasticidade dos
processos anímicos de que depende a terapia – pessoas idosas já não são
educáveis -, e, por outro lado, o material a ser elaborado prolongaria
indefinidamente a duração do tratamento”. (Freud, 1905).
Coube
a Karl Abraham ocupar-se de pacientes mais velhos, e seus casos de tratamentos
realizados fazem parte da história, tendo seu valor também na quebra de
preconceito estabelecida desde o inicio por Freud, de que os mais idosos não
eram analisáveis. As patologias da época eram a histeria, a neurose obsessiva,
as perversões e outras dificuldades que acometiam aos mais jovens. Os casos
clínicos de Freud são uma pequena amostra da realidade da época victoriana.
A própria historia da psicanálise
mostra a contradição ou a ambivalência na realidade, o próprio Freud trabalhou até
a velhice, produziu enquanto viveu. Lou
Andreas Salomé se tornou psicanalista aos cinqüenta anos e produziu uma serie de
trabalhos sobre a feminilidade feminina com mais idade. Fica a pergunta: o que
havia com os velhos desta época que ficaram excluídos deste novo tratamento?
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