INSTITUTO FREIDIANO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

PSICANÁLISE E O HOMEM MODERNO


          O mundo na atualidade se agita em torno de uma crise que ao olhar psicanalítico estão tomando contornos de uma angústia não apenas individual, mas também grupal ante ao caos que se anuncia. A felicidade e a angústia estão intimamente ligadas a fatores econômicos e agressivos de um grande mal estar, como já dizia Freud em seu artigo “O mal estar na civilização”.  A pós-modernidade, assim nomeada por alguns teóricos, é marcada pelo efêmero momento em que o “ser” se amarra ao “ter”, aos símbolos de poder, status e cidadania, construídos pelo prestígio social e pertencencimento a determinada classe. O mundo atual e real exige do indivíduo um esforço muito grande para viver ante às restrições impostas ao projeto de vida da grande maioria da população onde a distribuição de renda é uma das mais injustas. Como sobreviver à angústia de aniquilamento ante às frustrações, faltas, agressividade e crise de valores na sociedade brasileira.
           A psicanálise precisará problematizar sua prática e compor construções teóricas emprestando elementos de outras áreas das ciências humanas, para tratar o “homem moderno” em seu ambiente cultural e seus instituintes dessa cultura. A melhoria de vida se institui pelo modelo repressivo causador do adoecimento do sujeito que forma e é formado pelo meio onde atua e vive.
          Há muitas décadas a Psicanálise empresta sua leitura para pensar o homem a partir de sua cultura, levantando a discussão em relação a esta e desta com o homem. Segundo Bleger, a psicanálise pode ser considerada como fato científico, como acontecimento histórico-social, com ideologia em si mesma, ou como integrante de uma ideologia, validada pela terapêutica, pela investigação e pela teoria.
          Freud afirmava que “os sentimentos sociais repousam nas identificações com outras pessoas, na base de possuírem o mesmo ideal de ego”.  A psicanálise deve analisar o homem ante a crise inserido em sua cultura. O contexto histórico e social é crucial na para a formação do ego e seu enfrentamento com os problemas da atualidade.   O sujeito que sofre e se vê como “culpado”, “incompetente”, “desesperado” ou simplesmente doente, assustado procura o profissional da área “psi”, e tudo isso comporá o quadro em que o profissional da área atuará.    
       Na clínica encontramos sintomas de ansiedade, pânico e depressão correlacionados a desemprego, poder aquisitivo, impossibilidade de manter determinado padrão de educação e social para seus filhos, entre outros tantos. Quadros de adoecimento, como manifestações psicossomáticas afastam as possibilidades de recuperação e de representação desse sofrimento. Leituras simplistas ou que remetam a padrões infantis e individuais, ou essa leitura remeter a incapacidade de adaptação, são possíveis, porém com certeza não serão completas ou darão conta de integrar e de forma saudável ao mundo em que vive no momento, com diminuição da capacidade d contemplar suas necessidades primordiais.
           As características da pós-modernidade são as patologias que se instauram pelo desamparo, pela solidão e pela falta de referências simbólicas. Segundo Norberto Elias em O processo de civilização: “o individualismo é uma ilusão que custa ao sujeito o esquecimento (recalque) não só de sua filiação, mas de sua pertinência a uma ou a várias comunidades, mais ou menos abstratas, de ‘irmãos’ que sofrem como ele, lutam como ele, sentem-se desamparados como ele”.      
        O sujeito sozinho, desamparado e abandonado, facilmente pode cair na rede de seu psiquismo regida pela pulsão de morte. O empobrecimento nas relações afetivas conduzem a uma busca de compensações por meio de uma ganância por ganhos, por bens de consumo, por uso de drogas, por sexualidade promíscua entre outros. O sujeito contemporâneo é diferente do sujeito freudiano. Na atualidade as pessoas não lembram dos seus sonhos, não fazem lapsos e não fantasiam, enquanto o sujeito freudiano é uma pessoa que questiona o sentir, que sonha, buscam o olhar do outro como que para provar a própria existência.
       É dentro destes aspectos fantasmáticos, de mudanças nas expressões dos sintomas que precisamos refletir não só sobre as psicopatologias que afligem o ser humano que chega clínica, mas principalmente discutir a prática clínica que mais se adapta a cada sujeito portador de um sofrimento psíquico. A possibilidade de encontrar um espaço- tempo para “o cuidar do outro” se estreita cada vez mais, pois o cuidar, a atenção e o tempo devotado ao outro sofre restrições de toda a ordem nos dias atuais. Aquele cuidado que uma mãe suficientemente boa não pode dispensar ao seu bebê, o quanto ela possa ter sido menos disponível corresponde a uma maior exposição ao desamparo e à angústia de aniquilamento. Esse bebê que se percebeu fraco diante de suas necessidades não atendidas tende a viver estas faltas e frustrações pela vida com muita angústia e tende a um adoecimento, será o adulto que chega à clínica nestes tempos da pós-modernidade.        


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