INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

domingo, 20 de outubro de 2013

A depressão-melancolia na visão psicanalítica

Conteúdo da Apostila Tópicos Especiais- Curso de Capacitação em Psicanálise-SPOB-POLO/RS
A outra corrente, no que se refere ao estudo da depressão-melancolia, é a psicanalítica, representada inicialmente por Freud, com ênfase no conflito psicológico, nos fatores relacionados à dinâmica do psiquismo, sempre situada no campo das questões psicogênicas (Peres, 2003). A psicanálise oferece uma visão bem diferente desta, e coloca a depressão e a melancolia em outros registros, não somente o biológico. Freud situou os estados de melancolia e depressão no registro da perda, preocupando-se em compreender a
maneira como cada indivíduo pode reagir psiquicamente a ela. O luto foi definido como o espaço paradigmático por excelência da vivência e da elaboração de situações de perda e de frustração. Levando em conta a realidade psíquica, a psicanálise se volta para a compreensão dos significados subjetivos conferidos pelo sujeito às situações de perdas difíceis de serem elaboradas. Assim, em muitos casos, é possível que o sujeito necessite de um recolhimento psíquico para a elaboração de uma frustração. Muitas vezes, é neste
espaço que se manifestam os afetos depressivos, que podem ser compreendidos como necessários. A dificuldade em elaborar perdas e vivenciar um luto está basicamente ligada à melancolia e à depressão. Esta é a maior e mais radical contribuição de Freud.
Sobre a denominação, em Freud, das manifestações melancólicas e depressivas, observamos variações de acordo com a época. Entretanto, parece-nos que ele muitas vezes utilizava o termo depressão de maneira mais livre ao se referir a um estado mais brando de humor penoso dentre os inúmeros quadros patológicos que estudava, inclusive a melancolia. Assim, o termo depressão seria tomado para se referir a um afeto, estado ou sintoma. Esta constatação vai ao encontro da afirmação de Delouya (2001, p.19; 2002, p.22) de que a depressão, elevada à categoria de um quadro psicopatológico, nunca chegou a fincar seus pés no campo psicanalítico, e, principalmente na teoria freudiana. Ela surge apenas como corolário de alguns estágios da constituição psíquica. Quanto ao termo melancolia, Freud quase sempre o utilizava para se referir a um estado depressivo mais intenso, mais grave, no qual se acrescentavam diversos elementos. 
A palavra melancolia seria usada para definir um quadro com predomínio de afetos depressivos intensos. À vista do exposto, afirmamos haver uma diferença entre depressão e melancolia na teoria freudiana; porém, predominantemente no que se refere à descrição do quadro clínico. Melancolia é empregada para fazer referência a uma psicopatologia específica, bem demarcada, enquanto depressão é usada para descrever estados, afetos e sintomas de natureza penosa, envolvendo tristeza, desgosto, preocupação e inibição geral. Outros psicanalistas também se preocuparam em estudar e compreender os estados depressivos. Dentre muitos estudiosos da depressão, não podemos deixar de mencionar Abraham (1911, 1924), Rado (1928), Géro (1936), Klein (1935, 1940, 1946), Sharpe (1944), Fenichel (1946), Jacobson (1953, 1971), Bibring (1953) e Bowby (1969), Winnicott (1963, 1954) e Bleichmar (1983).
A visão psicanalítica, depois de Freud, estabeleceu uma distinção entre a melancolia e a depressão. Esta última seria um estado mais brando e que estaria presente nas neuroses de forma geral, podendo ser o foco principal ou não da patologia. Podemos ter um caso grave de neurose obsessiva, no qual a depressão permanecesse apenas como coadjuvante, ou assumisse o papel principal, quase mascarando os aspectos obsessivos. Já a melancolia seria uma forma aguda e acentuada de um estado depressivo presente nas psicoses (Peres, 2003). Constatamos, então, que alguns autores, depois de Freud, não seguiram sua definição de melancolia como uma neurose narcísica, e a incluíram entre as psicoses. Moreira (2002) dedica todo um capítulo sobre esta problemática, intitulado “A melancolia segundo Freud: um Narciso sem [des]culpa”, no qual afirma que tal questão permanece sem resposta.


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