Totem e Tabu – Comentários
Em
Totem e Tabu Freud compara os ritos de povos primitivos com a neurose,
relacionando o significado original do totemismo com o processo pelo qual passa
o desejo inconsciente.
O
totem (divinização de escultura representando plantas, animais ou antepassado)
pode ser definido como instituição primitiva que deixou indícios nas religiões
ritos e costumes dos povos civilizados contemporâneos e o tabu (o mais antigo
dos códigos não escritos da humanidade) compreende prescrições rigorosas cuja
violação traz sérias conseqüências e castigos para os membros de um grupo. Ao
que tudo indica, o totem define uma consagüinidade na qual se inscreve uma lei
para deter o indivíduo ante o incesto. Por isso Freud considera a renúncia como
a base para o tabu.
Evidências
encontradas na linguagem e nos costumes apontam para a realidade histórica do
matrimonio em grupo em tempos remotos, o que torna compreensível o rigor na
proibição de relações sexuais com indivíduos pertencentes ao mesmo totem.
Tanto
quanto os povos selvagens, o castigo prescrito pelo tabu relativos a contato
com objetos interditados são formas de tornar o objeto impossível. Para Freud é
a expressão de desejos inconscientes e dos temores em relação a estes desejos.
(desejo de tocar e ao mesmo tempo horror e proibição).
Esta
atitude ambivalente, Freud a encontra também no sujeito neurótico: como temem
porque desejam tudo o que entra em contato com o proibido fica tão proibido
quanto. A proibição recai sobre todos os novos fins eleitos pelo desejo,
refletindo desta forma o processo pelo qual passa o desejo inconsciente. É este
o paradoxo do cerimonial sem fim dos obsessivos: pretendem interditar o desejo
inconsciente mas aproximam-se cada vez mais dele.
Merece
especial consideração neste texto o exame feito sobre o tabu que recai sobre as
pessoas mortas: as pessoas que tocaram os mortos devem ficar isoladas, o nome
do morto não deve ser pronunciado. Isto indica que admitem uma coincidência
entre objetos e palavra o que coincide com as descobertas de Freud que insiste
na importância dos nomes no pensamento inconsciente.
Na
vertente psicanalítica, as auto-reprovações no luto falam de um desejo
inconsciente de morte. A ambivalência é uma característica da neurose obsessiva
e o tabu nasce no terreno da ambivalência afetiva. É neste ponto que os
neuróticos obsessivos se comportam como os selvagens.
As
fases do deslocamento neste processo: 1 - desejo de morte 2 - recalque por
proibição 3 - a proibição fica enlaçada a um determinado ato que como consequência
de deslocamento se substitue ao ato primitivo orientado contra a pessoa amada.
Desenvolvimento ulterior: o desejo de morte é transformado em temor de que a
pessoa morra.
Os
pontos em comum são a extensão do tabu do morto a tudo que entrou em contato e
o excesso de cuidados. A excessiva proteção dos reis por exemplo, revela uma
hostilidade dissimulada.
Na
elaboração conclusiva, Freud aproxima a figura do pai como o alvo deste desejo
de morte. A atitude do selvagem seria uma derivação da atitude infantil em
relação ao pai. Através do mito da horda primitiva Freud revela que este desejo
é fundante do inconsciente no homem.
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