CURSO LIVRE DE CAPACITAÇÃO EM PSICANÁLISE
A PRÁTICA DA INTERPRETAÇÃO
DOS SONHOS
Introdução
Nós vivemos entre duas realidades, a da vida objetiva (realidade externa)
e a vida subjetiva, isto é, a nossa vida psíquica (realidade interna: a
realidade que, em verdade desejamos).
A primeira é sempre agressiva e representa, por isso, o desprazer.
A segunda vem ao encontro daquilo que queremos, ou desejamos. Por isto
representa o prazer.
Para que exista um equilíbrio entre essas duas realidades, a natureza nos
deu a faculdade de sonhar, é através dos sonhos que nós vivemos, na busca de
realizemos todos os nosso desejos.
Assim podemos definir os sonhos como uma função psíquica encarregada de
compensar, de substituir mesmo uma realidade, que nos é hostil por outra
totalmente diferente onde um novo mundo se descortina diante da alma.
A Psicanálise já os definiu como “uma
realização de desejos”, entretanto nem sempre a realização onírica consegue
este ideal, pois nisto se refere à qualidade do desejo, que em um dado momento,
abrigamos. (nem sempre desejamos conscientemente
uma coisa), pois há determinados desejos que nos passam como relâmpagos pela
cabeça, mas que são imediatamente, condenados pela razão, ou melhor, pela
consciência.
Teoria
Estrutural do sonho
A teoria
estrutural propõe que os conflitos entre as funções das diferentes estruturas
dão origem aos aspectos desagradáveis do sonho e do sintoma e explicam o
fenômeno da resistência inconsciente.
Procuramos
compreender a natureza e função das forças antiinstintivas, assim como os
impulsos infantis, instintos, e os seus derivados. Partimos do principio de que
ambos os conjuntos de força e equilíbrio instável entre elas são de importância
fundamental para determinar a configuração do sonho.
Corretamente,
nas horas em que a pessoa esta desperta, o exercício das funções do ego é
suficiente para manter um equilibro efetivo. Mas à noite quando o sono
enfraquece as funções do ego e corta a ajuda externa, o instinto tem
oportunidade de se reafirmar.
O conceito da
teoria estrutural proporciona uma ajuda adicional. A teoria estrutural concebe
o id como um repositório de impulsos
sexuais e agressivos de todas as fases do desenvolvimento. Esses impulsos
encontram representação mental no sonho como saída para a satisfação imediata.
Mesmo no sonho, defronta-se com as contra-exigências do ego e superego.
As funções de
integração e síntese do ego atuam
para manter lógica a ordem no sonho.
A função de
percepção do ego e o seu
desenvolvimento de ansiedade opõem-se aos impulsos derivados do id e modificam a expressão dos mesmos. A
organização do ego existe para
assegurar também a satisfação instintiva.
O superego manifesta o seu efeito sobre o
sonho introduzindo a culpa, o remorso e o castigo pela tentativa de satisfação
do desejo infantil proibido. Como extensão do ego o superego também
contribui para a criação de ansiedade.
A influência do superego no sonho é tanto sentida como
uma aprovação ou como uma condenação.
Nenhum sonho é
jamais, exclusivamente um “sonho do id”,
se for empregado tal expressão é apenas para indicar que os desejos infantis,
os representantes dos impulsos instintos ou de seus derivados são de tal modo
fortes que ganham acesso ao sonho com menos distorção do que é usual.
Os sonhos
provenientes de baixo, dominados pelos impulsos, sentimentos e idéias do princípio
da vida, contêm uma contribuição maior do id
do que qualquer outra fonte. Do ponto de vista da teoria estrutural, uma
preponderância das representações do impulso sexual ou agressivo da infância
reflete do id no sonho.
Nenhum sonho é
simplesmente um “sonho do ego”.
Esta seria a
designação, em termos de teoria estrutural, daqueles sonhos que contêm uma
considerável soma de revisão secundária que incluem fantasias, afetos ou idéias
pré-conscientes, elaboradas de antemão ou introduzem impressões sensoriais da
realidade extraída da realidade e registram acontecimentos correntes – resíduo
do dia.
O “sonho do ego” mostra os efeitos do
mecanismo inconscientes de defesa do ego sobre
as expressões dos desejos infantis proveniente do id.
Pesquisas
mostram que a amnésia para o sonho é, em certa medida independente da
repressão, e os sonhos estão sujeitos à ”decomposição espontânea”, a atividade
da porção do inconsciente ego determina
amplamente se um sonho ou fragmento de sonho será esquecido.
Não obstante as
drogas e o tempo ótimo de despertar do sono REM, tanto a recordação e retenção
como o esquecimento, a imprecisão e a “inidoneidade” do sonho são, de modo
geral, obra da censura e repressão inconsciente do ego e superego.
Isso explica por
que o recurso como passar a escrito um sonho no meio da noite ou logo de manhã,
ao despertar, é largamente fútil, quando o inconsciente está a postos para
contrariar e frustrar a intenção do trabalho analítico.
Nenhum sonho é
jamais exclusivamente um “sonho do
superego”. Contudo o sonho de punição ou um em que se manifestem
insuportáveis sentimentos de culpa indica, inequivocamente, a presença do superego. As palavras faladas em sonho
são segundo Isakower (1954), uma contribuição direta do superego para o conteúdo manifesto do sonho.
A dificuldade e
complexidade da interpretação do sonho resultam do extraordinário grau em que
os pensamentos do sonho latente são deformados no sonho manifesto. Para
começar, estão sujeitos a uma distorção que reflete a característica natureza de
processo primário da condensação e deslocamento da atividade onírica.
Acrescente-se a
isto uma vasta propensão, para a simbolização e as limitações impostas pela
representação, mormente em forma visual, das idéias e sentimentos que
participam na formação do sonho.
Finalmente a
distorção é ainda mais exagerada pelas necessidades conflitantes dos sistemas
do aparelho psíquico, incluindo a necessidade do ego de incutir lógicas, ordem e aceitabilidade ao que é considerado
ilógico desorganizado e ainda objetável.
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