CURSO LIVRE DE CAPACITAÇÃO EM
PSICANÁLISE
A SPOB-RS está com as inscrições abertas para o Grupo VIII de
formação de psicanalistas.
Tentando sistematizar o distúrbio
maníaco-depressivo, em 1911, Abraham comparou a depressão com o luto por nojo
(isto é, pela perda de um ser querido). Segundo este autor, a diferença
essencial entre aquela e este reside em que a pessoa afetada pelo luto por nojo
está consciente da sua preocupação pela perda de um ser querido e, por sua vez,
o indivíduo depressivo está imerso em imprecisos sentimentos de perda, de culpa
e de pouca auto-estima. De acordo com este autor, podemos dizer que o indivíduo
depressivo interioriza a perda como uma repulsão de si próprio e confunde-a ou
relaciona-a inconscientemente com as suas próprias experiências anteriores.
Na sua teoria psicanalítica Freud
aprofundou as idéias de Abraham com o propósito de dotar a depressão de um
corpo teórico. Para Freud a diferença fundamental entre o luto por nojo e a
depressão está em que nesta última a pouca auto-estima é um sintoma, e além
disso a perda é inconsciente, diversamente do luto por nojo, em que a perda é
consciente.
Segundo Freud o indivíduo
depressivo também sofre uma perda, mas é simbólica e não se relaciona com a
pessoa perdida. Noutras palavras, a tendência a culpabilizar-se e as
autocríticas do indivíduo depressivo estão dirigidas realmente, de maneira
inconsciente, à pessoa perdida. O indivíduo depressivo assume os atributos que
reconhecia nessa pessoa. E a partir desse momento a depressão converte-se num
processo narcisista dirigido para o interior da pessoa, em lugar de estar
dirigido para o exterior.
Daqui surgem os traços
característicos do paciente depressivo: o sadomasoquismo e a dependência oral,
manifestando-se na necessidade da ajuda emocional que requer e pede este tipo
de pacientes.
Mais tarde, Abraham desenvolveu
os postulados teóricos de Freud e argumentou que existiam diversas dificuldades
durante o processo evolutivo da infância que, por sua vez, davam lugar à
aparição do mal-estar depressivo na idade adulta. Em geral, a origem destas
dificuldades encontra-se na perda ou na falta de amor na criança. Isto dá lugar
a uma fixação do desenvolvimento afetivo na fase oral, que explica ou implica a
dependência de pessoas e acontecimentos portadores de gratificações afetivas.
Em 1948, Melanie Klein propôs e
argumentou a favor de uma base psicodinâmica diversa para explicar o
desenvolvimento da depressão. Segundo Klein, é durante o primeiro ano de vida
das pessoas que se forma a base do que mais tarde pode ser o sofrimento
depressivo. No entender de Klein todas as crianças atravessam um estado
evolutivo a que chama posição depressiva e que, em sua opinião, está
caracterizada por um período de tristeza, temores e culpa. Ao sentir-se
frustrada pela carência ou pela perda do amor, a criança rebela-se contra a mãe
e desenvolve fantasias de tipo sádico e destrutivo contra ela dirigidas. Esta
situação provoca na criança estados de ansiedade e de culpa. Além disso, devido
à incapacidade da criança para distinguir o mundo exterior (a sua mãe) do
interior (ela própria) e das imagens que interioriza da mãe, tudo se transforma
num intenso temor em autodestruir-se. Esta é a explicação de Klein da fase
denominada posição depressiva.
A base patológica para a
descoberta da depressão na idade adulta dá-se quando a criança não comprovou
que a mãe que odeia e ama, simultaneamente, é a mesma pessoa. Isto, em termos
psicanalíticos, é uma falha na interiorização do bom objeto interno.
Em 1953, Eduard Bibring destacou
e deu uma importância primordial à perda da auto-estima como elemento chave da
depressão. As suas idéias aproximavam-se mais da resposta consciente aos
acontecimentos que aos conflitos inconscientes entre o eu e o super-eu. Mesmo
quando estava de acordo em dar importância às experiências iniciais da infância
como base para o desenvolvimento da depressão na idade adulta, sustentou que a
depressão se desenvolve e se instaura como resultado da frustração das
expectativas conscientes. Também divergia dos psicanalistas anteriores, crendo
que as dificuldades no manejo dos sentimentos agressivos desempenham uma função
primordial na origem da depressão.
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