INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

segunda-feira, 10 de março de 2014

Os Sete Pecados Capitais

Os Sete Pecados Capitais

os sete pecados capitais se relacionam com as doenças mentais — cristianismo e psi­canálise têm vários pontos de convergência — para a psicanálise também são importan­tes o respeito e a disciplina — o prazer não pode ser considerado um pecado

VIII
Orgulho
O orgulho está extremamente ligado à inveja. Quanto mais orgulhoso, mais invejoso se fica. Em psicanálise, o nome técnico do orgulho é narcisismo. Numa medida ampla, não é sinal de doença; é até sinal de saúde. Do orgulho é que deriva nossa capacidade de gostarmos de nós mesmos. E o próprio Cristo disse: “Amai ao próximo, como a vós mes­mos.” Jamais, portanto, considerou pecado alguém se amar, interessar-se por si e por suas coisas. A afeição do ego por si próprio é parte da vida, parte inclusive indispensável dela. Sem esse amor autocentrado, estaríamos todos mortos. Uma certa dose de narcisismo, vaidade e orgulho faz parte da natureza humana, no esplendor de sua saúde.
Contudo, orgulho demais nos torna competitivos de­mais. Quando nos tornamos competitivos demais, simples­mente não podemos mais nos afeiçoar a ninguém, o que frustra nosso desejo de amar e ser amado.
O orgulho em excesso gera, além disso, uma vaidade doentia, uma das principais causas da insegurança e da timi­dez. Explico-me melhor. Quanto mais vaidosos, mais me­lindrados ficamos. Se não conseguimos preencher expecta­tivas de esplendor e glória, caímos na mais cava depressão, na mais aguda insegurança quanto ao nosso valor.
Além de tudo o mais, o orgulho em demasia gera um estado de arrogância, de não poder reconhecer erros ou aprender nada com ninguém. Tudo se torna motivo para que a pessoa se sinta humilhada. Essa é uma das principais origens do comportamento presunçoso, isto é, do compor-
sabichão e que não passa de um cabeça-dura.
Nos níveis mais graves, o orgulho transtorna todo o processo de aprendizagem intelectual e afetiva. Muitas es­quizofrenias e graves depressões são causadas pelo orgulho desmedido.

IX

Luxúria
A luxúria é um tema polêmico e sujeito a controvérsias, tanto dentro do cristianismo quanto da psicanálise. Todos concordam que a luxúria existe e que é algo perturbador de nossas vidas. A dificuldade reside em sua definição. Onde termina o sexo sadio e onde se inicia a luxúria? Certamente as mulheres e os homens desinteressados pelo sexo não são considerados sadios nem pelo cristianismo nem pela psi­canálise. A castidade, enaltecida pelo cristianismo, jamais se confunde com sexo reprimido e inexistente. Trata-se de uma virtude, exatamente porque implica em conviver com a tentação da carne, as volúpias do corpo, os desejos do sexo. Castidade sem desejo não é virtude. É neurose. Nesse ponto, há concordância dos psicanalistas.
Uma boa definição de luxúria seria atribuir ao sexo — que todos concordamos ter uma importância imensa — uma importância maior ainda. Mais uma vez, uma das partes do todo quer subjugar o todo. Sexo é importante? Claro que é. Mas existem outras coisas importantes também. Se ele se toma a única coisa importante do mundo, converte-se em um prazer que impossibilita outros prazeres. Prazeres como, por exemplo, os do espírito, do amor, da justiça, da fraterni­dade, etc. Ou será que constituir uma família, amar uma mulher, criar filhos, constituir uma profissão, realizar o bem comum também não são prazeres? Quem foi que disse que prazer é só sexo? Só um sexomaníaco pensaria tal coisa.
A excessiva valorização do erótico preocupa os psica­nalistas. Sem dúvida, ela prejudica — sem qualquer puritanismo — a realização mais plena de uma vida humana. Afinal, se sexo é vida, vida não é sexo. Inclui sexo, mas é bem maior do que isso.
Várias são as causas que podem levar a uma supervalorização do sexo, ou seja, à luxúria. Por incrível que pareça, uma das mais importantes é uma crônica desconfiança quanto ao valor das próprias emoções. Emoções que des­confiam de seu poder de emocionar buscam permanentes reafirmações. E o sexo, por seu jogo intenso de emoções, por sua aparência de entrega dramática (digo aparência, porque é discutível se a entrega é tão dramática assim) repre­senta uma enorme tentação para os inseguros. No fundo, as pessoas assim inseguras não amam o sexo tanto quanto dizem. Estão apenas viciadas na ilusão de entrega que ele provoca.





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